junho 06, 2012

Amor direito


Eu vejo o filme da nossa história divido em dois, de um lado tá o antes e outro o depois. A gente naquela mesma festa, sorrindo para uns e outros, e no fim sorrindo pra gente. E do outro lado, os dois numa festa, olhando pra uns e outros, e depois olhando pra gente. Sem sorrir. Depois aparece você se aproximando, eu sorrindo que nem boba e fingindo não perceber. Você com aquele seu suéter vermelho que eu achei um charme e hoje odeio tanto, e eu com aquele vestido de bolinhas me sentindo vintage mas na verdade parecendo uma velhinha. Então naquele dia surgiu um nós, e do outro lado, terminava um. Que irônico, continua com o mesmo suéter, como que para me irritar, e eu continuo com minhas roupas de bolinhas. Acho que enfim, não acabou porque mudamos. Somos os mesmos.
O lado direito, o começo, mostra o primeiro encontro. Tão catastroficamente bonito. Sucos derramados, risadas estridentes por puro nervosismo, cabelo bagunçado devido ao vento, e até calça manchada de algum molho. Foi tudo tão ridiculamente fofo. Não acha? No esquerdo está um silêncio frio, nenhum parece ter fome, os pratos intocáveis e as roupas perfeitas. Nem um sorriso. Nem uma palavra. Somos os mesmos de alguns anos atrás? E as risadas? E as minhas trapalhadas? Cadê as suas tentativas de piadas? Você tenta segurar a minha mão, mas eu, no impulso, desvio. Olho nos seus olhos, não, não estou prestes a chorar como tantas outras vezes, na verdade meus olhos parecem não te ver. Um olhar tão cheio de tristeza, chega ser difícil não prever o fim.
Começo a rir quando vejo, á direita, nossa ida a praia. Eu tremendo de frio, e um tanto envergonhada com meu biquíni vermelho, você com uma bermuda azul-marinho me puxando para o mar. Ainda posso sentir o cheio do mar, os ventos fortes bagunçando todo meu cabelo e você rindo da minha inútil tentativa de fixar o guarda-sol enquanto esse era levado pelo vento junto com meu chapéu. Mas aí você vinha do meu lado e me ajudava a fixar tudo. Segurava o chapéu na minha cabeça, deixava o guarda-sol firme na areia. E eu presa em seus braços. Já á esquerda tem a gente num campo, não consigo lembrar do frescor das árvores, muito menos da água gelada do riacho, apenas lembro do chão gélido do banheiro em que chorei a noite inteira. Chorei por mim. Consigo ler meus lábios dizendo nessa tela: "o que é que estou fazendo?". Foi uma boa pergunta.
Ambos lados estão tristes, á direita estou indo para minha primeira viagem. A gente abraçadinho no aeroporto, eu brincando com você dizendo que 3 semanas passam logo e que você nem iria sentir. E você com os olhos vermelhos, fingindo ser forte, enquanto concordava e dizia que seria a melhor "férias sem mim" da sua vida. E a gente ria, e depois, de um jeito um tanto quanto infantil, nos abraçávamos chorando já sentindo saudades imensas. Á esquerda estamos no mesmo aeroporto, no mesmo banco de espera, cada um olhando para um lado qualquer fingindo não se ver. Estou com malas bem maiores, talvez eu esteja levando um pedaço seu ali dentro comigo, pois sinto que você desmorona a cada minuto. Quando o avião finalmente chega, viro meu rosto para o seu e vejo lágrimas, aquelas da primeira viagem, aquele amor da direita, e sinto seu abraço pela última vez. Fim.

Duvido que relacionem esse texto com uma música da playlist do post passado, conseguem? Vamos lá, tá fácil! 

Um comentário:

Marcelo Soares disse...

Dolorido demais acabar assim, menina Lara =//

Beijo