abril 24, 2012

Silêncio


A cada dia sinto minha voz indo. Sim, acho que estou prestes a ficar sem ela de uma vez por todas em menos de um ano. Sabe, é um tanto quanto assustador pensar nisso. Eu tenho voz, um tanto quanto fina e estranha confesso, mas não consigo mais usá-la. Não quero mais. Como é? Você não quer mais falar? É isso? Isso mesmo. Não é preguiça, por mais que eu tenha isso de monte também, é simplesmente um desânimo de falar. Pra que falar? Falar o que? Com quem? Deixa eu aqui quietinha com a minha música e meus livros, tenho muito o que estudar e falar atrapalha e atrasa. Tô bem, de verdade, só gosto do silêncio. Principalmente do meu.
Minhas manhãs tem palavras contadas, as tardes se contentam com as tantas palavras que leio em meio aos meus livros e estudos, e a noite se delicia ao ouvir as palavras cantadas. E assim eu vou indo, e a voz vai indo mais e mais longe de mim. Ei, voz, as vezes eu sinto sua falta. Ei, vontade de falar, volta pra mim. Ei, sociabilidade, vem me habitar pelo menos uma vez na vida. Ei. Ei. Ei! Tentativa falha de um grito. Você me escutou? Não? Eu me escuto. Sempre. Ao contrário do que você pensa, minha voz vive na minha cabeça dizendo-me de cinco em cinco minutos o que eu devo ou não fazer. Comenta comigo como o clima está ameno, como as pessoas do canto direito são esquisitas e como eu sinto um sono descomunal quando estudo geografia. 
Não preciso de colo, abraço, nem cafuné, eu tô bem. Juro pra você! Não tem nada doendo, o coração tá bem. Tá tudo muito bem. Ou não está? Ou isso é tipo uma febre, um aviso que alguma coisa está errada dentro de mim? Agora estou com medo e sim, preciso de um abraço. Talvez um cafuné também. Ah, e colo. Esse negócio de "tudo bem" não é pra mim, acho que não era pra certas coisas estarem bem. Será que estão mesmo ou eu apenas ando camuflando problemas? Deu um medo danado agora. Voz, deixa eu chamar alguém. Só uma pessoa, te juro que serão pouquíssimas palavras, só pra algum conselho que eu sei que não vou seguir. Pensando bem, deixa assim, melhor não falar. 
E é isso. Minha voz está trancada e eu não sinto a menor vontade de procurar a chave. Deixa aí, tô bem. Bem que eu queria ser falante, ter que ouvir as pessoas pedindo-me para ficar calada porque também querem falar, ou ver caras de tédio enquanto eu falasse sem parar sobre algo fútil. Mas tudo bem, ser calada não é lá tão ruim, eu gosto do silêncio. Gosto de ouvir, vezenquando, as batidas do meu coração, ouvir o ar penetrar meus pulmões, o tic-tac do relógio, a caneta riscando o papel, os livros serem folheados... Escuto tudo, menos a mim. Não é ruim, é só... diferente. E eu não gosto de ser assim tão diferente. Tem quem diga que é assim que a gente chama atenção, sei lá, funciona isso? Ainda não sei se funcionou comigo. Não ter voz fará alguém gostar de você? Ok, acho que não. 
Quem lê essas tantas palavras deve imaginar-me uma anti social de primeira, não que eu não seja um tiquinho, mas também não é assim. Eu falo, você ouve minha voz, mas primeiro terei que ouvir a sua. Odeio esse negócio de ser social, sorrir para piadas sem graça, agradar quem não me agrada, pra que? Isso cheira tanto a falsidade. Desculpa. Mas é o que eu penso, e eu penso nisso bastante. Eu penso bastante, infelizmente. Tem hora que eu queria simplesmente desligar-me, apertar um botãozinho e puft, desligar. Fim. Chega de tanto falar pensamentos! Vou colocar aqui na lista falar mais, vai ser difícil, por toda a minha vida tem sido difícil, mas ando evoluindo. Antes nem bom dia, hoje já tem até boa noite e certos elogios. Mas escrever, ah, isso você não mede as palavras não é menina? Escrever é pensar meu amigo, impossível medir palavras nesse caso, sabe, ainda não achei o tal botãozinho.

Ps: O nome Lara significa deusa do silêncio eterno. (combinou? hahaha) 
Beijos no coração! 

4 comentários:

Kellen Ribeiro disse...

Seus textos continuam lindíssimos e me descrevendo tanto, Lara...

Yasmin disse...

Sou amante assumida do silêncio. Não exite paraíso maior pra mim do que acordar e ver que não tem ninguém em casa, que tá tudo quieto, que sou eu e eu. Falar às vezes se torna tão trabalhoso, que é mais fácil nada dizer. E o silêncio traz paz, pelo menos pra mim.
Lara, seu blog está um doce! Entrei agora e vi que está tudo novo e ainda mais fofo do que já era. Está a sua cara!
Beijos.

Ariana Coimbra disse...

Eu também não sou muito de falar, sou calada, fico mais na minha e não vejo problema nenhum nisso. Acho ate bom.
Aquele velho ditado ne, em boca fechada não entra mosquito.

Beijos

Unknown disse...

Em cada linha uma vírgula da Arianne.

http://www.eppifania.blogspot.com