julho 25, 2012

Conto: "Na Biblioteca"


Ela chegou mais cedo, entrou rapidamente na biblioteca e pôs-se a devanear admirando as extensas prateleiras lotadas de livros. Após alguns longs minutos de difícil escolha, tira um livro antigo, que vivia escondido, sozinho, no fim da última prateleira da esquerda. Era velho, suas páginas eram amareladas e exalava aquele cheiro próprio e livros assim. Ela parecia gostar, pois ouvi seu suspiro e a vi passando as mãos pequeninas por entre as páginas. 
Sentou-se numa mesa extensa, antes de começar a ler deu uma olhada demora para a porta. Parecia esperar alguém. Entretida com a leitura, não viu o menino de touca engraçada aproximar-se. Ele, mesmo segurando vários livros e cadernos, parou da na porta e observou-a rir enquanto lia, foi um sorriso na verdade, mas eu o entendo. Quando alguém sorri enquanto lê, é realmente lindo. É quase como se o livro tivesse sendo vivido pela gente, realmente, realmente, lindo. E o menino parece mesmo que gostou, pois também sorria ao olhá-la folhear cada página daquele livro amarelado. Contei quase cinco minutos e ele continuou ali, absorto na menina.
Por fim, foi. Chegou de mansinho e sussurrou-lhe um "oi" no ouvido, na qual fez a garota se arrepiar e rir baixinho. Ela o olhou por segundos rápidos, mas longos, como se admirasse cada pequena curva dos cachos de seus cabelos. Sem dizer mais uma palavra ele sentou ao seu lado e começou a escrever em um de seus muitos cadernos. Ambos continuaram quietos por algum tempo, só de vez em quando ela se esquecia da leitura e perdia os olhos nele, que quando percebia, olhava-a também, mas ela desviava rápido e tentava voltar ao parágrafo que parara. Pela quinta vez. 
Então, sem mais nem menos, o garoto desistiu da escrita e começou a olhá-la fixamente sem se importar caso ela percebesse. O que não demorou muito para acontecer. Ela sorriu sem jeito e fez um sinal para os seus cadernos, como quem perguntasse o motivo da pausa repentina. Ele simplesmente sacudiu os ombros e puxou a cadeira dela para mais perto, os braços de um roçando nos braços do outro, as mãos próximas em cima da mesa. Ela, sem entender nada, para de ler e o encara, pedindo uma explicação.  Ele traz o livro o livro dela no meio dos dois e começa a ler, depois a olha - as bocas próximas, olhos nos olhos, respiração um tanto ofegante, coração querendo saltar na garganta - e a convida para lerem juntos.
A página acabou. Ela foi virá-la e teve as mãos presas pelas dele. Foi rápido, inesperado, parecia eu conseguir sentir toda aquela emoção do momento. Ambos olhavam para as mãos ali juntas em cima do livro, os corações ali pertinhos e os olhos agora se encontrando devagarinho, cada um analisando cada detalhe do pescoço, do queixo, da boca, e finalmente, encontrando seu reflexo dentro dos olhos do outro. As mãos ainda presas, os rostos querendo prender-se também, indo lentamente um na direção do outro. Um beijo.
Eu, na platéia, que assistia a tudo da mesa ao lado, tive que me conter para não pedir-lhes "bis". É só uma biblioteca, é só mais um casal, mas aqui também é só mais uma pseudo escritora que de vez em quando deixa a literatura de lado e busca inspiração nos romances de hoje em dia. Atrasei-me nos livros, eu sei, mas essa tarde rendeu-me mais que cem páginas, pois nela eu escrevi o amor. 

Eu realmente estava na biblioteca hoje a tarde, e isso (quase) aconteceu. 

Feliz dia do escritor á todos que também usam as palavras como melhor amiga! 

Ps: Criei um Skoob gente, quem tiver e quiser me adicionar fique á vontade. Ainda tô aprendendo a usar, hehe. 

2 comentários:

Milena Lobo disse...

É tão lindo o jeito que vc escreve, tão real, tão 'palpável" kkkk Sou sua fan Lara! kkk
Lindo conto, continue observando e escrevendo que eu continuo lendo!
Beijos!

Ariana Coimbra disse...

"Quando alguém sorri enquanto lê, é realmente lindo. É quase como se o livro tivesse sendo vivido pela gente, realmente, realmente, lindo."

E é exatamente assim que acontece, incrível como você consegue descrever exatamente como a gente sente.
Seu conto ficou perfeito, maravilhoso, imaginei cada cena.
Tu vai longe mocinha, tens talento!

Beijos