tag:blogger.com,1999:blog-83570312650391017442024-03-19T02:17:28.790-07:00memórias escritasLara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.comBlogger324125tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-88766044321977876682017-11-12T16:00:00.000-08:002017-11-12T16:00:22.850-08:00Para você dar nome<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://78.media.tumblr.com/481ebcff0e570ce0818ba1d37c545959/tumblr_owv00ycinf1wcztofo1_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://78.media.tumblr.com/481ebcff0e570ce0818ba1d37c545959/tumblr_owv00ycinf1wcztofo1_1280.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Acabei de colocar a camiseta para lavar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">As horas passaram mais rápido do que eu pudesse dar conta, a água da chuva secou duas vezes. Antes estivera úmida, no final do dia bem pouco, quase não dava para sentir, mas eu sentia. Ali na gola, perto do pescoço, ainda sentia uma gotículas mínimas. Ninguém reparou que na segunda ida ao mercado eu continuava com ela. Os colegas da noite também não notaram a umidade nas mangas, ou o peso do peito. A chuva caiu de novo naquela noite. Estava mais fraca, tímida, mas esperei, firme, em meio aquelas gotas finas e sem jeito que caíam esparsamente. Me gritaram para voltar, coisas de sereno, gripe ou qualquer falácia de velho, mas eu não quis. Deixei que as horas passassem e que o respingo fino se tornasse a enxurrada de hoje cedo. Sentia cada pingo cravar uma ferida. Eu queria cada marca na pele com força e dor. Eu queria que o vazio de mim fizesse eco, e as gotas se transformassem em uma música calma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">A melodia não tocou. Continuei a ouvir todos os ecos de ontem, todas as risadas distorcidas pela memória. Eu queria discernir cada respiração mais forte, ou um suspiro despercebido, mas o vídeo acelerava cada vez mais. Eu já não conseguia saber a cor das roupas, se era azul ou preto, verde ou cinza. O mundo rodava sem pausas e eu pedia tanto para que o ponteiro deixasse de seguir. E eu corria atrás de cada volta, buscando um retorno, uma fuga, um vão para puxar cada pequena célula que restou naquele ambiente em que eu não fui mais. Tentei recortar todos os pedaços do quebra-cabeça fragmentado que o tempo me deu, mas boa parte dele continuou perdida em um espaço que não existe. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Lembrei-me das palavras. Havia muitas palavras escritas em diversas folhas, mas eu só via rabiscos. Sabia ter o meu jeito torto de desenhar o 'Q', e as palavras finais sempre fora da margem como se quisessem ir além do que é permitido. Eu queria ler além da primeira linha, o pronome de tratamento inventado não me importa, eu queria o cerne daquilo que não alcanço. A chuva borrou a tinta, não era possível alcançar a linguagem do que ficou escrito. Senti o vento forte e frio, destruindo qualquer possibilidade de fuga e segurança. Sinto como se os tetos de mim nadassem por um céu inabitável. Inalcançável. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Procurei em cada canto do tecido uma palavra escondida, uma frase que fosse, só para que eu pudesse reconstruir qualquer coisa perdida. Mas a camiseta apenas mostrava o que já era meu. O meu perfume enjoativo. Os meus fios de cabelo soltos perdidos. As minhas micro, macro, mini, células científicas idiotas. Os desenhos tortos das minhas digitais. O vazio do meu eu. O silêncio de tudo aquilo que não disse preenchendo cada linha fina do algodão colorido. As gotas das lágrimas que ninguém chorou - mas talvez devesse porque o teto se foi, a música não tocou, não há mais palavras em mim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Procuro em cada vão uma vírgula, um ponto, uma risada escrita de forma engraçada. Não encontro. Visto a camiseta ainda úmida, em busca de um pedaço de mim que possa reaparecer, mas ela não serve da mesma forma. A gola está larga, a cintura estranha, as mangas tortas. Escrevo esse texto e erro a pontuação constantemente, perco os parágrafos, pulo linhas. Vai chover novamente e dessa vez eu tenho medo. Eu tenho medo de não poder segurar cada gota que aparecer, porque perdi o dentro, o in, aquela coisa toda profunda que muita gente diz por aí sem saber de nada. Eu digo também, agora, sem saber de nada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">E eu peço, como quem pede uma súplica final antes da morte, que o vento não destrua as páginas que me cobriam, que o fogo não queime nenhuma margem fora do limite. No fim, a gente suplica pelo adiamento da morte, pelo não-fim, pela volta seja pelos céus ou pela terra, apesar de. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-75296016670883341772017-11-01T17:47:00.001-07:002017-11-01T17:47:28.950-07:00Minha fantasia borrada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://78.media.tumblr.com/504c406c531d7fba7a6b3c44487b6a0f/tumblr_ott17oEfqh1wwp1tro1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="480" height="500" src="https://78.media.tumblr.com/504c406c531d7fba7a6b3c44487b6a0f/tumblr_ott17oEfqh1wwp1tro1_500.gif" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Luz azul. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Como em uma rubrica de uma peça de teatro tomamos nota das ações e do espaço. A cor balança entre os meus seios e pernas, para alimentando cada pequena parte de mim. A luz preenche meu corpo vazio. A plateia cheia de você. A repetição dos silêncios. O 'a' de azul que quebra a sequência de anáforas e construções sintáticas que você não ouve. Olho para os seus olhos no meio da luz branca que me cega. Delimito a sua presença com base nas memórias falhas que guardei, esperando acertar na cor da camisa xadrez e no lugar à direita. Quero entrar na sua cabeça, desabotoar sua camisa e dizer todas aquelas coisas que eu nunca disse. O diretor impede a ação, continuo parada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Luz azul. Continua.