janeiro 27, 2012

Conto: "Cuida dele Lua."


Era verão, mas o tempo estava escuro. Mais chuva. Amanhã seria o tal dia, o dia que ela tanto evitou pensar, mas que pensava todo momento. Ele partiria. Não, não é a primeira vez. Mas doía como se fosse a primeira, a agonia tomava conta: será que ele volta? Ele sempre voltava, ás vezes demora uma semana ou mais do que o prazo estimado, mas sempre estivera ali, com ela. Abraça-o forte ali na cama, querendo guardar seu cheiro nela pra que pudesse sentir sempre que estivesse com saudades. Olhou cada pequeno detalhe de sua nuca, os pequenos cachos que ali se formavam, cada pinta em suas costas... "Vou sentir tanta falta disso." E iria mesmo, iria chorar noites inteiras e almejar uma ligação de madrugada só pra ouvir um "estou bem, te amo" rápido, como fizera pouquíssimas vezes durante sua ausência. 
Já era hora. O dia amanhecera e ela acordou com a cama vazia ao seu lado. Um bilhete na cabeceira da cama, escrito as pressas com uma caligrafia que ela já conhecia: "Vou indo meu amor, não quis te acordar porque sei o quanto não gosta de despedidas, e isso não é uma despedida, eu voltarei. E se não voltar, saiba que eu nem por um minuto deixei de te amar. Nem por um minuto. Com todo amor do mundo, seu amor." E ela chorou como sempre chorava, abraçou o bilhete e quis colá-lo no coração para lembrar dele. Reparara que ele havia preparado o café, foi para a cozinha e viu ali um jarro com margaridas e outro bilhete: "Só porque são as suas preferidas. Enxuga essas lágrimas, sorri, porque você sabe o quanto eu gosto do teu sorriso, te quero feliz. Te amo!" E ela sorriu. Mas não durou muito, as lágrimas sempre venciam, o primeiro dia longe sempre é um dos mais difíceis. Na verdade, todos eram, mas esse ela sentia na alma cada falta. 
O dia passou entre algumas notas de solidão na vitrola, lágrimas no rosto e uma cama desarrumada. Ela não queria trocar os lençóis, o cheiro dele ainda estava ali. Deitou-se e abraçou aquele travesseiro imaginando onde ele estaria. Estaria ainda no país? Qual estado? Estaria bem? A guerra já começara? Estaria mesmo bem? A lua já iluminava o quarto, fora pra janela e olhou fixamente para a grande bola branca parada lá no céu. "Lua, cuida bem dele, Lua, cê sabe que eu gosto tanto dele..." E a lua sabia, ouvia toda noite os lamúrios da pobre moça que chorava, chorava, chorava... Gritava, em meio aos choros, o quanto queria que a lua cuidasse do bom moço. E ela olhava pra lua, e ele, lá em outro país, num acampamento desconfortável, enquanto todos os outros dormiam, olhava pra lua e pediu "Lua, dona Lua, cuida dela pra mim. Não deixa que ela chore, cuida dela.." Um "eu te amo" de ambos os lados finalizava essa conversa com a dona Lua. 
A semana passou. Um certo dia, antes de sair para o trabalho, o carteiro trouxe-lhe uma carta. Ela sabia que era dele. "Minha querida, a saudade está me corroendo mais do que nunca, sinto tanta falta tua. Tanta. Não vou te esconder nada, então não se desespere com o que direi agora, eu estou ferido. Levei um tiro, fui desatento, mas fique tranquila que não é grave. Estou escrevendo-te porque estou no hospital da base mais próxima e aqui tenho tempo de escrever. Acertou-me a perna, sorte que fora de raspão, ficarei apenas mais um dia, já estou bem melhor. Ainda dói de vez em quando, mas ficarei bem. Não chore muito, eu não gosto de pensar que te faço triste, fica bem. Talvez eu demore mais algumas semanas dessa vez, mas eu volto. Por favor, não chore. Me prometa uma coisa? Sorria. Eu te amo." Mas ela chorou. E muito. Pensou no tiro, nas semanas cruéis que teria que enfrentar, em como a situação deveria estar complicada, e chorou pela raiva que sentia da guerra.
As semanas passaram, cada uma dilacerando-na um pouco mais. A noite ela sentava e conversava com a lua. Chorava. Pensava em quanto uma saudade pode destruir alguém. A gente sorri e imagina ele vendo teu sorriso. A gente vê um filme e quer contar pra ele. Ouve uma música e quer ver ele se irritar por achá-la melosa demais. Respira e quer ele ao lado pra acompanhar. Mas ele não está. Ele ainda vai demorar pra voltar. E tudo fica frio. É tudo saudade. Numa manhã, um tanto quanto bonita, ela levanta e vai sem ânimo para a cozinha pensando "Mais um dia..", descabelada, de pijama, um caco, ela encontra ele sentado a mesa lendo o jornal. E em meio á abraços, beijos, cafunés, carinhos, a única coisa que a gente escutava era: "eu te amo". 

Esse texto me fez chorar enquanto escrevia, acho que ando sentimental demais.  Gostaram?

8 comentários:

Anônimo disse...

LINDOOOOOOOOOOOOO , CHOREEEI =/

Gilstéfany disse...

Lara... que conto lindo. Amei. Este é meu segundo preferido depois de 'Norte e Sul'. Lindo!

Anônimo disse...

Quase choro, o texto é muito lindo.
Ameei muitoo *--*

beijinhoos ;*
garotanadanormal.blospot.com

Yasmin disse...

Quando li os bilhetes, meus olhos encheram d'água. Essa coisa de saudade, tortura. Deve torturar mais ainda quando não se sabe como o outro está. Me veio tantas referências enquanto li... Querido John, Talking to the Moon... HAHA adorei, Lara!

Maíra Cunha disse...

É maravilhoso! Estou seguindo! Ficaria grata com sua visita!
http://fazdecontatxt.blogspot.com

Amanda V. disse...

Juro que chorei :/ Que texto mais lindo, Larinha *-* Ameeei :)

Raúla Yasmin disse...

MUITO LINDOOOO *--*
Ah, mas fiquei ainda mais triste, longe do meu amor :/
Mas é lindo, Lara!
Parabéns!
Beijinhos :*

Anônimo disse...

O texto é lindo,a lara mais ainda