junho 11, 2011

Boa noite infância

Ao pé do portão jogo as malas pelo caminho até a porta e corro pra um abraço apertado de minha avó. Vou correndo pela casa, encontro os primos ali também, os tios, as tias, o vizinho do lado, a prima da quadra de cima, quanta coisa boa. Vamos para o sítio, corro metros e metros embaixo de um sol escaldante, mas eu precisava correr, não podia deixar o fulano me pegar. Ser o pegador é chato demais. Brigo com a prima mais nova, onde já se viu chorar por que vai pegar pela quarta vez seguida? Ora menina, é só uma brincadeira. Vou pro almoço, revoltada eu te digo, por que não posso almoçar enquanto brinco mãe? Que saco. Ah, e pra que essa verdura mãe? Eca. É verde e nojenta. Tá vó, desculpa, não chamarei mais comida de algo nojento. O primo disse que quer brincar de pique esconde, já olho ao redor imaginando o melhor lugar pra me agachar e ali ficar até poder bater meu 31, ou 31 salva todos e deixar com que o primo conte de novo. 
Correndo contra a maninha que já contava o "58, 59.." caio. Nem tudo é tão bonito não viu. O sol tá ardendo, a mão tá ralada, o joelho cortado. Mãããe, tá doendo! Todo mundo a minha volta, o primo chama a mãe e ela vem me limpando os joelhos e mãos, no fim dá seu beijinho e a última lágrima sinto evaporar. É magia, sabia não? Mãe é mãe, só ela tem o poder de nos curar no meio de uma corrida contra o tempo no pique esconde. Voltamos a brincadeira, minha queda me valeu a contagem da vez. Não deixo quieto não, me revolto com a molecada, mas perco a briga. Conto de cara feia, e penso: agora acho todo mundo também, povinho chato. 31 do fulano, do ciclano, e da fulaninha lá atrás da árvore. Após muito esconder e contar, junto minhas panelinhas e com muito cuidado roubo uma tigela da cozinha da vovó, e a enxo de água. Fujo do vovô, ele não gosta que gaste água. Começo meus bolinhos de barro, a fulana falou que os montinhos dela são macarronadas, os meus são bolos de chocolate recheados. Assim fazemos nossos restaurantes. Fominha né? Mamãe logo chama pra ir tomar "pão de café". Pão caseiro quentinho, sem casca é claro, com manteiga e café com leite. Vó, que pão gostoso, quero mais uma fatia! Ah é.. Por favor vó querida, me dê mais um pãozinho? Vovó ria e se derretia, e eu ganhava mais uma fatia gorda de pão. 
Depois de mais uma rodada de pique esconde, pega pega, barata no ar, polícia e ladrão, guerra de lama, vem a temida hora: "Lara, corre, tamo indo embora!" Mas mãe, é cedo ainda, por favor, mais cinco minutinhos. Aproveito os gloriosos minutinhos, que passam como segundos, e assim vou-me. Após um delicioso banho, que rateio pra entrar, e também para sair, coloco pijama e fujo do secador. Mãe, deixa que eu seco meu cabelo com a toalha! Ih, seco nada. Cinco minutos depois vem ela chacoalhando-me toda enquanto seca minha cabeça. Bocejo ao fim. Soninho já. Mãe, vem rezar comigo. "Senhor, que eu tenha um ótimo dia amanhã, amém." Mamãe faz o sinal da cruz com meus dedinho, é complicado fazer sozinha, liga o abajur do criado-mudo e sussura um "boa noite filha" em meu ouvido. 
Boa noite infância, sinto tua falta. 

1º Ps: Esse texto é antigo, e eu esperava um motivo especial para postá-lo, mas pensei bem e resolvi publicá-lo agora mesmo.
2º Ps: Essa gorducha na foto sou eu, devia ter meus 5 anos ou mais, não sei, rs.
3º Ps: Não quis postar algo relacionado a amor, dia dos namorados.. Quando eu tiver um talvez eu pense em escrever um texto pra ele. rs
4º Ps: Espero que goste, e me diga, quem aí não sente falta da infância? 

