outubro 01, 2012

Sonhos de uma tarde



Em meio a uma leitura qualquer, acabei me deixando levar por pensamentos bobos. Mas de tão bobo, acabei derrubando o livro e fechando os olhos para ver se eu sentia teu perfume. Não consegui. Mas ainda assim o sonho, ali, naquela tarde, foi lindo.
Sentada no sofá, assistindo coisas banais na tv, senti sua falta. Então levantei, vestindo uma camiseta enorme com um coque bagunçado, e fui até a cozinha onde você estava sentado lendo alguma coisa importante. Parei na porta te olhando, você estava concentrado, não me viu aproximar, e eu continuei ali, só te observando. Seus dedos brincavam com os cantos das folhas, até que uma hora, parecendo cansado da leitura, ficou olhando fixamente para a porta da geladeira. Exatamente para o desenho que eu fizera a alguns meses atrás, querendo te mostrar como eu também sabia muito bem desenhar bonecos de palitinhos charmosos. Eram dois, uma menininha com um laço no cabelo, um menino usando uma touca de mãos dadas e um coração torto no meio dos dois. Lembro que falei: "Isso é tão prézinho, mas ficou bonito, vai dizer? Eu realmente acho que levo jeito." e você tomou o desenho das minhas mãos rindo, colou ele na geladeira e depois me abraçou tão forte, tão forte... Então você sorriu olhando aquele desenho mal feito colado na geladeira.
Cheguei atrás de você, com cuidado para que não me visse, e sussurrei: "isso é tão prézinho.." você riu e completou: "mas eu realmente acho levo jeito" usando as mesmas palavras que usei no dia do desenho. Podia muito bem ficar ali, olhando aquele desenho abraçada com você por várias horas que nada iria me faltar, na verdade, talvez eu ficasse ali dias só com você que aquilo já me bastasse. Era um desenho tão feio, uma coisa tão boba, mas fazia a gente rir e repetir a minha frase sempre que via algo relacionado. Ficamos ali, uns longos minutos, admirando a gente. Então você se levantou, continuei sentada na cadeira que você estava, mas sua mão se estendeu como se me convidasse para uma dança. Olhei sem entender a sua mão ali, esticada, mas a segurei e você me puxou. Me levantei e quando vi estávamos dançando lentamente, sem música nenhuma, no meio da cozinha. Mas eu não sei dançar. Você deixou que eu colocasse meus pés sobre os seus e guiou toda aquela dança, cantando bem baixinho no meu ouvido uma melodia qualquer. Talvez aquela tivesse se tornado minha nova música favorita, mesmo sendo inexistente e você não sabendo manter um ritmo certo. E talvez, aquele tivesse sido meu momento favorito.
Ali, sonhando na cadeira, quase pude ouvir você no meu ouvido. Quase consegui sentir suas mãos na minha cintura me embalando naquele apartamento que eu não sei onde é, naquela cozinha que eu não sei se será nossa, rindo daquele desenho que eu nem sei se será meu. Abri os olhos e o vento fresco da tarde já gelava, mesmo tendo um sol forte, o dia se tornara frio. A casa tão quietinha, a cozinha tão vazia, tão sozinha. Peguei o livro, tentei ler, mas aí eu lembrava do teu rosto no meu sonho lendo aquele livro chato e brincando com as páginas, lembrava do desenho da geladeira, da sua voz, lembrava de você e sentia uma saudade tão grande de te ter por perto.

Que outubro tenha a doçura de um sonho acordado. Que eu te veja ainda, mesmo de olhos fechados, e te sinta, mesmo com os quilômetros dobrados. 

5 comentários:

Jéssica disse...

Lindíssimo. Parabéns. Sem mais

Jeniffer Alves disse...

Adorei o texto... Perfeito.

AquilesMarchel disse...

muito doce
sonhador

cena improvavel
mas bem escrito

Jeniffer Yara disse...

Me vi tanto em seu texto, quer dizer, na parte em que ela idealiza tudo, tirando as saudades, por que não se pode ter saudade do que nunca tivemos, ou pode?! Hm. rs

Beijos ><

Spiderwebs disse...

Muito lindo , arrasou na modalidade descritiva, parece que arrancaram a página daqueles romances e colaram aqui. Amei sua narrativa e o blog, já estou seguindo.

Beijão, Sabrina. (www.spiderwebs.com.br) ♥