abril 14, 2012

Dois


Era um jantar a dois, uma mesa pra dois, num restaurante duas estrelas. Havia duas velas, duas toalhas de mesa e dois garçons apenas. O casal chega, senta, pedem duas taças de um vinho barato enquanto decidem o prato principal. Escolhem o item dois, uma macarronada. Quem é que vai num restaurante comer macarronada? Eles iam, toda sexta feira. Um dos garçons se aproxima, anota atenciosamente o pedido e entrega o pedido da mesa dois no balcão. Conversa vai, conversa vem, hoje completavam dois anos de namoro. Quem é que comemora dois anos de namoro num restaurante duas estrelas? Eles comemoravam, todo ano.
Ela prendia o cabelo com dois laços, ele tinha duas tatuagens. Eles moravam no apartamento dois, segundo andar, numa rua do centro da cidade. Um quarto, uma sala, uma cozinha, dois banheiros e duas prateleiras de livros e cds. Era esse o tal mundo dos dois. Ah, e tinha o resturante, esse da macarronada, que ficava a duas quadras do apartamento. Tinha a faculdade que só precisava passar por dois pontos e pronto, chegavam. Tinha o curso dela, começado a dois anos, e o curso dele, que terminava em dois meses. E o ateliê, no fundo do pequeno apartamento, com dois quadros inacabados pendurados em meio a tantos outros que ela gostava de fazer quando estava só.
Ela pensava na janela que deixara aberta e no tempo de chuva que se formava, ele olhava pra ela e pensava quando ela finalmente pararia de usar aqueles laços infantis no cabelo. Ela olha pra ele e não vê o cara que sonhou, ela vê o cara que mesmo as duas da manhã a faz rir com uma piada sem graça, que mesmo com um cabelo sem cortar a dois meses fica lindo assim que sai do banho, o cara que ela precisava. Ele repara no olhar dela. Ele pensa nos olhos dela. Ele pensa nela. Em como ela é bonita sem dois quilos de maquiagem numa manhã de um domingo, como o sorriso dela deveria valer dois bilhões e em quantos mil mistérios aqueles dois olhos guardavam. 
As duas amigas da mesa vizinha observam o casal. As duas já comentam o quanto é bonito ver pessoas assim, amantes. Ele tira um embrulho pequeno de dentro do casaco, elas suspiram já imaginando que ali seria o grande pedido. Ela olha o embrulho confusa e abre. Uma pulseira com dois pingentes, dois corações. No rosto dela escorrem duas lágrimas, no rosto dele estampa a alegria de uma criança de dois anos assim que recebe um elogio. Nos rostos dos dois a gente via o amor. Ele prende a pulseira nela, beija sua mão levemente, ela suspira duas lentas vezes. Ela puxa as duas mãos dele e as aperta com força e sorri. Ele sorri. Eles riem. Elas, as amigas, já enxugam as lágrimas em companhia dos dois garçons. 
O casal termina o jantar e sai, os dois abraçadinhos, encolhidinhos, dentro de um pequeno guarda-chuva. As duas amigas, cada uma com seu carro, pensam em oferecer uma carona. Mas veem o casal brincando enquanto atravessam a rua, desviando de algumas poças e carros, como se fossem crianças e riam, ah, as risadas daqueles dois curava qualquer doença, alimentava qualquer carência. Os dois corações, tanto no pulso dela, quanto nos corpos dos dois, deixavam aquela tarde chuvosa tão bonita. Tão amável. Era dia dois dois, dia de curtir a dois, só os dois. E assim eu termino a história. Era nós dois. 

Para quem curtiu lá na página do blog, então, ta aí! hahaha. Ei, vocês viram que agora tem opção de "curtir" no final de cada postagem? Curtam aí a postagem preferida de vocês! 

7 comentários:

Gabriela Freitas disse...

Meu Deus Lara que conto maravilhoso é esse menina? Juto a ti que cheguei no final com um sorriso gigante e um bocado de lágrimas nos olhos. Que casal bonito esse, que amor doce o deles! Estou fascinada por estes dois, menina.
Curti seu blog, gosto muito daqui.

IsaBarros disse...

Amei o conto Lara. *-*
Agora eu vou te contar uma histórinha.

Era uma vez eu. Passeando por aí internet afora, não sei como, mas achei seu blog. Acho que foi há mais ou menos um ano ou dois anos atrás. Na época tinha pouco mais de 50 seguidores. Amei de cara o que você escrevia.
Todos os dias vinha ver se tinha coisa nova pra ler. Até que um dia passei a me ocupar com muitas coisas ao mesmo tempo e esqueci do blog que eu sempre vinha 'olhar'. Esqueci do blog que me fazia viajar pra longe da realidade por alguns instantes.
Sem babação, eu simplesmente amava ler o que você escrevia, me parecia que vinha de dentro. Até pensava: 'Um dia quero escrever assim, tão bem que chegue a tocar as pessoas que estão lendo.' (Ainda não cheguei lá, mas tô tentando. shaushuahsa)
E então, hoje ao abrir meu blog pra fazer um post, resolvi olhar as atualizações de quem eu sigo, sabe?! E vi o link do post. Me veio uma vaga lembrança, então eu cliquei. Assim que abriu e vi a abinha "Minha memória" lembrei, É O BLOG QUE EU GOSTAVA DE LER! hsuahushausa
_
Fiquei muito feliz que o blog evoluiu, mas continuou quase que do mesmo jeitinho. Parabens pelo sucesso, viu?! Já favoritei o link, pra não perder de novo. HSAUHSUAHUSA. Escrevi demais, né?!
Beijo e té mais.

Boemia Ilegal disse...

"Ele pensa nela. Em como ela é bonita sem dois quilos de maquiagem numa manhã de um domingo, como o sorriso dela deveria valer dois bilhões e em quantos mil mistérios aqueles dois olhos guardavam."

Simplicidade! Belo!

Tamara Furlan disse...

dois, em dois, há dois... dois é mesmo uma exatidão perfeita. que texto gostoso e curioso de se ler.

Milena Lobo disse...

Acho que nunca vou encontrar alguém que escreva de maneira tão doce quando você Lara. Todos os detalhes, a atmosfera do conto...
Conseguiu me tirar dois sorrisos.
Beijo.

' Bruniinha disse...

Uaaau, terminei de ler me sentindo apaixonada, mmuito lindo meeesmo! Parabéns.

Anônimo disse...

Olá querida, talvez não leia o meu comentário no meio de tantos outros. Mas esse conto me fez lembrar de um romance que eu tive, de um romance lindo no qual vivi, mas tudo que é bom dura tão pouco. Mas você com esses contos apaixonantes, com esse seu modo de escrever que cativa, que encanta, que me tira do mundo real. Me leva para um paraíso no qual eu desejo viver. Sei que deve receber comentários mais construtivos, porém essa é minha opinião, eu amei, adorei, nunca li nada igual. Talvez um dia eu não a encontre na rua, ou numa livraria dando autógrafos num livro muito bem sucedido. Parabéns, você escreve muito bem.