agosto 25, 2013

Te escrevo


Under a trillion stars, we danced on top of cars.*

O frio voltou e o dia se tornou ainda mais teu. Essa minha obsessão por te colocar em palavras está se tornando doença, já não me vejo em outro lugar a não ser aqui, juntando essas letras desconexas até formar teu nome que se esconde entre linhas. E por que não? E por que sim? Porque sim, e porque não. Porque não dá, não posso ficar assim nessas tardes monótonas a escolher palavras distantes ao invés de pessoas presentes. Por que nunca aceitar o presente? E porque sim, porque você precisa ser colocado em palavras a todo instante, você merece viver entre minhas linhas e parágrafos e textos e dias e meses e anos e vida. Você precisa. Eu preciso. De quem? Não sei, de você talvez. De um possível nós. Ou da minha parte que tá contigo e anda fazendo falta. Tanta coisa anda fazendo falta... Onde foi que me perdi? A minha vida se misturou nessas tantas palavras estrangeiras que me rodeiam. Mas tem umas palavras tão lindas que chegam e riem e sorriem e me fazem esquecer que tem um mundo lá fora que me grita com pressa. E se eu não quiser ir? E se eu perder o trem?
Os gritos se tornam mais ásperos dependendo do dia, dá vontade até de desistir nesses. Pegar o trem errado e parar não sei onde, mas não naquele ponto de sempre. As vozes em alto falante falam e falam e falam mas não dizem nada. Tantas palavras ditas sem uma razão e fundamento e tantas não ditas que acabam entaladas e machucando e encurralando todo um choro que anda querendo sair. Mas não posso chorar. Não dá tempo, agora tem aula e daqui a pouco tem outra. Ninguém precisa saber que aquela piada não teve graça e ainda martela na minha cabeça, que o comentário da semana passada doeu e cogitei mesmo uma loucura. Já cantam por aí: são coisas minhas, você nem precisa saber. Era mais ou menos assim, não era? Se não for, que seja. Ninguém precisa saber dessas minhas neuras e alucinações. Ninguém precisa entender que dentro de mim ainda tem alguém que não aprendeu a se olhar no espelho e sorrir, porque não enxerga muitos motivos pra isso. E quem desconfia quando me vê assim, sorrindo, entre uma correria e outra? Tudo fica tão bem aqui, guardado, que tem vezes que até mesmo eu acredito. 
Mas nem sempre. Os meus monólogos nem sempre são só cansaço, talvez esteja aí uma pista de que as coisas aqui de dentro estejam querendo submergir mais uma vez. Entretanto é sempre a noite que tudo chega e se torna pesado. O fardo que carrego dentro de mim só sai por escrito e assinado por mim que me denomino transportadora de dores secretas. Ninguém precisa saber que escrever é um ritual masoquista que pratico sempre que o fardo pesa muito. Porque arrancar cada dor é como arrancar a casca da ferida ainda não cicatrizada, e dói e arde e sangra. Não tem beijo que cure essas feridas de dentro. Não tem band-aid para almas frágeis. Não tem gesso para esperanças quebradas. Mas tem as palavras. Ah, tão belas e cruéis. Me deixam assim, nua. Estou como que numa exposição, minhas dores secretas deixam de ser minhas e passam a fazer parte de todos que agora me leem. Você tá me decifrando e nem sabe. Você tem todas as pistas jogadas entre linhas e continua cego. Junte a palavra de cima com a que termina a frase, analisa melhor o primeiro parágrafo, me ouve aqui gritando teu nome mais uma vez. O alto falante tá quebrado, mas as palavras vibram para te chamar. Você vem? 
E no meio desses tantos chamados desesperados eu me coloco e exponho um pouco das minhas frustrações diárias. Porque escrever é isso mesmo, quando a gente vê já tá colocando nome, endereço e telefone sem número e nome algum. E precisa? Você prefere que eu coloque aqui que esse foi outro pra você e que as minhas dores só doeram pela sua ausência nesse mês? Ou está tudo bem, você já consegue se ver mesmo que não haja realmente você? Mas tem, menino, sempre tem. Te coloco em tantos lugares só porque não te vejo mais em lugar nenhum. Te escrevo em tantos textos só porque nunca mais me vi nas tuas palavras. Te desenho na pele porque nunca mais me vi nos teus rabiscos. Te amo assim, só porque talvez não me ames mais. Amar. Que verbo insuportável. Não amo, me desculpe, desconsidere. Te escrevo. Te escrevo é melhor que te amo. Te escrevo é mais forte e dura muito mais que o amor. Te escrevo nas minhas memórias, porque uma menina boba uma vez disse que memórias nunca morrem, ainda mais as escritas. E portanto não morras, não fujas, não sumas. Vivas eternamente em mim. 

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2 comentários:

A.C. disse...

às vezes é assim mesmo... a gente quando ta confuso por dentro, faz confusão com as palavras... (:

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Rafael Lima disse...

Confusão?!. Claro. Mas nada que uma arregalada de olhos não resolva.
Tanto pra nós quanto pra... (: