julho 08, 2012

Meu brinquedo


Lembra da tua infância, de quando eras uma criança pequena, e queria aquele brinquedo mais que tudo nesse mundo? E dizia só se sentir completo com o tal brinquedo? O tênis que pisca, a bola desenhada, o quebra-cabeça gigante, o carrinho com controle remoto, a coleção de super-heróis... Mas você era completo sem o esperado brinquedo, sim, eu sei que a gente via aquelas outras crianças brincando e ficava com uma vontade tão, mas tão grande, de brincar também que doía. Passava noites em claro planejando os finais de semana com a pipa nova que nunca chegava, imaginava a semana no colégio ao exibir o tênis piscante que nunca ganhou, as queimadas com a bola desenhada. Só que enquanto o brinquedo continuava na prateleira das lojas, sobravam faltas. Eu senti sua falta.
Você não tem controle remoto, mesmo eu querendo por várias e várias vezes controlar todos teus atos. Você não pisca, mas seu sorriso me ilumina. Você não é uma coleção de super-heróis, mas, por mais clichê que isso soe, tu é meu herói e foi por tantas vezes em tantas histórias. E eu te ponho num pedestal tão grande, no pódio do primeiro lugar tu nunca saíra, o brinquedo mais caro, mais querido, mais sonhado, mais amado. Desenhei tantos barquinhos e carrinhos e bonecos e bolas, mas nenhum deles chegava. Deixava na porta da geladeira, na porta do quarto, nas paredes da casa, te deixava em todos os cantos para ver se viam que eu te queria, mas ninguém se importava. Nunca chegava o embrulho com o meu brinquedo. Minha campainha nunca tocava com você do outro lado da porta.
Veio o aniversário, não veio o brinquedo. Veio o natal, vieram inúmeros outros, tão bonitos quanto, mas nenhum mais. Nenhum chegava a tocar o primeiro lugar. Não, jamais, a minha bola desenhada sempre foi extremamente mais importante que qualquer outra bola boba. Por mais bonito que o tênis colorido era, ele não piscava. Por mais rápido que o carrinho á pilha fosse, ele não tinha um controle. Por mais que qualquer um aparecesse, ele não era você. E nem que se passasse mil anos, eu ainda esperaria a cada embrulho o meu brinquedo. Mesmo que todos dissessem que não vendessem mais, que está fora de moda, esperei em todos os embrulhos o teu sorriso a iluminar como meu tênis que pisca. Mas os embrulhos eram sempre tão escuros e tristes.
Só que uma vez eu ganhei uma boneca que cantava, eu sei, uma coleção de super-heróis superariam qualquer boneca boba, mas eu gostei tanto da boneca. Cada vez que eu apertava as costas ela cantava uma música diferente, me encantava. Eu nunca esqueci meu brinquedo, mas andava pensando demais em como minha boneca cantante era divertida e me fazia feliz. E fazia, viu? Manhãs, tardes e noites tinham a trilha sonora daquela boneca. Tão linda. Não, ela não iluminava como um tênis que pisca, muito menos corria como um carrinho com controle remoto, mas ela existia e estava presente. Era isso. A boneca tava do meu lado nas noites escuras, mesmo que não piscasse, deitava ela comigo e ela cantava uma canção calminha para eu dormir bem.
E agora, tão dizendo que o brinquedo tá chegando, em um desses embrulhos escondidos no fundo do armário eu sinto que o meu brinquedo está. E se estiver? E a minha boneca que canta? Eu gosto dela, muito, ela me ajudou tanto. Ouviu meus choros durante as noites, correu comigo nos dias de sol, montou meu coração como se fosse quebra-cabeça. Tem gente que merece tanto afeto, e simplesmente o afeto não vem. E tem outros, que nem precisam estar presente, que tem tudo. O afeto, o coração, o primeiro lugar no pódio... Já não sei se devo abrir os presentes, talvez eu não aguente, nenhuma criança sabe o que fazer quando ganha dois presentes muito grandes. Sempre um acaba caindo no chão, e eu não quero que nenhum se quebre.

Um comentário:

Bruna Corrêa disse...

Você sempre escrevendo assim né Lara, me encantando com as suas palavras. O blog está lindo, e mesmo depois de tanto tempo que eu o frequento você nunca perde a tonalidade exata para me tocar e fazer com que eu me sinta em seus textos. Adorei. Beijo.