fevereiro 08, 2015

Laços de fotografia


Mais uma vez você se pega com aquela velha fotografia em mãos, analisando cada detalhe que hoje mais acentuado desenha um rosto que você não reconhece. Os mesmos olhos brilhantes já não possuem o mesmo brilho que você adorava mergulhar antes de dormir. As mãos, mesmo que calejadas naquela época, já não são as mesmas que muitas vezes te guiou por essas ruas. Pois as ruas sim, continuam iguais. Há as mesmas árvores florescendo na primavera, os vizinhos ainda cantam aquela cantiga nos fins de tarde e há ainda aquele nosso mundo particular exatamente no mesmo lugar. As portas estão sempre abertas, mas o teu personagem deixou a história de lado e desistiu das nossas páginas. 
Por um momento gostaria que a fotografia trouxesse novamente o som do teu riso, lembro que ria no momento que peguei a câmera, na época chamávamos de máquina e só fui revelar meses depois. Sinto uma saudade de rir do teu riso, porque a piada nem tinha tanta graça, eu era apenas uma criança e seus olhos enchiam de água com alguma coisa boba que eu falasse. E seu riso... Meu deus, como é mesmo o som? Nunca mais ouvi, os seus olhos nunca brilharam como antes, o sorriso para as fotos de hoje não tem o mesmo brilho. São como as fotos, instantâneo. Após o flash, publicado, postado, sumiu. Aonde escondeu aquela sua risada de quase meia hora que deixava a gente até preocupado? Não a mim, pois te acompanhava. 
Te acompanhava sempre. Seguia todos os seus passos, sempre grudada nos teus pés, como uma sombra. E nem eles eu reconheço mais. Meus pés seguiram novos caminhos, pois já não era possível acompanhar-te. Você mudou seu destino, seus passos caminham agora em direções que não me agradam. Por que mudou a nossa rota? E o nosso mundo mágico que nunca mais ouviu seus passos? Ele sente sua falta, me contou numa visita que fui fazer lá um dia desses. Pois é, ainda caminho por ali e leio as histórias só pra mim. É tão triste, não aprendi a falar com toda a sua ênfase e tornar uma simples história infanto-juvenil num novo mundo. A chave do portão é sua e eu tenho medo que a tenha perdido nessa sua mudança. 
A fotografia foi mais uma vez guardada, me dói muito relembrar todas as mudanças que fui forçada a ver diariamente. As lembranças continuam doces, com açúcar e canela algumas vezes, outra com várias cores e massas, mas doces. E espero que continuem, por mais que vez ou outra essa pessoa - que já não é mais a da fotografia - parece fazer questão de amargar. Por favor, toma cuidado. Sabe como são essas fotos antigas, esta já está meio gasta e velha, não quero que algo aconteça com a imagem que guardo de você, a bonita. Pois hoje, te olhando agora, já não te reconheço mais.  

E já dizia Leoni: "o que vai ficar na fotografia, são os laços invisíveis que havia..". 

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