setembro 25, 2012

Fim de um dia de julho



Quando a morte bate na porta a gente percebe o quanto a vida é algo passageiro. É só um passeio, quando menos se espera o sinal abre e a gente acha que pode seguir mas acaba sendo atingido. Fim. Uma vida, uma luta, e tudo se acaba num dia bonito de julho. Qual era a nota vermelha mesmo? Quantos eram os quilos que você cisma em perder? Qual é o seu amor ridículo de adolescente que tanto te aflige? É tanta futilidade. Pensa na vida, só um pouquinho, pensa que talvez amanhã você pode não mais precisar perder peso, nem fazer provas, nem escolher o amor, nem mesmo viver. É tudo tão rápido, as pessoas que fazem parte do teu cotidiano aparecem, e, sem mais nem menos, se vão. Aí fica aquela dúvida, a pergunta que não cala "mas era a hora?". E existe hora?
Como diz naquela música do Ira: "mas essa vida é passageira, chorar eu sei que é besteira, mas meu amigo, não dá pra segurar". Não dá. A gente tenta, faz aquela cara de forte, respira fundo e olha pro céu como quem pede abrigo e força, muita força. Não deixa lágrima nenhuma cair, talvez uma ou outra quando lembra de uma conversa que teve ontem com ela, mas não deixa toda a dor presa na garganta gritar. Tem outras horas que a gente simplesmente vai para o outro cômodo da casa e parece sentir ali, a presença de quem acabou de ir. E talvez ela realmente esteja ali, com você, porque era onde ela estaria. Dá um aperto. Tudo não parece passar de um pesadelo, que eu vou acordar de manhãzinha e contar pra ela rindo do sonho doido que tive. 
Então vem as memórias, tão boas e tão ruins ao mesmo tempo. A lembrança de ontem, dela pela casa, a hora dela ir embora reclamando da dor na perna. Eu lembro que pensei comigo quietinha que queria que a sua perna parasse de doer. Hoje eu ia até comentar da perna, mas não tive tempo. Acho que essas coisas tinham que ter um aviso prévio, pra gente poder curtir ao máximo e dizer tudo que tinha pra dizer antes que não tivesse mais chance. Abraçar, tirar fotografias e gravar ela em todos os momentos mais corriqueiros da vida pra guardar na memória pra sempre sem esquecer cada detalhe daquela voz calma que tanto nos acalmou, em cada conselho, em cada ajuda e, simplesmente, em cada momento que esteve ali, quando a gente pensava que não tinha ninguém. 
Onde ela tá agora? Tá aqui do meu lado me vendo chorar tentando escrever essas palavras banais? Tá indo ali na cozinha ou almoçando na mesa de fora? Tá lá dando um último adeus pra filha? Tá vendo seu filho ali no carro com as mãos trêmulas? Eu queria que estivesse aqui. Só mais um pouquinho. Então eu olho pro céu, e eu acho que é lá que ela está. É lá que ela deve ficar, pois se é como dizem, se só pessoas boas vão para lá, ela já tinha seu lugar garantido há muito tempo. Um adeus não falado, um abraço não dado, um obrigada sempre guardado. Ah, e uma saudade grande já acumulada. 
Foi mãe, amiga, filha, irmã, tia, neta, professora, aluna, foi um anjo. 

Essa noite te vi em meus sonhos. Quis pesquisar sobre isso e acho que foi só uma forma da gente dizer adeus de verdade. Espero que, aonde quer que esteja, esteja bem. Um grande beijo. 

2 comentários:

Milena Lobo disse...

os textos ficam ainda mais lindos com sentimentos que vem do fundinho coração, você tem razão agente se esquece do que importa, de quem importa. Acho que é porque tudo o que mais importante tá sempre perto, mesmo depois de partir.
Beijo Lara

Ariana Coimbra disse...

Nossa flor, não sei se é porque hoje eu já estou emotiva por outros motivos esse texto me fez chorar, me lembrei da minha avó, e ela faleceu eu tinha apenas cinco anos mas lembro dela demais sabe ,imagino ela comigo nos momentos importantes etc.
Faz muita falta!
Texto incrível flor!

Beijos