junho 22, 2015

Dividir-se


Sempre utilizo a mesma metáfora e dessa vez não vai ser diferente. O baú de dentro, sempre trancado a muito mais que sete chaves, tem sido aberto no decorrer dos últimos anos e tornando-se incrivelmente mais pesado. Como se a cada vez que liberasse um pouco do seu conteúdo o vazio pesasse o triplo. E agora, depois de algumas saídas, às vezes involuntárias confesso, seu peso me dói as costas, pés e coração. É mais fácil quando o que se esconde dentro de si continua guardado, trancado e somente seu. Mas carrego em mim pesos de outros, palavras ditas e sentimentos compartilhados. É difícil levar mais alguém em você. Os passos, antes tão facilmente dados, agora são repensados e analisados regularmente. Porque não dá pra simplesmente seguir em frente, é preciso às vezes ficar, curtir e até mesmo regredir. 
Os tais segredos, antes tão meus, agora percorrem outros corpos. Algumas palavras que jamais pensei pronunciar para terceiros acabaram escapulindo e buscando respostas. E acharam. Carrego em mim os sentimentos que deixei crescer, a partir de uma mísera semente que plantei sem ao menos perceber, e reguei durante dias, semanas e meses. O grão que escondia em mim tornou-se uma árvore grande e pesada. O baú, antes tão bem lacrado, hoje demonstra sinais de lotação. Daqui há um tempo não haverá mais espaço e estou querendo eu entender qual o real significado dessa metáfora. Sou eu que não deveria mais alimentar essas sementes? É ele que deveria levar suas mudas? Como faço para lidar com a minha carga? Estou literalmente presa em minhas metáforas, buscando ajuda em frases vazias.
Mas agora o essencial é dividir. Deixar um pouco da carga com o outro para que não pese só em mim todas essas questões que agora me invadem. As tais dúvidas, os medos, pesadelos e inseguranças. Porque se o baú abrir muito eu vazo, e se fechar eu caio. É uma eterna inconstância de sentimentos a escapar e a entrar. Pesa. E não sei lidar com essas cargas emocionais, sejam minhas ou de outros. Me pergunto como os outros seguem carregando tantos quilos a mais. Então eu vejo que a carga deles é pela metade, entre os dedos estão as pequenas quantidades que ambos carregam juntos. Como isso pode funcionar? Os nossos dedos trançados ainda não conseguiram tirar essa minha carga. E quando mais uma vez eles se soltam eu sinto um quilo a mais chegar. Porque ao mesmo tempo que tenho toda essa carga contigo, a tua ausência me pesa ainda mais. 

"Just hold me closer and never let me go."

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