setembro 18, 2012

Conto: La la la.



Uma sexta, um show num barzinho calmo da cidade. Uma desculpa para fugir do martírio que é pensar em você todas as noites. Principalmente ás de sextas. Aquelas onde o computador já escolhe as músicas, a cama já afofa meus travesseiros que tem escondido um lencinho para os momentos difíceis. Mas eu sempre esqueço o paninho e deixo minha cara borrada. Quem dera fosse só meu rosto que borrasse, parece que desfaço junto com a maquiagem e vou escorrendo pelo meu rosto. Daqui a uns dias paro de existir. Só que hoje tá perfeito, a maquiagem tá intacta, os olhos bem escuros, a boca clarinha, o sorriso fingindo estar feliz. Eu fingindo que é meu programa preferido aquele show. Quem é que vai tocar mesmo? É você? Não, não é você. E não sendo você, não tem graça. Sem você nunca tem graça. Tudo parou de ter aquele brilho que é sorrir para uma criancinha na rua e ouvir você implicando porque eu sempre disse que não quero ter filhos.
Só que hoje é uma sexta tão bonita, o céu tá bem estrelado, o pessoal tá animado, a roupa caiu bem. Mas o coração não cai pra lugar nenhum, ele continua parado na tua porta esperando pra que tu veja que tem alguém tocando a campainha á meses. O rádio ainda toca umas canções suas, se é que é possível, ainda não tá riscado o CD que você gravara. A faixa 10 tem o começo da tua risada, um pouco tímida, dizendo que era pra mim aquela canção. Sei que não existe a expressão, mas é a mais cabível, eu já ouvi e treouvi aquele CD de trás pra frente e de frente pra trás. Decorei todos os "la la la" que você cantava e dizia que eram em minha homenagem só por eu sempre dizer que nunca tive uma música com meu nome. Você fez uma com os nossos que toca no meu coração e vive no repeat. Você continua no repeat.
O destino me pregou mais uma peça. O show começa e logo de início ouço teu nome no meio dos versos, a voz tão doce da menina do vocal se mistura com a minha nostalgia, posso sentir você. Como se a música da entrada fosse uma gota sua derramando em mim, e depois outra com a segunda, e já na quarta sou completamente sua. São canções que a gente diz proibidas, porque parecem dizer tanto de si que dá até medo de que alguém escute e descubra todos seus segredos. Aquela música ali sou eu. Ei, menina, pare, está me despindo a cada palavra! E os meus sentimentos obscuros? Meu mistério? A minha saudade secreta? Deixa tudo guardadinho, não grita nesse microfone aí não. Sempre foi difícil disfarçar, agora taí, sendo falado tão alto, o choro é tão propício. E eu não posso chorar. A maquiagem vai borrar, não tem lencinho embaixo de nada.
O barzinho pequeno se escurece, como que pedindo para que as lágrimas aproveitem a brecha e escapem de mim. Uma lágrima traz outra, e outra... Mas hoje eu prometi não chorar. Pelo menos não fora de casa. Foi só uma lágrima, ou melhor, duas. Talvez três, mas passou. A luz volta, o palco está vazio. Seria o fim? Mais uma noite em que me desmancharia em lágrimas e soluços. É tão triste esse negócio de amor. Aí vem a tal da revolta, tô até decorando o roteiro. Vou ficar reclamando por dois dias o quanto sou fraca e que o amor é uma droga. Menos amor, por favor, seus burros! Chega de amar, olhem aí, só serve pra chorar. E chorar nem emagrece. A menina voltou para o palco, tem uma cadeira a mais ao seu lado. Isso, cantem em casal, se beijem, mostrem aí para todos como o amor de vocês é bonito. Eu realmente não ligo. Nem vai doer. Tá tudo bem. 
Começou um "la la la" baixinho. Começou o seu la la la no meu ouvido naquela tarde de domingo onde eu tentava ler e você brincava com o meu cabelo cantarolando a minha música. Começou uma saudade apertada apertar no peito. Começou eu ali, a cantar a nossa música mesmo talvez nem sendo. E era. No refrão fiquei esperando a tua voz falar "ei, psiu, tô gravando" igualzinho á gravação do CD que meu rádio já decorou. A sua voz começa a cantar naquele microfone, na cadeira esquerda da menina, você com seu violão preto e seu jeito tímido de cantar em público. Por que justo a nossa? Por que justo nessa sexta? Por que justo você? Por que sempre você? A música já cantava por mim, e no meu refrão preferido, a hora do "psiu" você para de tocar, deixa o silêncio invadir o pequeno espaço do bar e pede pra todo mundo acompanhar você no la la la. 
- Essa música é sempre dela. E pra ela.

Eu não sei fazer finais felizes, porque o fato de ter final já me assusta. Só quero a parte do feliz. E feliz eu fui naquela sexta. Porque a sexta foi nossa. Elas sempre são nossas. 

Sempre tentando te achar em alguns desses la la la, em alguma música, em algum canto, na esquina de cima, mas o único lá que eu sempre acho é aquele em que você está. Longe.

4 comentários:

Caroly Assis |Sonhos Perdidos| disse...

Gostei do texto...é meio esquisito quando a gente ta entre o amor e tentar esquecer e tal hummm sei la kkk bjooo

sonhos-perdiidos.blogspot.com/

Reckless Serenade. disse...

Que texto lindo. Te expressou bem e usou uma linguaguem bem legal de se ler. Curti tuas descrições quanto às músicas do rapaz.

Sucesso! :)

Amanda V. disse...

Lindo como sempre. Ah! Como me descreveu esse texto, Lara. Lindo, lindo, lindo. (:

Anônimo disse...

Sempre leio esse texto, parece até que me descreve.
É lindo, mesmo.
Parabéns.