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Imagino teus olhos percorrendo meu corpo como um cego que tateia os rastros nas paredes. Guarda o lugar em que dobra a cintura na direita, a pinta no ombro esquerdo e aquela palavra rabiscada na pele. Te ouço cantarolar as canções que existem em mim e que você nunca decorou a letra. E você me leu tantas vezes. Escuto suas leituras de mim ecoando entre as cortinas e coxias. O palco gélido sob meus pés vibra com os passos que você não deu. O braço arrepia com o toque da sua mão que não me alcança. Mergulhada na imensidão azulada eu espero que você me salve, mesmo sendo eu a que sabe nadar melhor de nós dois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Luz azul escurecendo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Eu tenho medo. Medo de deixar de ser. Medo de ir. A luz branca parece ainda mais forte. Sinto tonturas. Meu corpo balança com as ondas que refletem na minha pele clara. Vê o mar revolto que habita em mim. Ouve os gritos das pessoas que aqui se afogam. E eu grito tanto para que você não entre. Não se afogue. Não vá mais fundo. Mas você me atinge na medula. Desespero. Lágrimas. O azul, cada vez mais preto, esconde meu rosto. Você perdeu a cor da minha íris, o lugar da pinta da bochecha e o corte do meu cabelo. Seus desenhos são falhos e eu vejo as tentativas de rabiscos deformando a minha imagem. Mas não desista. Tenho medo da rubrica que me assola e me apaga. Cada vez mais os meus traços vão se perdendo no escuro do palco, no vão escuro da coxia, escorrendo pelas beiradas dos abismos que não pulei. Sinto seus dedos soltando de leve a ponta dos meus e grito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Silêncio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">O grito mudo para na garganta e não sai. Não estava no script. Quero pegar os roteiros e rasgar, mas não consigo me mover. A fraca luz que ainda resta no meu rosto evidencia a lágrima de silêncio que não escorreu. Mas eu queria tanto que você a ouvisse. Peço que pegue suas canetas e me recrie com o colorido do seu toque. Aperta meus braços, beija minhas pernas, deita em mim. Me completa antes que a escuridão venha. Eu tenho medo do escuro, lembra aquela vez da. A memória falha. Quero inventar um milhão de vocês em um espaço pequeno de segundos, porque no agora eu já não lembro mais dos seus óculos da sua camisa xadrez do seu sapato do seu cheiro do seu toque d. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Luz apaga. Escuro. Música iniciando em tom crescente:</span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i>"You could be my favourite faded fantasy. I've hung my happiness upon what it all could be. And what it all could be... with you."</i></span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Fecha as cortinas. Acende as luzes. Plateia vazia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-960413559321721392017-10-01T18:52:00.002-07:002017-11-01T17:10:28.862-07:00Relatos breves de um ausente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://78.media.tumblr.com/9b0a9e17d367a95069c732af78543e76/tumblr_ox0p1nJtX31qhccldo1_540.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="540" height="498" src="https://78.media.tumblr.com/9b0a9e17d367a95069c732af78543e76/tumblr_ox0p1nJtX31qhccldo1_540.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Chove.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O vento passa entre as frestas da janela cantando aquela melodia surda dos morros. A porta bate sozinha a chegada de alguém que não abre. Os livros leem-se com uma troca de página rápida e violenta. As palavras se embaralham e eu já não sei mais o enredo daquela história, o romance misturou com o teatro, o drama sobressai em mim. Estou rodando a biblioteca, seguindo as sentenças, procurando aquela que me prenda de vez. Em busca do enrendo, fábula ou nó que ate meu laço. A janela sussurra meu nome entre as barras da grade. Resisto. Sobrevivo no ar viciado das grades desse pequeno cômodo, carregando sobre mim o peso dos galhos e figos apodrecidos em mim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A figueira alcança o vidro frágil da redoma que me cerca, mas não chega. Meus galhos finos arranham a transparência do nada. O sangue brota nos cantos da unhas. A dor é nula, mas arde. Como me livrar da parede invisível que me solta nesse mundo sem rédeas? Eu não sei ser. Eu fui, e agora preciso ir, mas estanco. Fixa. Muda. Plantada no solo seco e infértil de uma vida sem flores. Eu vejo a luz refletida na vidraça, o som surdo das pessoas que riem, mas não me atinge. O eco que ecoa em mim é mudo. O oco ressoa o nada que me completa em silêncios. Estou amarrada entre paradoxos. </span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O sangue das unhas mancha o papel de não-ditos. Escrevi tudo aquilo que doeu na ausência e ficou em branco. Tentei pegar a caneta, mas a tinta vermelho-negro não tingiu. A letra ficou estancada no primeiro contorno. O risco escuro e falho borrou o papel no canto esquerdo. É isso. Sou o borro, a falha, a pequenez na imensidão branca que cega e oprime. Estou aqui, engasgada com as memórias que já partiram com o cair do tempo. Quero escorrer o sangue das veias entupidas de mim. Quero estancar a palavra que não sai. O vento derruba o papel, leva a caneta, canta a melodia triste do fim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Corro por entre os corredores de uma linha só. A porta bate. Os ventos choram. Eu grito socorro para a folha em branco de um romance errado. Mas o movimento é surdo. O silêncio preencheu todo o cômodo com seus espaços vazios. O meu oco ecoa no oco do quarto. Fazemos canção. O som corre pelo corredor, procurando algum lugar para, uma fresta que, um alguém que. Onde está você? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Respondo que sempre estive por aqui. Onde está você? Aqui. Onde está você? Sempre aqui. Onde está você? Aqui. Aqui. Eu sempre estive aqui. Você? Sim. Onde? Aqui. Dentro. Está? Oco. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu quero voltar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu preciso voltar. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-29929515571901349112017-05-21T18:40:00.000-07:002017-11-01T17:10:55.501-07:00Abstinência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/255132431/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="https://data.whicdn.com/images/255132431/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O cheiro da sua mão ficou gravado entre meus dedos, mas perdi o toque. Os seus cílios ficaram presos no meu moletom, mas perdi o olhar. Tenho o cheiro do seu perfume nas suas roupas jogadas no chão, mas falta o que preenche. Tenho rascunhos rabiscados com a sua letra, mas falta o som da sua fala. E quando finalmente ouço o som da tua voz naquelas nossas gravações, eu perco o nós. Grudados. Atados. Enlaçados. Onde foi parar a outra parte da fita que você segura e não está aqui? Onde você está? Eu repito aquela do Lobão, apesar dos pesares, e peço para que me chame. Mas você está na sala ao lado. Você foi ali na padaria. A reunião atrasou um pouco. A fila estava grande demais. O trânsito estava complicado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Onde está você com o lado da fita que enlaça o nós? A metáfora é velha, mas querido, segurar essa ponta sozinha talvez sugira ideias erradas, para os outros, porque virou a nossa conversa tantas vezes. A gente brinca entre essas cordas, la(n)çando-nos entre pontes e abismos como dois seres que seguem invencíveis pelos espaços inventados da humanidade. Existimos na fotografia de lugares que não existem mais, como dois fantasmas vivendo a eternidade de um romance clássico inglês. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Mas eu queria toda aquela coisa bonita do cinema hollywoodiano, as saudades de minutos, a falta durante um intervalo e um aperto leve no peito que a gente diz: calma, logo passa. Mas não passa nunca. A falta se tornou abstinência, os minutos percorrem como ácido pelo meu corpo enquanto aguardo o relógio chamar o teu retorno. Me tornei tal qual aqueles que farejam pelos lixos procurando resquícios de seus vícios, rastejo entre esquinas procurando partes de você. Retomo caminhos nossos em busca de uma lembrança que acalente. Sento agora naquele banco sempre nosso e procuro qualquer resquício seu. Me vejo delirando entre ruas e bairros, gritando com estranhos por socorro. Preciso das drogas mais fortes, quero fugir da minha lucidez de ausências e me dão um mísero cigarro. O relógio dosa de forma dolorosa o nosso tempo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">E depois da recuperação eu me odeio, pela minha fraqueza, pelo meu exagero de mais uma vez e sempre. As ruas são os corredores vazios e frios, os gritos são jogados para fora da janela desse andar não tão alto, os túneis escuros refletem a não iluminação proposital do quarto, da sala, de mim. Não aprendi a dosar, é sempre aquela história de oito e oitenta. Pulo do abismo que criei, sozinha, mas a queda nunca chega. O fundo do poço é sempre mais fundo do que a gente espera. Eu só queria ser uma menina protagonista de romance romântico clichê. Quero de volta os meus passos perdidos nas esquinas nessa eterna busca, recuperar o fôlego que perdi nos gritos que ecoaram entre os túneis escuros da cidade e não chegaram a você, trazer de volta a segurança plena e perfeita da mulher que eu era antes de desmontar-me em pedaços de mim toda vez que você se vai.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Essa noite caminho pelas mesmas ruas, remontando cenários e cenas que vivenciamos não muito antes. Percorro as nossas cafeterias e restaurantes, fechados, e pela vitrine vejo o nosso encontro de ontem. Ajeito a gola da sua camisa, torta mais uma vez, mas a vidraça fria é a única resposta que encontro. Refaço a nossa volta, rio daquela cena que vimos durante a volta, até que chegamos. Vejo a luz acesa dentro de casa, consigo visualizar tudo o que acontece ali dentro. Toco a campainha (com a chave no bolso) e aguardo na soleira da tua porta, mais uma vez e sempre. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-59776347999528756502017-05-07T15:23:00.001-07:002017-11-01T17:11:45.878-07:00Eu que não bebo pedi uma dose <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7ELpSBz2GoP3c_JTk0RqF8fDe7qx00P9jm3I9DSoKoAJ-wDM4MjW3ijT6eJGQfaliGnv5d1k7o30WN5TQKtWJ9gXG_kUHfJaSNYRxGmCXqnUeROcTqfpRBNDzmMHZ8jy1zUzUwq_2RCDl/s1600/bar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="414" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7ELpSBz2GoP3c_JTk0RqF8fDe7qx00P9jm3I9DSoKoAJ-wDM4MjW3ijT6eJGQfaliGnv5d1k7o30WN5TQKtWJ9gXG_kUHfJaSNYRxGmCXqnUeROcTqfpRBNDzmMHZ8jy1zUzUwq_2RCDl/s640/bar.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Moço, deixa eu te contar só mais uma. Você tem tipo daqueles caras babacas de bar, esperando que a bebida me engula para que mais tarde você tente o mesmo. Mas queria te contar umas coisas minhas, tão minhas que eu posso apenas espalhar para caras como você. Meu nome é aquele retirado de algum rótulo de bebida barata. Minha idade é baseada na minha vestimenta de menina-adulta-bem sucedida-carente. Você viu tudo isso tão fácil que não precisei jogar, o esteriótipo já estava pronto na sua cabeça. Vou te contar dramas que você vai rir e dizer que é bobagem, e vai querer me abraçar como consolo só pra chegar próximo dos meus seios. E eu vou esquivar, mais uma vez. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Você repara no meu copo sempre cheio, me incentiva e até me banca em muitas doses com gosto de mijo e açúcar. O álcool desce rasgando, e eu disfarço as lágrimas de sempre com a minha fraqueza com destilados. Mas moço, você não vê. Vomito histórias e traumas em cima de você e disfarçando você me paga mais um. Paga e apaga a minha história, anula essas frases todas que eu estou te falando com mais esse copo com pouco gelo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Você já bebeu algumas tantas, eu vejo seu olhar rodar um pouco e a mão estar meio mole. Mas eu continuo. Porque eu preciso te contar que a realidade do sóbrio é cruel. Moço, olha para o meu rosto e encontra as olheiras que eu não escondi. Repara nas marcas do meu rosto cansado, no meu sorriso frouxo amarelado. Vê a lágrima que secou na bochecha durante o terceiro ou quarto pedido. Segura a minha mão fria e trêmula enquanto tô aqui pra te contar tanta coisa. É tão difícil. Você não acha? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu peço para que você olhe nos meus olhos e ouça os gritos da minha alma, mas você olha para as minhas pernas. Escuta, só mais dez minutinhos, o bar vai fechar e a gente vai cair de bêbado na calçada e você vai tentar me levar pra casa e. Por favor, ainda temos um tempinho e eu preciso tanto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Queria que soasse bonito, como a avenca partindo, mas o Caio não me ensinou essa. Você pergunta se Caio é algum ex-namorado e eu digo com uma risada amarela que sim.</span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"> Você não percebe, mas fico roubando textos e frases de autores, porque é muito mais fácil se esconder na palavra alheia. Suplico entre goles: me traduz, lê cada entrelinha escondida nessa minha fala desconexa. Cada gota que eu não bebo é mais uma razão para que você me force mais um drinque. Mais um, e outro, outro, até que meus dedos formiguem e eu já não reconheça nomes ou formas.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Porque sabe seu moço, eu vivo sóbria. A minha vida é vivida na carne, esfolada sem anestesia. Os cortes profundos doem como a morte, e os superficiais ardem inesgotavelmente. Você não sabe como é isso, porque o garçom já sabe seu nome e bebida preferida, o nome dos teus filhos e da tua mulher. Mas eu sei, moço. Eu sei o que é ter uma decepção e sentir ela na pele, corroendo durante dias, meses e anos, sem intervalos. Eu sei como a dor dos dias passa lentamente e as desilusões nunca somem. Vejo tragédias que matam e torturam os outros e o meu sentimento de culpa não some. As mulheres abusadas, as crianças mortas, a fome, o frio, a porra da vida! Mas você não sabe, você as engole em um único gole e tudo bem. O clichê da "vida segue" afundado num copo de bebida funciona muito bem pra você. </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Mas a minha vida estanca. Eu parei aqui e vi a sua mulher preocupada em casa enquanto você me canta com piadas infames. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Olho para frente e o espelho do bar mostra a figura que eu mais temo encontrar. Enquanto sóbria eu vejo cada mínima cicatriz em zoom. Os olhos fundos de noites mal dormidas, de trabalhos acumulados em pilhas de papéis na sala, a maquiagem borrada de mais um dia difícil e lento. A vida é lenta, meu bem, você não acha? Não, não quero dizer que eu gosto da forma mais lenta. A vida, tô falando da merda das nossas vidas. Ela passa em câmera lenta para que a gente curta cada momento ao máximo. Meu u</span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">so frequente de palavras-chulas-não-convencionais faz você me chamar de menina travessa e eu tenho vontade de chorar. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O bar está pra fechar, você pede a saideira e eu rejeito. Não. Mais uma e eu sei que me perco. Eu não bebo, sabe. Pedi uma dose aqui e outra ali pra tentar ser como os outros, mas o resultado foi falho. Mais uma vez. Hoje eu quis colocar essa fantasia que você caiu só pra achar um bobo como você para me ouvir. Vai para casa, toma um banho, dá um beijo na sua mulher e dorme. Porque eu tô indo no meu caminho incerto, de passos tortos e sóbria. Sempre sóbria. </span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> </span></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-67225617220907154382017-03-08T07:01:00.000-08:002017-11-01T17:12:03.369-07:00Quem é a mulher da sua vida?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIeY-1xAgx9OcFuq6YY4Ny5X-LVBZh6sLubJnGo4zc4_QIoFLQozxFKOqqRhBZVGCtpG4_-qAIKyPnzm2rr76V_0ocGgSZOHF8po8UW2N5M38_Kjf7EIzcZeb_nt5Da5mT1dVwKujFOC0_/s1600/mulher.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="560" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIeY-1xAgx9OcFuq6YY4Ny5X-LVBZh6sLubJnGo4zc4_QIoFLQozxFKOqqRhBZVGCtpG4_-qAIKyPnzm2rr76V_0ocGgSZOHF8po8UW2N5M38_Kjf7EIzcZeb_nt5Da5mT1dVwKujFOC0_/s640/mulher.png" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Hoje é dia 8 de março, conhecido também como dia internacional da mulher. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Então eu te lanço essa pergunta: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b>QUEM É A MULHER DA SUA VIDA?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A mulher da vida são tantas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A mulher da minha vida é uma guerreira. Esse é um adjetivo clássico e batido, mas eu acho pertinente sempre. É uma mulher que criou duas filhas sozinha. A mulher que conseguiu fazer com que essas duas meninas crescessem rodeadas de amor, apesar de todos os pesares. A mulher que conseguiu fazer nascer amor próprio em meninas que cresceram ouvindo o quanto eram gordas e feias. Hoje essas meninas se olham no espelho com um sorriso no rosto. Porque a minha mãe me ajudou a acreditar que eu conseguiria emagrecer, se o meu problema fosse meu peso. Mas, principalmente, minha mãe moldou meu caráter de forma que eu não precisasse mais acreditar em bobagens que escutei e escuto. Minha mãe lutou, e luta, todos os dias comigo para ser uma mulher cada vez melhor. E você é. Seremos sempre.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A mulher da minha vida ainda é um pouco pequena, mas grande em todas as suas atitudes. Ela ainda assiste desenhos da Disney com os brilhos nos olhos de uma criança, mas tem uma alma doce de mulher adulta batalhadora. Ela está, dia após dia, lutando contra todas as barreiras da vida e vencendo. E eu tenho muito orgulho de ter plantado sementinhas em você e vê-las florescer. A mulher da minha vida ri com os olhos e bochechas (que quase não existem mais), e sorrindo segue seus dias de guerreira. Somos filhas de uma guerreira, o que mais poderíamos ser, não é mesmo? Venceremos juntas, mesmo que longe. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A mulher da minha vida continua tendo meu sangue, e até mesmo roubei-lhe algumas características físicas que nos fazem ainda mais próximas. Ela me ensinou o que era o feminismo enquanto cozinhávamos gordices para assistirmos algum filme. Foi ela quem me fez mergulhar nesse mundo literário (e feminista) que eu não sabia que gostaria tanto. Ela me ensinou o que é ser mulher, mãe, professora, e nunca descer de um salto. Enxugamos nossas lágrimas juntas tantas vezes, compartilhando nossas inseguranças e injustiças que a vida nos trouxe (e ainda traz). Mas ela se levanta, com a cara maquiada, o perfume marcante, o cabelo sempre bonito, com um sorriso no rosto. E é por essas e outras que tenho tanto orgulho quando me dizem que somos parecidas, que sou a sua versão "mais nova". Eu sei que você vai superar essa barreira e tantas outras que virão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Há duas mulheres que me fizeram (e ainda fazem) mais forte durante parte da minha vida. São duas mulheres que discutem as injustiças femininas enquanto tomam sorvete. Mulheres que conseguem citar para você as leis que defendem ou oprimem as demais mulheres, e se revoltam com a justiça mal feita do nosso país. Mulheres que viajaram longe e viram situações revoltantes de meninas, e com isso criaram um sentimento de luta e esperança. Mulheres que assumem os cachos sem medo de padrões, e são ainda mais lindas por isso. Mulheres que eu tenho orgulho de chamar de amigas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Durante a graduação encontrei algumas mulheres da minha vida. Mulheres que no meio de alguma teoria, seja linguística ou literária, conseguiam inserir a mulher em seus textos. Mulheres que eu já vi, em uma conversa com suas filhas, ensiná-las a serem "mulher" desde pequenas. Ensinando-as sempre a não se submeterem a padrões, a lutarem por seus direitos enquanto meninas, a serem empoderadas desde sempre. Mulheres que eu vi, mais de uma vez, lutando pelas mulheres com um texto xerocado durante a aula. Eu jamais achei que isso seria possível até conhecer todas vocês. Obrigada por me ensinarem que tudo isso é possível, que eu posso ser mulher, ser mãe ou não, ser solteira ou casada, e ainda assim, ser feminista. Vocês são um exemplo de mulher e profissional. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A mulher da minha vida são todas as amigas e colegas que fiz durante o caminho. Amigas que sentam na mesa de um bar e discutem preconceitos que sofreram por fugirem dos padrões, discutem com machistas e assumem, sem medo, sua postura de mulher feminista. Amigas que nunca vi, ou conversei pouquíssimas vezes, mas que estão juntas lutando por uma sociedade mais justa. Somos todas irmãs nessa causa. Agradeço o apoio de sempre e, principalmente, os ensinamentos de todo dia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu queria dizer, por fim, que a mulher da minha vida também sou eu. Sou eu que estou todos os dias na minha pele rabiscada, no meu corpo fora de padrões, no meu corte de cabelo diferente, lutando contra todos os preconceitos e dificuldades que nós enfrentamos. Sou a mulher que se olha no espelho e luta todos os dias para se achar bonita. A mulher que se convence, dia após dia, que é suficiente, que é capaz. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Por isso hoje, repita comigo sem medo: sou bonita, sou inteligente, sou capaz. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">(E você é. Não somente hoje, mas todos os dias). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-23242824458590409982017-02-21T06:26:00.000-08:002017-11-01T17:12:20.513-07:00A faculdade vai ser o pior e o melhor período da sua vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/176589477/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://data.whicdn.com/images/176589477/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: x-small;">(já aviso que esse texto é baseado completamente em experiências particulares, ou seja, você pode ou não concordar/ter vivenciado nada disso) </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu acabei de terminar uma graduação e faz tempo que venho pensando em escrever umas coisinhas sobre. Vou começar com o clichê: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A faculdade vai ser o pior e o melhor período da sua vida. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Você vai chorar. Muito. Você vai chorar antes das provas. Você vai chorar depois das provas. Você vai chorar pelas avaliações pessoais e acadêmicas pelas quais vai passar. Você vai sair com tanta raiva de pessoas e professores em certas noites que vai ser difícil dormir. Você vai odiar o primeiro, o segundo e até mesmo o último ano da sua graduação. Você vai querer desistir um milhão de vezes. Você vai pensar e repensar se esse era o curso certo para você (e existe o curso certo no fim das contas?). Você vai se sentir injustiçado, amedrontado e muitas vezes solitário. Porque você faz um curso sozinho, são suas provas, suas notas, seus problemas. Não tem família que vá para a diretoria reclamar, não há amigos que possam te dar uma mão em certos casos. Você vai cair e levantar sozinho todas as vezes. Você vai sentir uma vontade imensa de gritar, de fugir, de sumir. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Mas ao mesmo tempo, quando aquele resultado de prova sair e você ver uma nota azul e um elogio, você vai querer pular, divulgar pelos corredores, fazer um cartaz. Porque você conseguiu. Você vai sentir um prazer imenso quando aquele professor dá uma aula que te inspira, e você vai comprar todos aqueles livros e ao fim de cada leitura sentir algo que te preenche (e te esvazia, porque quanto mais se lê mais é necessário que se leia). Você vai encontrar amigos (e vai perder os desnecessários). Você vai apresentar em eventos e sentir um frio no estômago toda vez. E vai querer chorar de alegria quando te elogiam e reconhecem o seu esforço. Você vai participar de projetos e pesquisas que vão te enriquecer de uma forma inimaginável, te darão tantas experiências (boas e ruins), tanta dor de cabeça, mas também reconhecimento. Porque você conseguiu mais uma vez. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Você vai chegar no seu último dia e sentir grato por tudo que passou, por toda a ajuda que recebeu, por todo conhecimento que adquiriu. Mas, principalmente, vai sentir um alívio tão grande por ter acabado. E acabou, senhores e senhoras. Eu juro que não parece, que demora, mas um dia acaba. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Você vai ter um histórico com todas as médias acima de 70. Você vai ter sido aprovado em todas as matérias sem nenhum exame. Você vai ter duas aprovações de mestrado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">E você vai estar morrendo de medo do próximo passo. Você vai estar mais uma vez diante desse mundo desconhecido que te amedronta, com medo dos choros e das avaliações (pessoais e acadêmicas) que te aguardam. </span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Mas você vai. </span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Não desista. </span></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-214233454496729842016-12-28T14:10:00.000-08:002017-11-01T17:13:33.029-07:00Fecha o bar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/227570437/large.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="450" src="https://data.whicdn.com/images/227570437/large.png" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Fecha esse bar. Tranca a janela. Rasga logo a última folha do calendário. Adianta o relógio que não passa. Diminui as 96 horas que ainda faltam. O oxigênio está em estado crítico, as mãos já tremem e as pernas recusam-se a se mover. Não consigo mais. Não há quem consiga. As perdas foram poucas, mas significativas. E aqueles que sobreviveram, talvez não tenham de fato. Estamos respirando. Há sangue pulsando nas veias. As funções vitais ainda continuam. Mas eu não.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Eu fiquei. Os trezentos e tantos (mil) dias desse ano me dilaceraram em todos os seus minutos. Os segundos finais torturam minhas entranhas. A acidez dos dias corrói meu ser. Eu não consigo mais. Os pedaços de mim caem a cada passo e já não quero mais tentar recolher os que restaram (e algum restou?). Minha sanidade se esvai conforme todo esse ar poluído me consome. Me perco nas ruas, troco os nomes, esqueço quem sou. No que me tornei? Qual o resultado que levo desses dias? O que restou de mim não responde. Eu não me escuto mais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Escrevo agora em uma tentativa falha de arrancar tudo que dói, fede e apodrece em mim. Eu, podre, quebrada e vazia. Eu, que já não consigo escolher frases e dividir parágrafos de forma coerente. Eu, que desisti daqui. Eu que me perdi e não consigo mais voltar. Meu caminho foi apagado, minha casa não existe, meu destino está escuro. Há sempre uma irônica luz no fim dos túneis, mas eu não quero abrir os olhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">E eu quis recusar abrir os olhos tantas vezes. Imaginava um carro desgovernado em uma estrada qualquer, na volta do trabalho, no caminho sem destinos. Uma pressa absurda para que tudo acabasse. Mas não acabou. As ruas da cidade se acostumaram com meus olhos inchados e soluços, o travesseiro nunca mais secou, meu corpo continua salgado das lágrimas durante o banho. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Gritei em microfones, mas estou muda e oca. Minha voz abandonou meu corpo, assim como muitos outros. Tive quedas e recusei todas as mãos que apareceram. Para que levantar? Cada queda quebrava todos os meus ossos, dilacerava minhas veias e minha cabeça se partia em dois. Estava com meu corpo inteiro em "fratura exposta" e ainda assim me viam em códigos. Eu fui o algoritmo não decifrado e esquecido em um livro de fórmulas antigos que ninguém mais tem vontade de estudar. Não há o que estudar em mim, o mistério se foi, os olhos de ressaca sobraram por pura melancolia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Preenchi meu corpo com rabiscos porque queria que doesse de uma forma menor do que todos os outros dias. Mas nunca doía. A agulha rasgando minha pele era um arranhão e todos os outros dias um acidente fatal. A água fervendo em dias de verão queimavam e me sufocavam por horas. Minha pele, vermelha e com pequenas queimaduras continuou a se curar após um ou dois dias. Minhas unhas enfiadas nas minhas coxas e barriga cicatrizaram logo em seguida. Meus olhos perdiam o inchaço na manhã seguinte. Mas e eu, por que deus, eu não cicatrizava nada do que doía por dentro? Por que o vazio nunca foi preenchido? Nem mesmo agora.