abril 07, 2014

Desconexo


"When I press an ear up to your breast, I can hear the rhythm start.." *

Deu uma vontade de ficar assim, quietinha em mim, com uma música baixa tocando meio sem jeito. Deixar tudo assim, a cama bagunçada, a ponta do tapete virada pra cima, as gavetas mal fechadas, o relógio torto na parede. Hoje eu quis ficar assim, derretendo entre esses lençóis, afogada nessas lágrimas presas, trancada nesse quarto sem porta. E tudo isso é um reflexo do que não sai, não vaza, não escorre. Está trancado aqui dentro, fechado, lacrado. E dói, corta, dilacera. Não há microfone, megafone, gramofone que me ajude a gritar essa coisa toda daqui de dentro. São assim, quietinhas nessas palavras escritas, que vou esvaziando. E me lotando ainda mais. Porque cada linha escrita é uma dorzinha de perda, é uma semente de esperança, é um pedaço de mim. E um tanto de você. Você e eu juntos nessa enxurrada de mim. Você e eu, nós. Nós atados, forçados, cansados. Tô cansada, você não? Parece que a corda tá querendo se desfazer num cantinho ali da esquerda, não deixa. É o seu lado. Engraçado que normalmente esquerda sou eu, mas dessa vez foi você. Como se você roubasse meu lado, meu laço, meu nós. Não se rouba de mim. 
Vejo minha sanidade se dispersar a cada pulo para um telefone mudo, a cada grito para aquele filme de sempre, como se fossem culpados. Mas não há quem culpar, pode dispensar seu advogado de defesa que o tribunal não abre hoje. Não há quem julgar, porque já cansei das minha auto destruições. Essas acusações de mim acabaram deixando tudo fora de lugar. Já não há meias com pares, blusas dobradas ou vestidos pendurados... As palavras travam, falham, marcam. Tem algumas marcadas em mim, mas queria mesmo ouvir umas outras.


Foi só pra mandar um alô, vê se me atende aí na outra linha.  

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