novembro 06, 2012

Com pressa



Vim falar da calma que não tenho. Vim falar da vontade de deixar tudo correr como o vento numa tarde, calminha, sem pressa. Falar do barulho da chuva quando a noite chega, bem devagar, sem pressa. Dos casais que andam pelos parques de mãos dadas, e dão longos abraços, sem pressa. Do pai vendo o filho cantar aquela do Fábio Junior, todo bonitinho com os nós dos dedos brancos de nervosismo, curtindo cada palavra, sem pressa. Essa pressa que reina em mim. A ansiedade para que o vento cesse, pra que a chuva passe, que o abraço acabe, que o ano vire e a vida mude. A vontade do agora, sem paciência para futuros tardios. O presente é a questão que deve ser resolvida, o tempo não para, ele corre e pede pra que escolha a alternativa certa. Não há outro cartão-resposta. 
O ano desandou, o doze que era doce tá quase estragando devido ao calor e ao tempo. Os dias não tem mais 24 horas, se contentam com apenas 10. As semanas se resumem em cinco dias, os meses em duas semanas, e assim o ano se transforma em dois meses apenas. Dois meses. E dá tempo de tudo? Dá pra correr atrás futuro quando ele já teve tanto tempo de vantagem? Tô cansada, talvez não consiga correr nem duas semanas, quem dirá dois meses. Quem dirá para um futuro. Quem dirá um sonho. Mas é sonho, e sonho a gente tira coragem de onde não tem, só que até o sonho tá meio distante demais. Igual tantos outras coisas que foram e não voltam, talvez meus sonhos fiquem todos distantes. Tempo e espaço me lembram física, e eu odeio física. E me lembram você. Mas essa não é a sua hora, é minha.
Hora essa que eu não sei como lidar, como dividir os minutos nem se vale a pena lutar mais. Vale? Tem pouquinho tempo, a vontade também é bem pouquinha, o desânimo é tão grande. As oportunidades não são grandes, mas as poucas que são já causam um nó. E tem a pressa. A bendita pressa que faz com que eu não consiga desenrolar meus pensamentos com calma, deixando o nó mais forte e mais difícil de resolver. Não dá só pra pegar a tesoura e cortar de uma vez, tem um sentimento de esperança encapando cada pensamento, e isso não se corta, dói muito. A esperança deixa tudo mais bonito, mesmo com a realidade dando ás caras sempre que ela se sobressai. Realidade dói, e eu odeio ser assim, tão realista. Um tantinho pessimista também, confesso. 
Essa é mais uma tarde que se vai com um vento calmo batendo na vidraça da janela, sem pressa alguma. Mais um texto que escrevo, com toda a pressa dos meus dedos que correm por esse teclado e dos sentimentos que invadem-me. Mais um dia que passa com pressa, já tá quase no fim e eu não estudei, não sorri, não vivi. Escrevi. E talvez escrever seja viver em palavras, mas quem dera eu conseguisse viver assim. Escrever mais mata que revive, fere mais que navalha e ocorre depressa, sem que a gente nem perceba já fez um texto contendo todo um medo exposto e mais uma ferida aberta. Tudo tão rápido que só dói no final, quando o dia acaba e a única coisa que restou são palavras amontoadas. Palavras... De que me valem as palavras a não ser para mais um desabafo? Talvez, quem sabe um dia, elas sirvam para me reconhecer enquanto outros me leem num parque, quarto ou viagem. 
E esse é um texto em que termino com pressa, sem meus parágrafos de regra ou coisas assim. Não há ninguém chamando, não há nada mais para fazer, mas eu simplesmente tenho pressa e devo ir. É um adeus, pra daqui a mais um dia. Ou talvez no próximo ano, já que não se sabe mais a rapidez com que isso ocorre.

Esse é só mais um desabafo de uma menina apavorada com o mês de novembro e suas provas que julgam carreiras. 

2 comentários:

Ariana Coimbra disse...

Bom, não sei o que dizer, desculpa!
Realidade dói mesmo e deve ser por isso que não consigo comentar, porque esta doendo agora!

Amei o texto!

Beijo

Keith Pappen disse...

Realidade dói mesmo. A gente tem que aceitar, mesmo as vezes não querendo. O mundo está na pressa, quase não existe mais calma. Beijããão. Adorei o texto.

www.detalhesamor.blogspot.com / @keithpappen