Perdida em meio a tantos pincéis,
tintas e aquarelas busco retocar alguns traços meus que acabaram perdendo a cor
durante o último ano. Devo confessar que sim, há cantos mais delineados e
também algumas pintas e marcas recentes espalhadas por essa pele branca. Não
que sejam feias e eu pretenda apagá-las, na verdade estou apenas tentando
redesenhar aquela linha mais firme que me guiava nos anos que se passaram. Eu
perdi o tal "fio da meada" que eles tanto dizem, perdi a rigidez
daqueles traços que marcavam até os papéis de apoio.
Estou assim, redesenhada à
grafite fino e de um cinza claro, como fumaça. Há traços quase que apagados,
emaranhados com uns tantos outros, perdendo-se de mim. Literalmente deixo-me
levar por terceiros, quartos e quintos e perco a origem. O traço firme que sai
do meu corpo vagueia pelos quatro cantos de uma folha até que se extingue na
próxima, onde não sou mais eu. Não que eu não queira mais folhas e pessoas e
traços em mim, não que eu pretenda apagar todos os terceiros e quintos e quartos,
independentemente da ordem que me apareçam, das minhas linhas. É apenas uma
questão de ser, eu preciso voltar a ser um tanto quanto minha. Desenhar a minha
linha sem precisar conectar a folha seguinte.
Tenho medo de que os traços
afinem ainda mais, que a cor clareie ainda mais, e eu que precise ainda mais de
alguém para me manter firme em meus traços, metas e vida. Não que eu não queira
alguém para alcançar as metas junto, viver a vida junto ou até mesmo
desenhar-se comigo, mas e eu? Em que rascunho deixei meus sonhos solitários e
anônimos? Em quais borrões se esconderam os meus pensamentos mais
individualmente meus? Qual borracha apagou minha fome de ser inteiramente
minha?
Acho muito bonito a curvinha que
se fez ali na minha bochecha, como se eu estivesse sorrindo que nem boba 24
horas por dia, ou até mesmo a curva mais acentuada da minha mão encontrando-se
com outros traços mais escuros. Mas eu também sinto falta daquele olhar mais
marcado, da linha forte embaixo dos olhos e daquele brilho opaco dos olhos.
Isso, nesse paradoxo mesmo. Um brilho que não brilha, um sorriso que não sorri,
um coração que só bate. O paradoxo existe em mim, que enquanto reforço certos
traços, a outra mão vem e apaga tornando-o ainda mais dependente dos que vieram
e ficaram. E ficarão. E eu, ficarei?
Tá foda.
3 comentários:
Lara, a sua escrita esta cada vez mais bonita e madura.
Parabéns!
Parabéns... Muito bom!
Parabéns... Muito bom!
Postar um comentário