novembro 17, 2014

O mesmo hino


Voltei a deixar a mesma música tocar por vezes e vezes seguidas sem me importar com a repetição. Voltei a deixar a porta sempre fechada. Voltei a abrir aquela gaveta. Voltei a caminhar pelas ruas mergulhada em um universo que talvez nem exista. Voltei a escrever sobre essa coisa toda blue, a saudade, melancolia ou o que seja. 
A música me alcança, a porta continua me prendendo dentro de mim, a gaveta traz todas as recordações escondidas, as ruas buscam você. Mas a gente nunca se encontra. A tua estrada seguiu um rumo diferente da que eu tô acostumada. Sigo para a esquerda e você cisma em voltar pela direita. Volta pra esquerda. Aproveita essa maré de retornos, e retorna. Liga a seta do carro, dá um adeus rápido e segue na minha direção. Há uma placa grande e fluorescente te dizendo para continuar a seguir. Não desiste assim. Retorna. Retorna a ligação que eu ainda não fiz, mas insinuei naqueles números que te deixei. Liga e ouve mais uma vez meus silêncios, e deixa que eu ouça mais uma vez qualquer coisa. Qualquer coisa que me faça acreditar que não é em vão. É? Não deixa que seja. 
Voltei a assistir aqueles filmes um tanto quanto doentios. Há sempre um fim sem volta. Há sempre quilômetros não rodados por nenhum dos dois. Há sempre finais. Mergulhei em leituras diversas, tentei fugir das letras que me trouxessem qualquer sentimento. Mas o que me adianta, não as leio, escrevo. Voltei a ser aquela menina que se esconde atrás de frases clichês e de risadas sem humor. E falei tanto, alonguei ideias aleatórias só para que não tivesse fim. Porque não aguento mais o fim de nada. A música não acaba, os filmes se repetem, as vírgulas se reproduzem, as cartas se triplicam. Não coloque pontos finais onde finalizamos com reticências. Não deixa que o diálogo mal conduzido termine com um frase boba da emissora que não soube lidar com a função fática da vida.
Voltei a farejar pelos quatro cantos indícios, sinais ou restos que sobraram. Mas não há mais nada. Já se passou muito tempo. Muitos móveis mudaram de lugar, muitas pessoas passaram por essas mesmas ruas e corredores. E por mais que tudo pareça diferente, no fundo é sempre igual. Há ainda naquele espelho rabiscado um casal abraçado, uma esquina com pegadas duplas e uma despedida de lágrimas engolidas. Passaram-se anos e ainda sinto gotas rolarem vez ou outra. Elas também voltaram. E são tantas reviravoltas, tanta bagunça para organizar, tanta falta. Me falta vontade de arrumar as roupas, me falta tempo para realmente pensar, me falta. Simplesmente isso: falta. Ela não voltou, porque na verdade nunca foi para lugar algum. A falta vive em mim. Estou farta. Mas ainda falta. 

E o hino nunca muda. 

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