</span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">As pessoas se perderam nos meus labirintos. Hoje busco refazer seus passos, reencontrar pistas nas esquinas de mim, mas eu estou seca e não há mais labirinto nenhum. Estou parada no centro, olhando cada milímetro pela centésima vez no dia, e garanto mais uma vez meu oco. Um grito mudo sai do que restou de mim, com uma esperança tão mínima que não deixa a palavra sair da minha boca. E como em um filme eu vejo todos seguindo seus caminhos, com rotinas e companhias, eu vejo o riso sair de suas bocas mas eu não escuto mais. Meu riso morreu, e com ele tantas outras coisas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Estou aqui, como quem tivesse sido nocauteada, mas a agressão veio das minhas mãos. Os arranhões foram meus, os tapas e socos vieram dos meus ossos inchados. </span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Estou sem forças, sem coragem para pedir que me colem, porque o dano é irreparável.</span><br />
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Espero a contagem final (t</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">alvez a minha própria). </span></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-87387582805936227122016-10-02T15:57:00.000-07:002016-10-02T15:57:39.067-07:00Impasses<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://67.media.tumblr.com/e7fd64612951a77a1603505728d6e51d/tumblr_o12in3Mkqg1sy9j3to1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="478" src="https://67.media.tumblr.com/e7fd64612951a77a1603505728d6e51d/tumblr_o12in3Mkqg1sy9j3to1_500.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Queria te contar um segredo sussurrado no seu ouvido nesse minuto que agora acabou de passar. Eu queria seguir com você o seu caminho naquela hora que passou e eu não fui. Queria marcar na pele o teu toque naquele momento que eu não te toquei, e recolhi a minha mão no minuto em que virava para me dizer sobre o clima. Estivesse chovendo granitos, eu não saberia te dizer. Para mim estávamos naquele grau inexistente, trancados em nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
Queria ter te contado mais sobre umas coisas todas que eu nunca digo, mas você falou e eu não interrompi. Queria ter grudado em teus calçados e seguido teu caminho porque eu não sabia para onde ir. Queria te perguntar para onde ir, se eu devo ir, igual àquela música que você nunca ouviu. Queria ter cantado para você aquele álbum todo que você iria odiar. Queria te mostrar a coletânea que você jamais ouviria mas já é completamente sua na minha cabeça. Quando senti você se aproximando queria ter me virado e dito alguma coisa que você não responderia. Eu queria um texto menos repetitivo, mas você não saberia me ajudar. Queria ter lido qualquer coisa dessas que eu escrevo pra você, mas você não leva nada disso a sério. Eu também não. </div>
<div style="text-align: justify;">
Queria te contar do teu cheiro que não ficou grudado na minha mão depois daquela despedida. E recontar todos os fios de cabelos presos na minha blusa que eu não lavei por motivos óbvios e doentios. Chorar as minhas dores todas nos seus ombros de algodão. Abraçar seu peito de plástico. Cheirar o seu cabelo de mentira. Deitar no seu colo de pedra. Queria te suplicar para existir em todas as dimensões possíveis e impossíveis, te ver desenhado em 2D, 3D ou qualquer outra em que fosse possível alcançar sua mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Queria te dizer que esse texto é um presente que eu nunca embrulhei, mas você rasgou o pacote todo antes da entrega. Você roubou minhas palavras antes que eu abrisse a boca. Interpretou o texto ainda não escrito. Derrubou as muralhas invisíveis que construí e roubou a torre. Você achou pedaços de mim e refez meu bordado de retalhos à tua mão e vontade. E eu queria muito te dizer que eu gosto da forma como os tons de verde se misturam com o marrom nas colinas de mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-45435464513422786902016-09-09T18:58:00.000-07:002016-09-09T18:58:48.059-07:00Entre seus dedos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/256917181/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="https://data.whicdn.com/images/256917181/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Se eu fosse começar esse texto com uma metáfora eu diria que sou como uma bailarina que dança presa naquelas pequenas caixas de música. Mas não há caixa alguma com músicas irritantes de balé. Sou essa miniatura de mim, tropeçando nos próprios pés, que caminha por entre seus dedos e a melodia é a sua voz ditando meus passos. A bailarina se mantém naquele pequeno círculo que a impede de reinventar sua dança, e nesse ponto agradeço por poder caminhar até o teu pulso com uma liberdade falsa. Porque enquanto sou livre para ir, também sou livre para cair. E o precipício dos seus dedos parecem sempre tão altos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Estou seguindo suas palavras, que me dizem para caminhar sempre em frente, e sigo, cega, ignorando meus receios e medos. A altura é cada vez mais alta e a voz às vezes falha. M</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">e vejo pendurada na ponta da sua unha. Eu tenho um medo tão grande da queda, peço baixinho que você não me deixe cair, mesmo sabendo que eu já não posso mais seguir caminhando. A sua pele apresenta marcas que não reconheço, as minhas pegadas são apagadas toda semana e eu já não consigo me encontrar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas eu não quero cair, não me deixa pular. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu peço, mais uma vez e de novo, para caminhar por entre a sua pele. Reconhecer um pequeno risco meu naquele canto, ou pelo menos querer acreditar nos desenhos que faço nas pontas dos teus dedos. Estou aqui, sentada, esperando que a sua voz me diga mais uma vez o que fazer. Mas o volume está cada vez mais baixo, tenho medo. O silêncio me atordoa. Me diz, de novo e mais vez, qual o caminho seguir. Eu vou, com os tropeços de uma não-bailarina, acompanhar a música das suas palavras e dançar por entre teus dedos, mãos e braço, mais uma vez. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><b>A metáfora já era minha muito antes de ser sua.</b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-56006601399341943202016-08-28T16:24:00.003-07:002016-08-28T16:24:56.877-07:00me colore<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://66.media.tumblr.com/7f4918a78a225b050951d3edb630f1b7/tumblr_nisopn9vgA1sulnzno1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="414" src="https://66.media.tumblr.com/7f4918a78a225b050951d3edb630f1b7/tumblr_nisopn9vgA1sulnzno1_500.gif" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Me pinta naquela folha que você esconde e sempre recorre no fim da tua agenda. Me rabisca com pressa naquela última folha do seu caderno. Desenha meu rosto com inúmeras linhas, borra o formato do meu pescoço e redesenha minha boca de acordo com a memória do meu gosto. Troca a caneta e reforça os riscos dos meus olhos, faça e refaça cada um dos meus cílios, e tenta mais uma vez, inutilmente, colocar um brilho no centro. Porque eu estou olhando para você daquela forma que a sua memória fotografou.