julho 04, 2016

Em cena


Faz tempo que evito. Tranco as frases. Interrompo pensamentos. Não posso. Não será bom. É melhor deixar para outra hora. E a hora nunca chega. Há tantas palavras engolidas que agora que me permiti tenho medo do resultado. Tenho medo de deixar sentir. De transcrever aqui mais uma vez o peso que venho sentindo e tentar fazer com que você me ajude a carregar. Por favor, levanta essa alça aí do seu lado e carrega comigo. Me carrega. Me leva. Mas primeiro me ouve. Há tanto para falar. Essas frases curtas, a pontuação excessiva, são apenas um reflexo da falta de continuidade. Do medo da vírgula e a esperança de um ponto final definitivo. Mas não acaba aqui.
Eu queria te dizer tantas coisas. Mas queria respostas. Não ouvir apenas minha voz num monólogo a dois. Queria a sua presença. E talvez isso crie certos dilemas, mas no momento cabe. A presença é física, mas é ainda mais psicológica. Porque eu preciso que você veja o que se passa aqui dentro. Olha de verdade dentro dos meus olhos hoje esverdeados porque chorei. E engulo o choro nesse parágrafo porque você não merece mais lágrimas. Mas... Me perdoa. Não consegui. 
Nesse meu diário, eu queria te dizer que. Tantas coisas. 
Estou me distanciando dessa vida. Virei o flâneur que assiste os dias pelas vitrines no calçadão do centro. Não faço mais parte dos atos, o artista sou eu mas as falas já estão prontas enquanto apenas sigo o roteiro. Não há mais emoção. O público ao redor se entedia, vai embora. Não os julgo, também queria partir. Mas como fugir de mim? Por favor, me responde. Me ajuda. Não vai embora. Não me deixa mais uma vez a encarar essa plateia vazia, refletindo a minha solidão. Você não pode ir. Eu repito pra mim que não consigo sem você, porque parece tão mais fácil assim. O meu egoísmo grita mais alto, pedindo para que você preencha lacunas que não são suas. 
Suas malas estão prontas, a porta ainda está aberta, e eu apenas torço para que você consiga esperar a próxima cena. 


Esse texto é antigo, achei enquanto buscava matar um pouco da saudade que senti de tudo isso. 
Foram tantos meses, e todos eles lotados de saudade. 
Espero, tanto, que seja um retorno.
Até o próximo. 

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