janeiro 16, 2011

O bilhete

"Desculpa, mas não dá mais. Adeus, e nunca se esqueça que um pedaço teu vai ficar guardado aqui em mim. Pra sempre."
       Fria, cruel, essas palavras latejavam em minha cabeça e me dilaceravam o coração numa facada rápida. Eras tão boa com as palavras, mas na hora do não, se conteve. Deve ter doído, cada letra que essa sua caligrafia tremida conseguia escrever deveria te queimar, cada memória nossa que passava em tua cabeça deveria te corroer, mas mesmo assim, mesmo com todos os sinais, tu não parou e selou o ponto final. A passagem que ganhara naquele concurso bobo de letras agora fora útil, não é? Eu mesmo tinha dito que seria, mas não assim pra me deixar. 
      Gritaria da janela para voltar, mandaria centenas bilhetes me desculpando, te compraria milhares de margaridas (só porque tu gostava mais) e lhe enviaria, mas pra que? Você não vai voltar. Por mais que doa admitir, você tá certa, sempre esteve esse tempo todo, eu só não quis te ouvir. E é assim que fico, sentado nessa cama velha, coração dilacerado, olhos inchados, boca cerrada, e com o que me sobrou de você nas mãos. Preferia antigamente, quando deitávamos nessa cama, colávamos os corações, olhávamos nos olhos, selavamos as bocas, e eu tinha outra coisa em minhas mãos, teu coração.
      Na mesma posição de meia hora atrás, olhando pro teu bilhete, sem mexer um músculo sequer. Celular logo a frente no criado mudo, vemos que não é só o criado que está mudo nesse quarto. Eu poderia te ligar também, implorar perdão ou mandar 18 mensagens de desculpas. Exatamente 18, dia do nosso primeiro beijo, dia do teu aniversário, dia em que eu consegui a pessoa mais especial na minha vida, e também, o dia de hoje, em que eu a perdi. Não adiantaria. Tu tá certa, não deves voltar. Fui um idiota, sou um idiota, e serei um idiota maior ainda sem você aqui comigo. Mas que diabos, por que eu não me contive? Por que você não chegou a cinco minutos depois e perdeu aquela cena? Por que eu tinha que ser um estúpido? Por que eu gritei? Eu perdi tudo. Que me roubem os poucos reais do bolso, que me roubem esses móveis, que me roubem a alma, o que mais me valia já fora embora, então tá tudo bem. Nada vai doer mais que isso.
      Deixo teu bilhete - já amassado e com algumas lágrimas - de lado, e começo: 
"Ana, me desculpe. Fui um grande idiota com você. Saiba que se algo acontecer, eu te amarei para sempre. Te deixo aqui essa margarida que comprei semana passada e esqueci de entregar devido a minha falta de tempo, e por pura idiotice também. Te amo! 18 Beijos. 
ps: a gota que borrou a escrita aqui do lado, me desculpe, é que é difícil escrever de você."
      No outro dia o celular dele toca, ninguém atende. O telefone de casa toca, ninguém atende. Ela vai até a sua casa semanas depois, ninguém abre a porta. Desesperada encontra um vizinho, que calado te entrega o bilhete e uma margarida velha. 
- Mas.. Cadê o Bruno?
- Ele... El.. Ele se fora Ana, desculpa.
- Como? Como assim? Do que? Ele estava doente?
- Sim. De dor de amor. 

Se você chegou até aqui, parabéns! Sei que muitos não vão ler até o fim, mas caso chegue, me deixe um comentário falando sua opinião. Ficou ruim, bom, horrível, pode melhorar... Esse texto é super antigo, era pro Bloínques, mas acabei perdendo o prazo, espero que gostem! :)
#MemoriasEscritas

24 comentários:

Iasmin Morais disse...

"Desculpa, mas não dá mais. Adeus, e nunca se esqueça que um pedaço teu vai ficar guardado aqui em mim. Pra sempre."

que lindo *.* seus textos são ótimos! Parabéns! :) vou vim te visitar sempre e obrigada pela atenção. beijos.

Talita disse...

AMEI esse blog.
Os textos são ótimos. Vou seguir.


Um beijo!

Nadine disse...

Quem não ler até o final, está perdendo um lindo texto, bilhete *-*

"- Sim. De dor de amor." Essa dor é bem comum.

Abraço forte!

Larissa. disse...

Meu Deus, enquanto escrevia, sentiu arrepios? Porque enquanto eu li além dos arrepios tive que segurar as lágrimas, seus textos como sempre, maravilhosos.
18 vezes, amei!
beijao!

Allef Loureiro disse...

Me lembra um filme.
Mas sobretudo me lembra algo que sinto, forte, e as vezes perco o quanto é bom ter. Amor e alguém pra amar. Sinceramente, eu adorei o texto.

Parabéns!

Amanda, Isabela, Maria Laura disse...

Owwn *--*
Muito Lindo, Lara :D
Como sempre..mais um texto maravilhoso ^^

Anônimo disse...

Lara, você me fez chorar! Aghr.
tudo bem, está perdoada.
hahahah
lindo o texto, sério.
*-----------*
adoro o seu blog, parabéns, viu?

paranaense ;D

http://sonhadoraabark.blogspot.com

Raquel Eugênia disse...

Acho que este foi um dos melhores textos que já li aqui. Parabéns.Vejo muito potencial em você Lara. (:

Amanda Arrais disse...

