novembro 12, 2015

A singularidade dói


Uma caminhada sozinha. Uma sala vazia. Uma cama de solteiro. A vida sem pares, a vida em uno. Eu. Um monólogo das dificuldades diárias. Uma auto retrato do caos. Um texto escrito com um único par de mãos. A carteira vazia ao lado. A caixa de entrada vazia. A campainha muda. A singularidade toma proporções absurdas, não há um aviso alertando-nos para determinados extremos. Simplesmente um dia, naquela manhã ruim, com uma tarde terrível e a noite catastrófica, a dor fica engolida na garganta. O desabafo é descrito em palavras sem destinatários. O caminho segue silencioso com o barulho de apenas um par de calçados e lágrimas silenciosas. 
E vem outro acontecimento. A alegria enche o peito com alguma conquista mínima, que deseja ser compartilhada, mas fica. Permanece presa entre os muros. Ninguém entra, eu não saio. A solidão toma proporções absurdas. A felicidade de antes logo se esvai, quem é que vai ouvir? Quem vai rir daquela história que inventei? Quem vai me acompanhar em meus caminhos? Mas a quem eu ouvi? De quem eu ri? Quem acompanhei por esses caminhos tortos de todo dia? O que deveria ser compartilhado torna-se mais um segredo guardado entre muros. 
São apenas trocas. Quando se cansa das pessoas, também cansam-se de você. Os muros aumentam. Os passos pesam. As músicas tornam-se altíssimas. As leituras vem em quilos. Porque é muito melhor desligar-se, mergulhar em universos alheios. Afinal a realidade é tão fria. A singularidade dói e o espelho se recusa a mostrar o resultado final. Há um medo enorme de ver o reflexo único e distorcido. Porque eu não quero ver. Não quero reconhecer os erros, as cicatrizes, os olhos inchados de noites solitárias. Não quero desligar a música, largar o livro, e encarar o maldito abismo de mim. 

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