15 comentários:

Bruna Barrêto disse...

Amei o texto, eu também sinto muita falta da minha infância. Beijos, Larinha!

AquilesMarchel disse...

bom demais o texto viu e a foto fofaaaa

Deysiane disse...

nhow *-* eu amei a foto, muito linda, as bochechas rosadas e gordinhas nhow *-* linda, linda!
Bom, em relaçao ao texto... Ta MARAVILHOSO! você é foda Lara, escreve muito bem, com seu estilo, seu charme, super original, eu amo isso!
Tambm sinto falta da minha infancia, das brincadeiras, nao precisava fica lavando louça RSRSR... Enfim, é algo que vamos guardar e infelizmente nao volta, mas a vida continua \o/
Beeeijao *-*

Juliana P. disse...

Imaginei todas as cenas que você descreveu e... ai que aperto no coração. Ainda não inventaram uma maneira da gente voltar praquela época? O que estão esperando? É triste saber que isso tudo não volta mais, mas também é bom saber que aproveitamos o máximo que pudemos toda a nossa infância corrida.
Beijos ;*

Jeniffer Yara disse...

Own,que linda você na foto *-* Muito fofa. Mas enfim,que texto mais lindo e fofo,sério,amei,me vi nele,tenho muuuuitas saudades mesmo da minha infância,saudades de ter a família por perto e de não pensar em traições,mentiras,decepções... =/

Amei seu texto *.*
Beijo

Gabriela Freitas disse...

muito lindo o texto, aquela época era a melhor, para você, pra mim, pra todos...faz falta

Minne disse...

Lara, que texto mais nostálgico! Adoro isso, sou totalmente assim, vai e volta as velhas recordações me fazem uma visita e me deixam com vontade de voltar lá, de viver aquilo tudo novamente. E eu já falei como eu gosto do jeito que você escreve né? É de um jeitinho tão brasileiro que me encanta, sério, adoro isso, awwn.

Anônimo disse...

Juro que eu pude ver toda a sua brincadeira, sabe, como um filme!

Eu sinto faltas, às vezes, mas gosto do agora.

Beijocas, lindaa :D

Elania Costa disse...

Ficou cute. Fez-me sentir saudade de verdade *-*

Bruna Brasil disse...

Que vontade de apertar as suas bochechaaaaas!!! hahahah Bem, respondendo a sua pergunta: eu sinto muita falta da infância. Mas, sinceramente, não me aprofundo muito naquela história de "eu era feliz e não sabia". Acho que cada fase da vida é uma história, e temos que aproveita-las da maneiras que nos é permitido. Enfim haha Adoro o seu cantinho!

Ana Luiza Cabral disse...

Lindo o texto Lara. Acho que a melhor parte da vida é a infância, e não tem como esquecer esse tempo em que tudo é sorrisos. Se chorar só mesmo do joelho ralado/sorrisos. Tô adorando seu cantinho. Beijos!

Yohana Sanfer disse...

Difícil não ver nas suas linhas um pouco de nós e resgatar tb a saudade da infância! Lindo post moça! bjsss

Gabriela Furtado disse...

E quem n sente saudades da infância?
O único defeito dela é que a gente quer que acabe logo (e acaba mesmo)!

Beeeijoos querida

Luiza Fritzen disse...

Que lindo Lara! Adorei mesmo! Ficou um amor e sim, uma baita saudade da minha infância. Beijinhos

Yasmin disse...

Larinha, um dos teus melhores textos! Que delícia ler ele, fui imaginando cada cena, montando cada detalhe e de repente me vi na historia. Contou um pouco da minha infância aí. Os pães sem casca, os joelhos cortados e os bolinhos de lama... quanta saudade.
Ótimo texto, tá perfeito.