janeiro 04, 2015

(d)escrita


Queria conseguir escrever sem apagar cinco vezes cada linha com receio do escrito, do entendido e do possivelmente imaginado por leitores desaventurados nessa página qualquer. Mas ao mesmo tempo queria deixar tudo exatamente como me vem a mente, mesmo que muito explícito e muito particular. E então mergulhar em cada um que me lê e entender a forma como as palavras ressoam em cada um.
Com certeza riria daqueles que me conhecem, pois estariam querendo relacionar uma coisa com outra, com fulano ou ciclano. E os que não me conhecem pensariam em alguém especial ou talvez em si mesmo, e tentariam se consolar com as palavras aqui escritas. E eu queria comentar a cada leitura, dar umas dicas caso a pessoa estivesse interpretando muito além do que está escrito: "ei, leitor, não é bem por aí. Na verdade tô só falando de uma estrada mesmo, não metaforiza tudo que não é bem assim".
Ou talvez deixar e ver até onde eles seguiriam essa estrada, seja os conhecidos ou não. Até que ponto alimentariam o que queriam enxergar aqui e o que de fato existe. Porque a leitura nos proporciona imaginar tanto em apenas um conjunto de linhas e parágrafos. E é tão bom mergulhar nesse mundo que não é nosso, mas a gente se insere. Não sou eu descrito ali, mas parece tanto comigo. Não é fulano que eu tô falando naquele texto de saudade, mas você pode imaginar e sorrir sozinho. E pode colocar o teu sujeito ali, alimentar a sua saudade com a saudade dos outros. Deixar aquelas palavras de amor acalentarem teu coração como se fosse pra você. Porque, meu amigo, vai que é. 
A gente sempre aprende que não é possível relacionar a obra de um autor com sua vida, "a biografia é outra história" dizem. Me perdoem os estudiosos, mas acredito que todo mundo deixa uma marca da vida em cada texto. E mesmo não me considerando uma escritora, ainda achando tudo isso uma terapia para minha timidez, deixo também um pedacinho de mim aqui. 
Talvez muito mais que só um pedacinho. 
Talvez eu, enquanto fora daqui, seja de fato o pedacinho. 
E somente aqui, de fato completa.

3 comentários:

Thayná Porto disse...

"Não sou eu descrito ali, mas parece tanto comigo." Exatamente o que sinto quando venho aqui te ler (:

Jardineira disse...

Ô menina, terapia pra timidez ? Pensei que você nem era tímida. Memoriadora, parabéns um belo e verdadeiro texto !

Bruna Freitag disse...

Queria conseguir descrever meus sentimentos com essa facilidade... Em cada parte dos teus textos tem um pouquinho de mim. Comecei a ler hoje seus textos e minhas madrugadas não serão mais as mesmas. Parabéns! Você tem um dom.