abril 14, 2013

A última



Querido,
Sempre gostei de começar as cartas com esse vocativo, torna tudo mais amável independente do assunto a ser tratado. E, devo dizer-lhe, não há nada de amável em ter que te escrever isso. Na verdade me corta cada letra aqui gravada, os espaços entre as palavras nos distanciam ainda mais, no fim estarei em Marte e tu aí, com esse papel molhado de lágrimas em mãos. Não deveria chorar, já é difícil manter o foco e o nexo das palavras normalmente sem colocar teu nome ao fim de cada frase, e agora há também a dor de cabeça de um choro guardado e doído, a visão turva e as mãos trêmulas. É noite e o frio retornou, já estamos no outono e o verão se fora. Sempre gostei de verões, trazem uma alegria mesmo nos dias mais tristes. E trazem também a preguiça, mesmo á uma temperatura de quase 40ºC. Aquela vontade de morar no congelador, virar um peixe ou morrer tomando uma ducha gelada. Esse negócio de morte a gente deixa pro final, ela sempre vem no fim mesmo. As vezes esse fim é tão próximo que parece até que não é fim, não é? Eu sei, dá aquela vontade de gritar "ei, ainda não, ainda tem tempo!", mas não há tempo algum. Só mais algumas horas pra terminar essa carta, a última. 
Queria ressaltar aqui que não fora o primeiro, já amara antes e talvez por ter amado nunca soube se acabara mesmo. Sim, sempre houve dúvidas de amores passados e incertezas. Houveram tantas coisas que eu fiquei de te contar quando tivesse força, mas nunca a tive e nem a terei um dia. Não há tempo. Mas houve você num dia qualquer, teve você ali, e teve eu, e teve um destino que nos juntou como se fossemos peças de um quebra-cabeça que só precisavam de um empurrãozinho. E fora isso e nada mais, o tempo dera esse empurrão e nos tornamos nós. Confesso que de início não mantinha esperanças de futuros, e foi bom que o fizesse, deveria ter mantido isso até o fim. Novamente falando de finais, desculpe, tinha me programado de só comentar no último parágrafo mas parece que o adeus cisma em aparecer em todas as frases. Eu vim aqui te dizer adeus. É isso. Por mais rodeie em assuntos bobos, fale do quanto me sentia insegura e tinha vergonha até de respirar, só tô querendo dizer mesmo que tá doendo relembrar essas coisas todas, que esse não é mais um até logo e que não terão mais quatro anos de espera, não haverá mais espera. 
Tiveram momentos tão bons que se eu pudesse teria escrito um livro de cada um deles, só pra que outras pessoas pudessem ler e tentassem sentir o que eu senti. Deveria ter escrito mais, pra você, pra minha família, pra mim, pros outros. Escrever sempre fora a forma mais fácil de aliviar tudo, você sabe que sempre digo isso. E por mais que nunca tentara de fato escrever algo, te deixo aí um conselho, tente um dia, nem que seja sobre mim. Mas preferiria que deixasse suas palavras para ressaltar coisas belas e vivas, flores num jardim, um amor futuro ou até mesmo o sorriso de uma criança. Não deixe que a dor o consuma, que a saudade dilacere e que os dias se tornem torturantes. A escrita alivia, mas também judia. Nunca vira, mas houve noites em que dormi chorando por ter escrito, aos prantos me punha a escrever sobre dores escondidas só para ter o que escrever. Não fui a única a fazer isso, aposto que os grandes também espetavam as feridas enquanto rabiscavam papéis. Arde, e a gente pensa que não aguenta mais nenhuma linha. Sangra, e a gente sente que mais um parágrafo nos matará. Quase mata, mas aí vem o ponto final. 
A carta de hoje é diferente, o ponto final vem manchado. Não se culpe, não se julgue, não tente entender. O destino não nos deixa respostas, apenas acontece. Hoje é mais uma parte dele, e essa é a parte em que vou. Deixo com você um pedaço de mim, deixo minhas palavras que sempre foram um pouco suas, deixo meus diários secretos escondidos nas folhas de um fichário velho, deixo minhas fotos, até as mais feias, na última gaveta pra você. E deixo meu amor todo guardado no teu coração, que ele te aqueça nas noites frias e te conforte nos momentos de solidão. Que minhas lembranças não se tornem martírios e minha ausência não o sufoque. Nunca se esqueça daquela velha frase: tudo passa. Eu passei pela sua vida, assisti seus sonhos e morei no teu coração. Desculpe a bagunça, acho que desorganizei algumas veias e artérias, pendurei quadros meus nos teus olhos e grudei tua pele na minha. Atire os quadros pela janela, remova a pele, faça a faxina que teu corpo pede. Não tô querendo sair, nem tô querendo terminar essa carta porque ainda vivo em você nesses poucos minutos que me restam, mas é preciso.  
De algo me arrependo mais: não ter dito o quanto te amei as tantas vezes que você mereceu. Não ter retribuído todos os beijos, ter deixado seus braços sem abraços e suas mãos vazias. Faria de tudo para retomar cada momento perdido, cada encontro desmarcado no último minuto, reviver até as brigas só para ver como parecíamos duas crianças choronas ao invés de adultos. E refaria nossos erros, todos eles, porque talvez a gente fosse perfeito simplesmente por não ser. Quando você chegar a nossa música vai estar tocando, não se assuste, deixei no replay por horas porque não sabia quando chegaria. É só pra lembrar um pouco mais de mim, uma última vez. Essa foi uma carta de despedida, em que deixo minha vida. 

Uma carta suicida. 

Oi gente, desculpem a ausência, mas a faculdade tem me tomado tempo demais. Não sumi, tô viva, e as minhas palavras vem á tona vez ou outra. 

3 comentários:

Anônimo disse...

escreve um texto pro seu admirador secreto,aquele que vive te chamando de gata(precisa dizer que sou eu?)

Anny Diniz disse...

nossa, chorei muito aqui agora..
não sei se por ter pensando tanto em finais nos ultimos dias e sei que se chegar esse momento ficarei desse jeito que descreves na carta..
ou se por lembrar de outros finais..
que vida viu..vida essa que nunca continua, sempre acaba!o blog tá com layout novinho em comemoração aos 2 anos, vem deixar tua opinião ?
http://leideanediniz.blogspot.com.br

Unknown disse...

Lara, tenho que dizer que sentir uma dor ao ler esse texto. Pensei também quantas coisas deixamos de lado ou não demos o devido valor a ela. O quanto nossas atitudes influenciam outras e nem damos bola para isso. esse texto me contém em palavras, pode ter certeza disso. Quantas vezes escrevi cartas que eu pensei serem as últimas, quantas vezes me assustei. Esse seu texto, como todos os outros, sempre me deixam em suspiros e em transe por um tempo.

Lindo demais.
Beijos, Arih.