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Me tatua na tua pele com todos os defeitos de um tatuador relaxado. Me deixa gravada na tua pele como um erro, mas sem remorso. Mas me coloca no teus braços para que me carregue todos os dias. Me leva com você como naquela fotografia que eu não te entreguei. Reforça os traços da minha pele que você ainda não desenhou. Rasga aquela última folha do seu caderno em branco e escreve qualquer coisa inútil que não seja minha. Pinta aquela sua tela em branco em que eu não colori. Revela aquela nossa foto em que eu não estava. Lava sua pele naquele local que tatuei com meu toque. </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Me deleta mais uma vez como deletou aquela nossa mensagem. Me apaga de cada memória que tem desses nossos caminhos tortos. Me limpa dos seus poros que ainda guardam meu cheiro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu vou me recusar a sair de cada célula. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu vou continuar marcada no papel. A tela ainda mantém o brilho dos olhos que você tentou apagar. A foto ainda tem a minha sombra que você não quis revelar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Pega aquela sua agenda, segue as marcas que eu deixei e me refaz. Monta o quebra-cabeça que virei e me ensina de novo a andar sob seus comandos e traços. </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Me colore com as suas cores para que eu possa te enxergar em cada esquina em que seu lápis não me alcançar. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><b>Eu te escrevo com palavras enquanto espero que me faça em cores. </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-71430935520349824622016-08-08T19:07:00.000-07:002016-08-08T19:07:53.056-07:00Seis e quatro<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijomYQTWpWLy5ZoG9jTbzd8JqIsKHl-9sqPWofu8XMa1cV8QnAwqaYH86A9QOZkXgiNld4nurmNwYqH-mizJlAsU9srLQ54MqQDoXzCES7U3dZmv7z2RfhhmTYBOm7t57FPTwpwSR0B1L8/s1600/postbog.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="472" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijomYQTWpWLy5ZoG9jTbzd8JqIsKHl-9sqPWofu8XMa1cV8QnAwqaYH86A9QOZkXgiNld4nurmNwYqH-mizJlAsU9srLQ54MqQDoXzCES7U3dZmv7z2RfhhmTYBOm7t57FPTwpwSR0B1L8/s640/postbog.png" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A luz ainda distante. O silêncio alto das ruas. Passos fugitivos dos estabelecimentos. O relógio bate seis horas. A luz mais próxima. O silêncio gritante da buzina. As pessoas param. O relógio bate seis horas. A luz mais próxima. A buzina gritando no silêncio. O relógio bate seis horas. A luz em mim. O relógio bate seis horas. Os passos congelam. A luz congela numa distância próxima. Há um espelho na esquina da frente, esperando para que eu o encontre. É o destino, estou no meio do caminho, é preciso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Enxergo o meu reflexo borrado. São as lágrimas. E eu disse que não iria. Não hoje. A menina do espelho grita, mas eu não a escuto. Bate com os pulsos no vidro, mas não posso alcançá-la. Não há como libertá-la. Os passos ao redor congelam, estamos sós. Quero quebrar cada pedaço daquele vidro, deixar com que ela saia livremente e pare de chorar. Pelo menos por hoje. Mas minhas pernas se recusam, e me vejo no meio do caminho, observando seu desespero.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Meu coração espreme. Sinto a dor ardente de algo me comprimindo. O ar se vai aos poucos. Vejo uma menina de fora. Estou presa dentro da caixa de vidro. A menina me observa e repete meus atos, lutando para sair. Mas ela está livre. Grito, mas não me escuto. Quero avisá-la que ela pode seguir, mas deve tomar cuidado com os carros, estão tão próximos e ela parece não ver. Ela parece não querer ver. Menina, não faça isso. Desesperada bato com as mãos no vidro para alertá-la. Eu preciso salvá-la de si mesma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A menina do reflexo desespera-se e eu sinto que preciso chegar até lá. Há uma luz a esquerda muito próxima, algo me diz ser perigoso, mas não me importo. Aquela dor, aqueles gritos surdos, você não os ouve? Você não a vê? Olha, na sua frente, moço, tem uma menina ali você não está vendo? Eu preciso ir até lá. Eu preciso me salvar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O relógio bate seis e um. A luz está em mim. A buzina grita alta e me atordoa. Sinto a colisão. Vejo o céu alaranjado, é fim de tarde. O pôr do sol é sempre tão lindo. Quero deitar no asfalto quente de fim de tarde e esperar a noite. Talvez seja lua cheia. Eu sempre gostei da lua cheia. Seria bonito. Mas. Alcanço a outra margem. A colisão foi um tropeço. A luz chegou próximo, mas passou. A buzina foi o alerta que eu ouvi e desviei. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E por que não os gritos? Por que eu não ouço seus gritos? Não há mais caixa de vidro, não há espelho, não há menina. Sigo o caminho. O relógio bate seis e dois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu queria contar um segredo para a menina da caixa de vidro. O relógio bate seis e três. Sabe, às vezes eu queria que não batesse mais. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-47405513351696033102016-07-29T14:51:00.001-07:002016-07-29T14:51:36.087-07:00Não-ditos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/243810372/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="https://data.whicdn.com/images/243810372/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Olho pela janela e as árvores correm com o vento. As cores misturam-se como naquela velha paleta de tinta à óleo escondida no armário. O verde grama se mistura com o azul celeste. Não há nuvens. O sol brilha distante, sem forças, o frio ainda sobressai. Mãos gélidas. Rosto ardente. Tremo involuntariamente. Já não é possível culpar apenas o frio, a situação acaba desenvolvendo tais consequências e eu apenas confirmo que sim, é necessário ligar o aquecedor. É sempre mais fácil evitar qualquer explicação que exija que eu te mostre que.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E o silêncio grita dentre os quilômetros. Sai pelas frestas e perde-se no vazio dos campos. Tento alcançar uma sentença, uma mera palavra que possa ter ficado presa entre os espaços, mas é impossível. O vento forte as carrega e perdemos a chance. Estamos sendo engolidos por não-ditos. A ausência de palavras engasga, corrói na garganta, invadindo a alma. E aqui a gente insere uma digressão incompleta, pois o resto dessa sentença saiu naquela meia hora em que não dissemos nada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Me restaram poucas palavras para continuar esse texto. Já não sei como prosseguir. Entre nós o muro se formou, e por mais que eu queira, não consigo decifrar os algoritmos que te envolvem. Você tenta traduzir as minhas palavras, mas escondo-as novamente. É perigoso demais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Eu quero ler você. