março 13, 2015

Apelo ao respeito


Sempre ouvia e lia relatos de tantas outras mulheres que passaram por isso e sentia uma repugnância sem fim. Tentava imaginar o sentimento de impotência e nojo, a irritação por ter que viver em um mundo onde o respeito nunca existiu de fato. A simples "cantada" que vira insulto já é terrível, aqueles olhares que levam suas pernas, quadril e seios. E o que dizer daqueles ainda mais intragáveis que tocam você? A simples leitura desses casos me fazia doente. Mas hoje foi diferente. Hoje foi a minha vez. 
Enquanto voltava de uma loja, no período da tarde, com todo o comércio aberto e pessoas nas ruas, um indivíduo provavelmente bêbado se aproxima. Pensei que iria roubar meu celular, logo apertei a bolsa para mais perto, quando na verdade ele apenas quis gritar um "ô gostosa" enquanto passava a mão em mim. Confesso que teria me assustado menos e me enojado menos se tivesse tido minha bolsa roubada. Não, eu não gritei, não xinguei, não bati. É estranho como o medo e o nojo que você sente te impede de se mover. Ao mesmo tempo que congelava de susto crescia em mim uma raiva sem tamanho. Continuei meu caminho a passos lentos, respirando forte e tentando não chorar. 
Era mais ou menos duas horas da tarde, à luz do dia, com pessoas caminhando em um dos lugares mais movimentados da minha cidade e ainda assim ele não se conteve. Aonde foi parar toda essa gente que estava pelas ruas quando um cara qualquer resolve se aproveitar de uma mulher? O meu olhar de indignação não foi somente para o cara, que já estava longe quando me virei, mas sim para todos os outros que continuavam seus caminhos tranquilamente. "Mas isso é normal, vive acontecendo, já aconteceu comigo, com a fulana..." Não é normal. Não é comum. Por que o mundo resolveu aceitar todos estes fatos e torná-los corriqueiros? Ninguém tem o direito de tocar em você sem o seu consentimento. Ninguém deveria gritar vulgaridades para você enquanto caminha normalmente para casa, trabalho ou faculdade.
Já cantava Renato em uma das suas canções mais lindas: "A falta de esperança e o tormento de saber que nada é justo e pouco é certo, e que estamos destruindo o futuro. E que a maldade anda sempre aqui por perto. A violência e a injustiça que existe, contra todas as meninas e mulheres. Um mundo onde a verdade é o avesso, e a alegria não tem endereço." Quantas Clarisses ainda estão trancadas por medo? Ou correm pelas ruas apavoradas com qualquer aproximação? "Clarisse só tem 14 anos..." Pobre Clarisse, com apenas 14 anos soube tudo isso bem antes que muitas. E mais cedo que tantas outras. 
Até que ponto o mundo continuará de olhos fechados para os assédios diários que as mulheres enfrentam? 

Este foi o meu relato, e o meu apelo por mais respeito a todas as meninas e mulheres que sofrem todos os dias. 

Um comentário:

Elania Costa disse...

Queria eu, que eles experimentassem isso por um dia (porque um dia já é o suficiente pra não suportar) e ai sim entender tudo que nós somos e passamos.
beijos.