junho 02, 2014

Dois segundos


"I'm falling for your eyes, but they don't know me yet.."*

Quando me dizem que os olhos são a janela da alma fico meio receosa e acabo levando para o literal. Por favor, não me encare tão friamente durante esses dois segundos eternos, porque sinto que me desvenda em cada milímetro. Está lendo as minhas entrelinhas, minhas fugas e receios. Você abre as fechaduras que tranquei com tanto cuidado, para que ninguém pudesse invadir novamente esse local tão meu. Não repara a bagunça, faz um tempo que mantenho tudo isso trancado. É tão estranho me reconhecer a partir de outros olhos, que conseguiram assim, numa tarde qualquer, destrancar a primeira fechadura e não querer parar no primeiro andar. Obrigada por continuar, mesmo tendo um empecilho aqui ou ali, travas que não abriam na segunda tentativa, corredores longos sem saídas previstas ou até mesmo algum trevo sem saída. 
Enfim os tais segundos que trazem o calor dos lábios, mas as palavras dos olhos. A metáfora não tá errada, a troca de personagem foi proposital. Os olhos falam enquanto as bocas se observam sem se tocar. E te digo que nunca foram ditas tanta coisa sem uma única palavra do que nesses poucos segundos que sucedem o encontro dos lábios. Os três segundos que precedem tal fato trazem mil e um sentimentos que te fazem tremer da cabeça aos pés, mas os dois segundos após, não há tremores. Não há borboletas. Não há receio de toques. Não é preciso tocar. Pois meus olhos estão encontrando os teus em uma dimensão completamente diferente desse plano do agora, estamos unidos em um lugar que não existe aqui, mas dentro. Há uma ligação sendo feita e é melhor não interromper, porque talvez não ocorra novamente. É a partir dela que as trancas são abertas, que a alma se torna exposta e nos deparamos com uma visão diferente daquela de sempre. 
O coração passa a bater em uma compasso diferente, como se completasse uma outra música, que acho bem que já ouvi vez ou outra tocar dentro do teu peito. Os dedos procuram por outros para preencher seus vãos. A gente se procura como se precisasse preencher uma lacuna ou outra de dentro. E preenche. Recobre alguns buracos deixados pelo caminho, contorna certos obstáculos que restaram, e estaciona em frente a um par de olhos. Estou tentando esconder a bagunça que levo aqui dentro, mas é difícil desviar. A ligação já foi feita, talvez não haja outra saída. E quem disse aqui que esses dois segundos, eram apenas segundos, está muito enganado. Os olhares se eternizam. E eternizam um nós. 

Um texto bonitinho, porque afinal junho é um mês que pede esse romantismo. 

Ps: Gente, um texto meu foi publicado no jornal da minha cidade! (link da imagem)

2 comentários:

Letícia Almeida disse...

Parabéns por ter seu texto publicado! Orgulho, emoção e honra são algumas palavras que descrevem essa situação haha Adoro seus textos.

Abraços, faz-sonhar.tumblr.com!

Dudah disse...

Parabéns, tudo muito lindo no seu blog, ameiii..