outubro 23, 2012

Falando da saudade



Me ensinaram que no início de um texto devemos apresentar o assunto abordado, então lá vai. Prazer, eu, a que sente saudades. Prazer, ele, o nome da minha saudade. Talvez deva explicar um pouco como é se sentir assim, ter uma saudade gravada no peito sem ser tatuagem, cicatriz ou marca de nascença. Saudade é aquele aperto nas noites, manhãs e tardes. Nas músicas de amor, nos filmes, no casal sentado no banco da praça. Saudade é aquela que grita no meio do banho, escondida no travesseiro, na noite do pijama com as amigas. São os olhares longos para um telefone mudo, a vontade de ligar para o número decorado, a espera de um ônibus que não vem. Saudade é você aí, na sua casa, no trabalho, na escola, na faculdade, e eu aqui. Saudade é essa coisa de lá e cá, de dor aqui e ali, de pessoa daqui e de acolá. Mas a minha hoje é só sua. 
Tem lá alguns sintomas, talvez a gente conte isso como argumento, talvez não, mas deu vontade de dizer mesmo assim. Aquela música que tocou ontem na rua, daquele carro velho enquanto voltava pra casa, era ruim, mas pior ainda foi que até nela tinha saudade. Naquelas frases de rimas pobres, óbvias, deu aquela dorzinha aguda na rua escura, aquela vontade de correr pra sua casa mesmo sabendo que eu não sei nem andar na minha rua direito, muito menos atravessar quilômetros. Era só eu numa rua, com um casal aqui e ali, como que gritando seu nome. Um menino tinha, eu ouvi ela dizendo, quase sentei-me ali no meio dos dois, só pra fingir que era você. Esse argumento foi forte, a saudade também é, eu sei que concorda comigo. A pior música amigo... a pior... tem sempre alguém ali naquelas frases de doer os ouvidos. Talvez até possa formular outro argumento, como que falando que a voz ruim do vocalista só não dóia tanto porque a falta de você já me dói o suficiente. 
Tem também os clássicos, aqueles que todo mundo tá careca de saber, mas vale dizer. No meio da leitura, sim, já até me entendeu que eu sei. No meio de uma leitura, na partida, na chegada, no beijo, no toque de mãos e corpos, em cada letra faço um caça palavras e encontro você. E já não são mais personagens, é a gente. A gente ali, se encontrando em Paris, se despedindo na Alemanha, conhecendo meus pais em Atlanta, mergulhando nos meus olhos de ressaca. Na última página dá um aperto, um medo de que seja o fim da gente também. Aquela saudade que cresce quando ela conta de como o dia fica frio sem ele, detalha a saudade do cabelo, do rosto marcado, os lábios, as mãos... E eu vejo a sua mão, seu cabelo, a minha saudade escrita. Me torno uma palavra junto a aquelas páginas amareladas do livro, procurando você nos parágrafos, no rabisco no canto da folha, na última, aquela que sempre tem um trechinho seu. Encontrei "saudade" na página 18, montei acampamento, minha casa agora é aqui. 
Só pra comprovar todos esses argumentos, quero dizer que toda essa saudade vem do amor. E não tem argumento maior que esse. Amor, amor e amor. Palavrinha tão pequenina, com um estrago tão grande. Pequenino também deveria ser o aperto no peito quando a noite cai, pequenina deveria ser a quantidade de lágrimas derramadas, e ainda mais pequenino deveriam ser os quilômetros. Você poderia estar aqui, no cômodo ao lado, só pra um abraço. Um só. Mas tem que ser de minutos, talvez horas, e semanas e meses e... uma vida. Te abraçar por uma vida inteira pra devolver toda saudade pra você. Te passar com meu coração grudado no teu um pouco desse amor, pra ver se a saudade grita aí também e volta pra rever a minha. A argumentação não foi boa, o texto também não, mas a saudade também não é. Pra concluir, só quero dizer que esse texto é seu. Todo. Cada ponto aqui é teu, pode pegar, roubar, guardar na terceira gaveta do teu quarto ou levar no bolso. Mas me leva junto, que eu tô inteira aqui, descrita pra você. 

Essa foi minha saudade, ops, postagem. 

6 comentários:

Amanda Souza disse...

Que sensibilidade! Lindo, de verdade. Saudade é uma coisa tão doída que as palavras não conseguem resumir, mas você chegou bem perto. Me emocionei bastante lendo o texto e ao contrário do que você disse, esse texto está ótimo.
Ah, mais um sintoma de saudade: cada pessoa que ler esse texto, vai ter em mente o nome de uma pessoa diferente.
Amor, amor e amor.

Estou seguindo, viu?
Um beijo
hiperbolismos.blogspot.com

Daniela Gomes disse...

Nossa amei a forma que você escreveu este texto. Tão único,nunca li coisa parecida.
To seguindo é claro.
Beijos,Dani.
http://www.avidaemletras.com/

Natália Luciene disse...

Oi linda, amei seu blog.
Já estou lhe seguindo, se possível me segue também. Sou nova nessas coisas de seguidores/parcerias, qualquer coisa to me disponibilizando!
Beijos =**

Anônimo disse...

Chega a me arrepiar o jeito com que você escreve.. É simplismente lindo garota, você devia escrever um livro ou algo do tipo.
Eu compraria com certeza ok.
Parabens

Anônimo disse...

Lindo, profundo, atual. Só não é melhor porque descreve meu momento...

Anônimo disse...

EU ACHEI UMA COISA BEM FOFA . AMEI E LENDO ISSO EU ME COMOVIR BASTATANTE . E PERCEBIR QUE VC CHEGOU BEM PERTO DE EXPLICAR O QUE E A TAL DA SAUDADE !!