Gostei muito do texto inteiro, das palavras, mas acho que eu preferiria um final diferente. Não necessariamente feliz, mas não com a morte dele. Mas você tá de parabéns!

=*

Camila Paier disse...

Guria, eu gostei, sabia? Intensidade, sensibilidade. Acho que por mais que não seja tão atual, ainda é a sua escrita, inteiramente. Lindo mesmo! Espero que homens como o Bruno existam! Hahahahaha
Beijos

Jéssica Silva disse...

Lara,
os parabéns de sempre!
Ótimo texto.

Gabriela Furtado disse...

A dor da despedida dói...mas a de saber que se perdeu de verdade não tem palavras, sempre são borradas por lágrimas...
beeijos

Vera S. disse...

PQp lara ficou muito lindo.
Amei essa parte
« E é assim que fico, sentado nessa cama velha, coração dilacerado, olhos inchados, boca cerrada, e com o que me sobrou de você nas mãos. Preferia antigamente, quando deitávamos nessa cama, colávamos os corações, olhávamos nos olhos, selavamos as bocas, e eu tinha outra coisa em minhas mãos, teu coração. »

«Exatamente 18, dia do nosso primeiro beijo, dia do teu aniversário, dia em que eu consegui a pessoa mais especial na minha vida, e também, o dia de hoje, em que eu a perdi. »
E essa de cima fez-me lembrar exactamente esse caso.


Escrever como garoto deve ser meio complicado, mas ficou lindo mesmo. E é assim que as coisas acabam, perdem o sentido, perdem o valor, e não é mais o mesmo.
O que era perfeito tournou-se mais que imperfeito, e acabou por desaparecer.

Parabéns lara :)
E eu espero que homens assim existam também.

More Than Words disse...

Nossa, arrepiei com esse texto. Muito lindo mesmo, descreveu muitas coisas que eu tenho passado ultimamente. Parabéns Lara

Elania Costa disse...

A dor de amor, destrói a alma, dilacera o coração...Deveria ser possível morrer disso, mas não...
Muito lindo o conto. *-*.
Até Lara :)

Juliana P. disse...

Texto maravilhoso, Lara! Está de parabéns! Depois de ler essa história, fiquei me perguntando: Quantos nesse mundo teriam a atitude que ele teve? Quantos pensariam da mesma maneira que ele? Quantos estariam dispostos a amar assim? Aonde será que eles estão escondidos? Um dia acho essas respostas. Quero acreditar que um dia todas nós vamos ter essas respostas. Um grande beijo pra você.

Denise Medeiros disse...

Devo confessar que assim que vi o tamanho do texto eu pensei em não ler(não tenho paciência para ler post grande), mas pela primeira vez você me fez ficar com os olhos cheios de lágrimas. E talvez, de agora em diante, seja sempre assim. Eu sei que você só vai melhorar mais e mais, me fazendo ficar rindo na frente da tela do pc e falando: Essa menina, hein? Ela é boa mesmo!
Não pare de escrever. Nunca. Nem sequer ouse pensar nisso.
Linda!

Cecília Ferreira disse...

Confesso também que pensei em não ler,porém sempre fico curiosa e tive que ir até o final.
Doente de dor,como o título da postagem anterior "dor antiga e amor novo" talvez seja assim o amor combine com dor mesmo,não sei porque mas minha esperança pede para eu acreditar que o amor tem um rosto belo!
Beijo e tá ótimo seu texto

Mariana disse...

Amei o texto. Você escreve muito bem. Suas palavras são únicas e emocionantes. Vc tem talento!
Gostei muito do blog, já estou seguindo.

Beijos,*
Clique aqui e visite o meu blog.

Vera S. disse...

Nossa que o meu comentário é bem grande lá em cima.
Então lara, você mereçe todos os comentários do mundo ♥ ^-^

Precisava de vir aqui falar uma coisa:
Não tem nada pior que começar um namoro ou algo tão especial no dia de aniversário ou dia comemorativo.
Esperiência própia, infelizmente.
Tudo torna-se mais marcante, mais dificel esquecer.
A data? Você não esquecerá NUNCA, por mais que tente.
A pessoa? Você lembrar-se-á sempre. "Ah sim, aquele garoto lá, aquele que a gente começou no dia do meu aniversário"
Isso dói, isso custa, isso destrói.

Evitem isso, já fiz isso duas vezes e acreditem que em parte acho engraçado e feliz.. começar namoro em aniversário e no natal.. agora? Agora é inesquecível. E as memórias ninguém vai apagar por mim.


Continue, lara ♥

Jeniffer Yara disse...

Muito triste,mas lindo,ahh como você escreve lindamente,em um eu-lírico masculino ainda!

Surpreendente o final,amei o/

Beijos

Anônimo disse...

Oláaaaa!
Quanto tempooooo! :D
Olha desculpa a correria mas to passando aqui só pra avisar que eu voltei com os blogs. Tanto o "no papel da bala" quanto o "hard candy".
Então nos falamos logo logo! :D
bjsss!

Yasmin disse...

eu acho que já fiquei até sem palavras, sério. ESSE TEXTO ESTÁ MARAVILHOSO. A cada linha que eu lia, meu coração tava se apertando, conforme o decorrer da historia. Como é que você consegue, linda? O seu blog já o meu favorito, com certeza. Amei.

:*

Anônimo disse...

Nossa q lindo! Texto maravilhoso...
Bom, achei teu blog uns dias atrás e seus textos são maravilhosos, parabéns!

Bjs Gabi'