setembro 09, 2012

Um poema e uma cadeira



Tenho medo que a nossa história termine como aquela daquele filme. Teve amor, teve dor, teve lágrimas, mas teve fim. E eu não quero que tenha fim. Não vivo em contos de fadas, não acredito em "para sempre", mas é de chorar quando penso que depois de tudo ainda haja um fim para acontecer. E os atrasos não serão descontados no final? Não teremos pelo menos uns 5 anos pra botar no final da conta? Exijo meus direitos, exija os seus também, vamos lutar só um pouquinho pra gente sair do roteiro. Rasga essas folhas que te entregaram, nem leia, deixa que eu reescreva nossa história. Prometo que não exagero, vou deixar nossa vida com a cara da gente, sem demonstrações de amor piegas ou frases clichês num restaurante. Posso escrever um capítulo inteiro só de você me ensinando algum efeito químico maluco e confuso, contrapondo com o meu capítulo onde a gente vai viajar e eu perco o mapa de propósito.
Só que querendo ou não, isso é tão aquele filme. E eu tenho medo daquele filme. Me mostre mais milhões de filmes de terror e suspense, só não me deixa assistir de novo o nosso fim naquelas cenas. No nosso roteiro te mostrarei todos os outros roteiros que pensei na tua ausência, sim, existem vários. É quase como um diário de nós, em que só eu vivi e senti todas aquelas cenas descritas, chorei aquelas lágrimas que marcaram, ri das suas piadas de papel. Um nós ali, em meio a folhas, e gritos guardados em palavras. Lá ela escrevia também, lembro dela lendo o primeiro poema bobo que fizera pra ele, e ele com seu bloquinho cheio de desenhos mostrara um desenho dela. É uma cena linda, um poema e um desenho, ambos mal feitos, ambos apaixonados, ambos acabando numa lata de lixo qualquer. Não quero que nosso roteiro acabe na sua lata de lixo, não quero que os meus poemas acabam na lixeira. Não quero que a gente acabe jogado cada um em um canto. 
Ainda ouço a trilha sonora que, diga-se de passagem, dói-me mais que qualquer outra música que me lembre você. Porque essa música é feita para quando as letrinhas estão subindo na tela do cinema, no fim do filme, no fim da gente. Quando cada um tiver indo para um canto naquele aeroporto, eu indo e você ficando, você indo pro norte e eu continuando no sul, talvez toque aquela música. Mas aí eu ia gritar pra que parasse, o roteiro se dispersou, tá tudo indo conforme o meu pesadelo. Eu fujo do avião, você cancela o táxi, e a gente resolve que não tem partidas. Por favor, não vá para lugar nenhum. Não vamos deixar que essa música toque pra gente. Mesmo que eu tiver que ir, não ouça a música. Talvez seja ela a grande vilã. Hoje, mesmo não te tendo, a música parece me dizer que nossos roteiros ficarão só em papéis. O nosso nós viverá só nos meus textos, livros e poemas. 
E o diário? O roteiro já escrito? O sentimento? Tem coisa que não dá "só" pra jogar no lixo. O diário eu posso reutilizar o papel pra uma história nova, talvez uma viagem pra fora contando travessuras de uma aventureira. O roteiro eu dou pra alguém que melhor saiba utilizar, ou use-o para fazer dobraduras e pendurar no meu teto. Assim você estaria sempre voando sobre mim, mesmo longe. E o sentimento? Sentimento não se recicla. As folhas do diário contariam, rabiscado num cantinho, que eu sinto sua falta. O papel do roteiro já feito dobradura me lembraria você na sombra da noite, no balanço do vento. Tudo isso porque o sentimento não vai pro lixo, ele continua. Passe meses e anos, ele continua sempre mais forte. Venham pessoas novas, tanto pra mim quanto pra você, sempre tem uma hora da noite que a gente se grita e as estrelas transmitem essa saudade mesmo cada um de um lado do mundo. 
Quando me perguntam se eu já assisti aquela filme, deixo bem claro que sim e que odiei. E eu continuo odiando, mesmo ouvindo as músicas e vendo certas cenas algumas vezes. Um tanto masoquista, pois só de lembrar já me tortura. Cada cena, mesmo romântica do início, dói. O começo, tão lindo, tão meu, tão seu, me faz chorar tanto quanto o final. Que eu espero nunca ser nosso. É um amor tão bonito, desgastado, mostrado assim, sem as fantasias dos romances melosos que estou acostumada. Eu sei que nada é pra sempre, eu sei que amor acaba, eu sei que é só um filme, mas isso também é só mais um texto. Essas são só mais algumas lágrimas, só não quero nós sejamos apenas mais uma história de amor. As letrinhas do final estão subindo, a música já está tocando bem baixinha. Vamos pegar essas letras tantas e criar um novo roteiro? Vai ser só mais um roteiro, e mais um e mais um...

Quem assistiu sabe, esse filme é de chorar a alma. 

4 comentários:

Bruna Cerqueira disse...

Cada texto escrito você melhora mais. Parabéns!

Ana Clara disse...

Cada palavra tua descreve um pedaço da minha alma!
Perfeito teus textos, mas este, ah, este é o meu preferido! rs
Parabéns!

Amanda Raviny disse...

Sem palavras para toda essa maravilha. Parabéns!

Anônimo disse...

Seus textos são tão.. Perfeitos. Apaixonada nesse blog, parabéns.