maio 11, 2014

Mother, should I build the wall?

"Momma's gonna keep baby cozy and warm..." 
"Oh, baby, of course momma's gonna help build the wall." *

Mãe, eu deveria construir um muro? Você acha que eles gostariam de ver todas essas palavras expostas pelas paredes dessa cidade, que você sabe que não faz meu estilo, mas é sua. E sendo sua, é minha. Porque a gente se pertence. E quando digo aqui pertencer, a gente esquece de todas essas baboseiras de romances e passa a entender o que é realmente pertencer a outro alguém. Pois assim como essa cidade, que traz as suas aventuras de criança e travessuras de adolescente, eu sou sua. E juntas construímos tantos e tantos muros, escalamos mais tantos, e construiremos ainda. Mãe, eu devo confiar no governo? Me ajuda a decidir qual caminho seguir de novo, o coleguinha da escola falou que o escorregador verde não dá medo, mas mesmo assim sinto calafrios. O cara barbado da TV anda contando promessas para o mundo, mas eu vou onde você for. Se você me disser que o escorregador verde nem é tanto assim, que a sua mão vai estar ali para eu segurar no fim da descida, eu vou. Eu vou aonde for se eu tiver a sua mão no fim de cada túnel escuro. Porque você é a base que me faz ver que nem toda descida do mundo é suficiente para me deixar cair. Cada cicatriz vai trazer um beijo seu no curativo. Cada dor do mundo traz o som das tuas palavras doces, a tua mão no meu cabelo, o meu corpo no teu colo, enquanto você canta baixinho que "hush now, baby, baby, don't you cry.." E cada lágrima vai sujar mais uma vez teu colo, molhar tuas roupas, atrasar seus compromissos. Mas o mundo anda tão complicado, Renato Russo já cantava essa, e eu quero fazer tudo por você. Não digo só hoje, mas é hoje que escrevo essas coisas todas. Porque afinal, o mundo só é bonito por você. Seja no literal ou metafórico. Seja hoje, amanhã, daqui a dez anos. 
Mãe, você acha que eles jogarão a bomba? Aqui a ordem da canção não altera o produto, porque o resultado final é esse texto, independentemente da enumeração das minhas ideias em parágrafos. Posso jogar aqui agora a bomba que levo comigo todos os dias, a granada que me tornei como aquela personagem do livro popular, mas preciso saber se você estará comigo quando tudo isso acontecer. Não há nada específico, por favor, fique tranquila. Só há sempre esse receio de alguma coisa acontecer, de você se tornar a bomba e de repente sumir de mim. Aquela história de se pertencer é totalmente verdadeira e no literal, mãe é pedaço da gente, e se um dos dois se vai, o outro também perde um pedaço. Eu sempre fui boa com quebra-cabeças, você sabe disso, mas jamais conseguiria te juntar a mim novamente. Nossas peças não se encontrariam. Nossas contas não resultariam em somas. Seria sempre uma eu negativa. A gente leva na ilusão que as pessoas são para sempre, e eu quero acreditar nisso. Só por hoje a gente continua com esse ceticismo, mergulhada nessa ilusão, e tenta esquecer esses receios 'fúteis' que nos lotam vez ou outra. Hoje, pra mim, você é eterna. Isso tudo me lembrou aquela outra canção, bonita, você ouve comigo. Aquele vocal meio rouco da mulher careca, aquelas palavras tão bonitas e tão profundamente cantadas, e elas repetem o clichê que nada se compara com você. E não há nada que te substituiria, seja tia, vó, amiga, amor. Porque afinal, "nothing compares to you". Uma estrutura frasal simples, as palavras são comuns, mas o sentimento é gigantesco. 
O português não me trouxe a explicação de como três letras podem trazer o mundo. Nenhuma música me cantou como pode uma voz, que mesmo nunca tendo ganhado nenhum reality show, consegue ser a única a nos acalmar desde criança no berço as quatro da manhã. Nenhum livro me trouxe a descrição perfeita dos carinhos de uma mãe no decorrer de uma vida. Nenhuma poesia me trouxe a metáfora que retratasse tudo isso. Mãe não se encaixa na hipérbole, porque qualquer exagero seria pouco. Muito menos nas elipses, porque ela não esconde nada. Nenhuma pintura me explica como um rosto, que eu roubei certos traços, pode trazer paz. Sei que fugi da canção, me perdoe. Há muito tempo não consigo seguir meus roteiros, ainda mais falando de um assunto tão delicado. Houve tantas pausas pelo caminho que tenho certeza que desliguei certas frases, desconectei certas coesões, desencaixei algumas orações. Tô só tentando retratar essa figura que muitos cantam, gritam, escrevem, pintam, mas não dizem muito. A linguagem fica difícil, as palavras querem fugir dos clichês, mas a gente sempre acaba caindo nos de sempre. Eu te amo. É o clichê universal, mas é a verdade também.  

Mãe, você acha que eles gostarão desse texto?

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo Lara, mas parece meio triste. Por quê ?