fevereiro 09, 2013

Muralha de papel



Nunca quis amar, joguei o amor ás traças na primeira chance que tive e agora estou aqui lutando para que as palavras não se tornem melosas demais, que o clichê não me faça perder os poucos que leem e que o coração continue com essa muralha de sulfite que mantenho erguida. Mas os ventos andam fortes demais, a muralha pesa para o chão. Entre uma ventania e outra alguém me invade, e toca o coração com as mãos mais doces que outrora já viera. E canta com palavras doces, e beija com lábios calmos, e me ama com o coração sem muralha. Um coração que pede para ser meu. Mas a minha muralha ainda resiste, deixa que experimentem sem jamais alojar-se. Ao cair da noite todos tem de partir, mesmo que o protegido grite para que fiquem e chore de saudades madrugada á dentro. Com o tempo já se acostumara com partidas repentinas, o que não significa que não doa, só não chora mais. Não sempre. Apenas escreve seus nomes em vermelho na muralha branquíssima que o cerca, para que nunca os esqueça. 
Os ventos se tornaram mais frequentes, há alguém mais forte querendo entrar. Talvez o fino sulfite dessa vez não aguente, a cada dobra fica mais difícil se reerguer. O protegido torce para que finalmente alguém consiga vencer, que não haja mais nomes escritos e sim pessoas presentes. Nada de partidas ao anoitecer e noites de saudade, mas sim vida cheia e ausências de meia hora. O vento traz um nome, o nome que batia de leve nos pés da muralha de início e hoje transformou-se em tempestade. Há lágrimas, nunca houvera antes, lágrimas de alguém que chora para que consiga adentrar na minha pequena proteção falsa. Alguém que pede meu amor e luta pelo protegido que nada mais é que uma criança apavorada. E seu maior medo é amar. 
As lágrimas molharam meu sulfite, há espaços se desfazendo e já tomados pelo vento. Tem nomes sendo apagados, pessoas que já me esqueço, mas o vento jamais se vai. Ele fica noite e dia ali, tentando e tentando conquistar cada milha a mais. E conquista. A cada dia se mostra mais valente e desfaz minhas muralhas em pedaços. Mas o protegido agora tem medo, sempre quisera sentir o vento nas noites solitárias, mas e se ele o levar para longe? E se o vento quiser mais dele do que ele possa dar? E se o amor não for assim tão bonito quanto nas histórias? Uma vez ou outra deixara-se levar pelo abraço gentil e viu-se a noite sofrendo de saudade. Foram só alguns minutos de ausência e a falta lhe doera como dias. 
Hoje a muralha está pela metade, o vento já levara metade do meu coração. Quero que o vento me leve, mas também preciso da minha falsa proteção. O amor bate á porta e talvez amanhã eu abra. Mesmo a muralha gritando para que eu fuja e me esquive mais uma vez, amanhã pode ser o fim de todo esse tormento. Mas a tempestade é forte e eu nunca fui muito corajosa. Dá medo de mergulhar de cabeça sem uma proteção. Onde foram parar as boias? A minha muralha já não aguenta mais. Eu também não. O coração pede amor, o vento traz amor, mas o medo causa dor. E se machucar de novo? Construir uma muralha nunca foi fácil, leva anos para que ela fique forte e a minha era de papel ainda. Talvez jamais haja outra. As metades do meu sulfite estão lotadas com o nome do vento, a saudade vem toda noite trazendo teu nome. 

Dentro da muralha sempre há alguém que espera uma visita. 

3 comentários:

Ariana Coimbra disse...

Se a sua muralha era de papel a minha era de algodão, sei lá!
Difícil demais essas coisas.
Tô sem saber o que dizer, quando eu postar meu novo texto tu vais saber o motivo.
Mas ficou muito lindo, daqueles que a gente lê e sente.
Meus preferidos.

Beijos

Unknown disse...

Sabe, Lara, sempre sinto que sou uma muralha de alguém ou até de mim mesmo. Tudo isso que você descreveu é tão único, mas mexeu comigo. Texto perfeito para um coração tão tristinho como o meu.

Beijos,
http://eppifania.blogspot.com.br

Unknown disse...

Ammmei o blogger e principalmente o post.


lagrimasdeumgaroto.blogspot.com.br/