julho 06, 2013

Mar de palavras


As palavras fugiram de mim, se esconderam em meio a textos de regras gramaticais e outras perderam-se nos meus passos rápidos durante a semana. Algumas até pularam da janela do ônibus, ficaram sentadas nas carteiras da faculdade, se esconderam nos meus lençóis, ou foram derramadas pelos meus olhos. Palavras, estavam tão longes, e hoje estão tão perto que até transborda. E escorre pelos olhos. Por serem tantas, a fila desanda, umas ultrapassam outras por se sentirem maiores. Aquelas que falam dos acontecimentos recentes querem espaço, e as que me confortam gritam para que continuem esperando. Espera mais um pouco, um parágrafo que seja, ainda é difícil de lidar. Sempre foi difícil de lidar. Eu nunca soube lidar. Não soubemos lidar. 
Porém, entretanto, todavia, elas continuam indo e vindo. Contorcem-se entre as vias respiratórias deixando minha respiração ofegante, o ar já não consegue entrar com facilidade e suspiro fundo para que tudo se acalme. Mas a calma não vem. Ninguém vem. As palavras querem tanto vir, mas por tanto quererem, acabam ficando presas. E eu fico sozinha, mais uma vez. Tem várias gritando nos meus olhos, trazendo um brilho molhado de lágrimas, talvez só queiram escorrer pelos olhos mais uma vez. Mais uma vez entre tantas. Para dizer o que? Já me basta os rastros nas bochechas dos seus passos, a marca da caminhada no coração, as pegadas no gramado de casa, suas trilhas em mim. E bastou. A gente se bastou. O tempo acabou. Talvez ele tenha tido mesmo a inveja que aquela música canta. O tempo me roubou as palavras, mas também me roubou nós. 
Contudo, estamos aqui. Vivos. A respiração prejudicada ainda traz ar para os pulmões, o coração mesmo espancado ainda bate e defende-se com punhos frágeis, as pernas bambas bamboleiam um caminho torto, mas estamos seguindo. Talvez eu para o norte e você aqui para o sul, mas continuando. Porque não existe hospitais para a alma, ela se costura com o tempo. Maldito tempo. Costure minha alma ligeiro. Bendito tempo. Maldito. Tempo, tempo, o grande vilão e herói. O rei do paradoxo. O senhor das antíteses. Meu amigo e inimigo, o que quero por perto e ao mesmo tempo peço que voe e me leve em suas asas. Vamos, acelere, me leve para qualquer lugar, só não me deixe parada nesse presente inexistente. Presente que não traz presente nenhum, só me tira alguns. O presente pede presentes e os rouba da gente, primeiro em pequenas coisas, e depois num golpe só te deixa de mãos soltas. Mãos que se encaixavam hoje continuam sós, pés que se aqueciam hoje continuam gélidos. Presentes que antes sorriam, hoje derramam palavras pelos olhos. 
Há palavras com sentidos diversos tentando sair pelos meus braços ao mesmo tempo, e já não sei qual deixar falar. Há o caminho da esquerda que está sofrendo, uma dor tão grande e triste que dói em mim. Mas tem a direita, que também chora agora e já chorou antes, e me faz chorar tanto. E todos choram e querem falar. Mas quem falará sou eu. Eu, que jamais tive o meu tempo de chorar. O meu tempo de gritar que também tem um ser meu aqui, uma parte só minha que talvez não queira nunca mais se juntar a sílabas de nenhuma outra palavra. Deixe meus afixos prefixos e sufixos solitários e sem sentidos só comigo, residindo no meu vocabulário ralo. Está tudo bem, minhas palavras repetidas ainda conseguem formular várias frases sozinhas. Eu consigo. Deixa que no futuro talvez eu busque mais radicais em algum dos caminhos, mas por enquanto fico com meu texto de sempre e minhas palavras flutuantes no meu mar de lágrimas. 
Fica tranquilo, eu sei nadar.


Mas a gente sempre acaba se afogando entre uma onda e outra mais forte. Talvez ainda esteja cuspindo água salgada pelos olhos, mas logo passa. 

3 comentários:

Roberta disse...

sensacional esse texto Lara!

'theQueenBeth disse...

- E-X-P-E-T-A-C-U-L-A-R !

'theQueenBeth disse...

- E X P E T A C U L A R !