agosto 13, 2013

Homewrecker


Home wrecker, pessoa que destrói lares.*

Não que eu goste de tal termo, mas o fato é que agora ele está cada vez mais presente. As pessoas já me denominam assim sem que eu ao menos tenha feito qualquer coisa. Ou será que é esse o motivo? Será que exatamente por não fazer muito é que acabo sendo assim? Não sei se valem as minhas desculpas, e nem sei porque elas vieram na cabeça, tudo irá se repetir querendo ou não. Sabe quando dizem aquele clichê: "não é você, sou eu"? Pois então, realmente sou eu. Porque se fosse você não teria acontecido o mesmo com ele e nem com aquele outro. Se fosse você a coisa toda já teria acabado meses atrás, mas tudo só se repete e eu ainda não aprendi a lidar. Nunca soube, lembra? Ou melhor, lembram-se? E esse texto não é mais um blá blá blá falando da saudade de alguém, ou da escrita doída, ou de qualquer coisa de sempre, esse texto é pra falar de você. Vocês. Falar do vocês depois de mim. Falar da bagunça que a casa de vocês se tornou depois da minha estadia. O quadro ainda tá quebrado, o sofá ficou fora de lugar e continua, a mesa da cozinha ainda apresenta farelos das nossas refeições. Eu ainda existo querendo ou não. Não foi a minha intenção ficar por tanto tempo, ou por tão pouco tempo, na verdade minha intenção nunca foi ficar. E vocês sabem, e é isso que dói o quadro quebrado que não fora consertado pois te lembra daquela noite.
Não é presunção minha, não estou aqui me vangloriando de nenhum ato. O fato de flores ainda te darem alergia não me alegra, mesmo que eu tenha rido inúmeras vezes de tal. O fato de gatos te fazerem chorar também não me faz sorrir, na verdade fico meio triste até. Não se desmanche tanto assim em lágrimas menino, Frejat já dizia que homem não chora. E seus livros talvez tragam palavras minhas que você não vai querer reler nunca mais. E toda sua prévia vida de leitor se acaba aqui. Tudo se acaba no nosso fim. Só porque eu, a destruidora de lares, não soube cuidar da casa de vocês. Enquanto as meninas comuns faziam cursos e estágios dessa matéria, me preocupava com fórmulas químicas e termos científicos, porque ainda esperava ser uma biomédica, médica, ou que seja. E hoje, enquanto algumas já atuam na profissão, cá estou eu procurando minhas letras e verbos e sentenças semânticas. Não deu tempo de fazer algum curso preparatório rápido de poucas semanas, o tempo sempre foi curto demais e a minha vontade de atuar nessa área também é pequena. Não sei ser de ninguém. Não sei cuidar de casa, só sei cozinhar cookies e talvez isso te agrade assim, numa noite fria, mas no futuro vai querer uma mulher que te cozinhe arroz e feijão. E meu amigo, se depender de mim para lavar suas cuecas, que você contrate então uma amante.
Visitei poucos lares, mas esses tão organizados, tão extremamente meus que me deixaram claustrofóbica. Cada dia a casa ficava menor, no começo eram quatro cômodos, depois três, aí dois, e por fim acabava presa num quarto tão pequenininho que respirar ficava difícil. A desordem se alastrava pelos corredores impedindo que qualquer um passasse, nem mesmo eu, com toda a minha facilidade de ir e vir, acabava sempre no mesmo lugar rodeada pela minha bagunça. Era minha mesmo sendo sua, porque nada mais tinha seu rosto, seu gosto, sua cor. Tudo agora tinha o teu rosto e o meu, seu gosto misturado com o sabor da minha boca, a sua cor colorida junto com o meu preto de sempre. E você sempre foi tão amarelo, verde, azul... Agora virou preto, só porque o meu preto se expandiu e invadiu e misturou e ficou. Mas eu não fiquei. E ainda vejo certos cantos mal pintados da sua nova parede, tem partes pretas que devem irritar essa menininha rosa que te abraça hoje. E aí, qual é a sensação dessa nova vida? É diferente ter alguém "normal" não é? Abraços nunca foram meu forte, cês sabem. Nem beijos. Nem demonstrações de carinho, enfim. Sim, querido, o próximo que se ilude nessas linhas, não me veja como uma doce menina romântica. Romantismo não tem nada a ver comigo.
Não há seguro contra as destruidoras de lares, antes que venham querendo exigir seus direitos pós-mim. Talvez haja um texto ou outro relembrando algum momento bom que tivemos, aquela tarde chuvosa no parque, o beijo que não era pra acontecer, o sorvete e as piadas internas. Tirando isso, meus amigos, melhor fazer como a maioria. Arranja uma menininha que te conserte. Daquelas que dizem "amor" o tempo inteiro e saibam lidar com as crises internas, pois isso também não sei. Não sei falar "amor" em voz alta. Não sei proferir aquela sentença de três palavras que os casais dizem. Não sei cuidar das suas feridas de dentro. Porque no fundo talvez eu nunca tenha aprendido o que é o amor, o que as três sentenças valem, ou a curar as minhas próprias feridas. Mas não se iluda, não tô querendo aprender. Me ensina primeiro aquele conteúdo difícil da prova que vai chegar, substantivo nem é tão simples quanto pensa, nele cabe muito mais do que tem na dispensa. O trocadilho foi péssimo, eu sei. Era só pra descontrair todo esse meu veredicto final. Eu sei que a prisão é perpétua, que a cela vai ser sempre solitária porque não há quem aguente lidar. Não há como lidar com quem revira suas gavetas e risca suas paredes com seu nome para no dia seguinte partir sem pressa e com um sorriso no rosto te acenar na rua. E eu vou acenar, vou até perguntar como está, e eu estarei bem. Sempre estarei para vocês, muito bem, feliz, e sorridente. Não que seja sempre verdade, mas ninguém precisa saber. Nem ao menos eu. Porque eu também tenho meu lar desarrumado de todos que passaram, querendo ou não minha parede já está meio colorida, o preto desbotando e talvez brote uma cor. Qual cor? Não sei, tô pensando em passar a segunda mão só pra me fortalecer.

Mas esse é só mais um texto amargurado de uma tarde qualquer, talvez nem seja pra você, nem seja eu. 

4 comentários:

Unknown disse...

Acho que o problema nem sempre é você ou ele. Às vezes o problema são as duas pessoas. Às vezes não era pra acontecer. Achei esse texto muito lindo, parabéns!

http://carinafpc.blogspot.com.br/

Raíssa França disse...

Pode ter certeza que o problema não é você, só que de vez em quando não é pra ser. :/ Lindo texto!

Gabriela Ti disse...

Que lindo o txt!! Adorei (: dezemaispoucos.blogspot.com.br

Vih disse...

oi (:
a Cecília me disse pra passar aqui, avisou que você escrevia muito bem. Não é que ela tinha razão? haha parabéns pelo texto e pelo blog, é tudo muito bonito...
beijos rimados pra você!