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Escondo as páginas. Rabisco as sentenças. Tento apagar, mas o vento parou e as palavras ficam. Você lê "medo" na primeira linha dos meus olhos. Nas minhas mãos está escrito "sim". Escondo as pernas e ombros. Os pés recusam-se a mover-se e exibem o "fico" como uma sentença. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu fico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Você bebe cada uma das minhas palavras, e eu transbordo em você como oceano. Da sua boca escorrem palavras, e inutilmente tento me agarrar a qualquer uma delas, mas a correnteza é mais forte. Percorro suas sentenças como sujeito principal de cada oração, mas não as roubo. Elas ainda são tão suas quando no início, e eu cada vez menos minha, me vejo descrita entre teu mar que agora vaza pela porta já aberta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Então, mais uma vez, somos levados pelo vento. Nos perdemos novamente. Você deixou que todas as suas palavras se fossem, mas as minhas permaneceram. Os lábios guardam sentenças infinitas que um dia eu fiquei de te contar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas o vento nos leva sempre embora antes da hora, e eu queria tanto te dizer que.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-21627082325219545972016-07-11T19:03:00.000-07:002016-07-11T19:03:17.598-07:00Eu transbordo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/246896898/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="428" src="https://data.whicdn.com/images/246896898/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tenho algumas horas antes do despertador gritar numa tentativa inútil de me acordar, sendo que nem mesmo cheguei a adormecer. A noite não acalma, a lua não me ouve, os ponteiros dos relógios correm as horas e eu paro. Novamente aqui. Com esse famoso bloco de notas sempre aberto no canto direito dessa tela, esperando que eu consiga deixar mais alguma coisa ir. E eu escrevo e apago, com medo de perder uma mísera letra. Eu não quero perder nada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Deixa eu ser egoísta dessa vez e engolir o mundo, mesmo sabendo que assim eu não consigo mais. Deixa eu me iludir mais uma vez que tudo isso vai passar, que é temporário e que o tempo vai curar todas as minhas dores e medos. Que a minha ingenuidade fale mais alto e pinte flores no meu destino, como uma forma de acalentar as minhas decisões e facilitar meus árduos caminhos. Porque o inverno arrancou todas as flores e folhas das minhas árvores, deixou a estrada seca e vazia. E o vazio me apavora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Me completa com seus vazios, me deixa mentir para mim novamente que tudo isso é suficiente e que eu não preciso de nada mais. Me ilude mais uma vez dizendo que de fato eu estou completa aqui. Conta mais uma vez aquelas suas histórias de futuros, me coloca na tua peça como uma personagem e cria pra mim um final feliz. Deixa eu acreditar, pelo menos por hoje, nessa noite fria de inverno, que você consegue me moldar e que eu não preciso tentar escapar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas o molde não cabe. Eu não caibo na forma já moldada. E por mais que eu tente, minhas pernas vazam. Meus braços ficam apertados e precisam mudar. A cabeça acaba de fora. Os pés sobressaem. Mas eu queria tanto. Me encolho, entorto meus braços, encurvo a cabeça. Mas não cabe. Eu não consigo mais, os braços já estão dormentes, as pernas congeladas, e a cabeça precisando descansar em um espaço dela. Por mais que eu queira tanto caber no teu molde, eu não posso fugir da minha estrutura. Porque, querido, eu não caibo em você, mas eu também deixei de caber em mim. Eu transbordo todos os dias. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Desculpa. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: trebuchet ms, sans-serif;"><b>De fato agora o primeiro texto de 2016. </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-2216534906045573332016-07-04T07:54:00.000-07:002016-07-04T07:54:31.281-07:00Em cena<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/245820305/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="538" src="https://data.whicdn.com/images/245820305/large.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Faz tempo que evito. Tranco as frases. Interrompo pensamentos. Não posso. Não será bom. É melhor deixar para outra hora. E a hora nunca chega. Há tantas palavras engolidas que agora que me permiti tenho medo do resultado. Tenho medo de deixar sentir. De transcrever aqui mais uma vez o peso que venho sentindo e tentar fazer com que você me ajude a carregar. Por favor, levanta essa alça aí do seu lado e carrega comigo. Me carrega. Me leva. Mas primeiro me ouve. Há tanto para falar. Essas frases curtas, a pontuação excessiva, são apenas um reflexo da falta de continuidade. Do medo da vírgula e a esperança de um ponto final definitivo. Mas não acaba aqui.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Eu queria te dizer tantas coisas. Mas queria respostas. Não ouvir apenas minha voz num monólogo a dois. Queria a sua presença. E talvez isso crie certos dilemas, mas no momento cabe. A presença é física, mas é ainda mais psicológica. Porque eu preciso que você veja o que se passa aqui dentro. Olha de verdade dentro dos meus olhos hoje esverdeados porque chorei. E engulo o choro nesse parágrafo porque você não merece mais lágrimas. Mas... Me perdoa. Não consegui. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nesse meu diário, eu queria te dizer que. </span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;">Tantas coisas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Estou me distanciando dessa vida. Virei o flâneur que assiste os dias pelas vitrines no calçadão do centro. Não faço mais parte dos atos, o artista sou eu mas as falas já estão prontas enquanto apenas sigo o roteiro. Não há mais emoção. O público ao redor se entedia, vai embora. Não os julgo, também queria partir. Mas como fugir de mim? Por favor, me responde. Me ajuda. Não vai embora. Não me deixa mais uma vez a encarar essa plateia vazia, refletindo a minha solidão. Você não pode ir. Eu repito pra mim que não consigo sem você, porque parece tão mais fácil assim. O meu egoísmo grita mais alto, pedindo para que você preencha lacunas que não são suas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Suas malas estão prontas, a porta ainda está aberta, e eu apenas torço para que você consiga esperar a próxima cena. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: trebuchet ms, sans-serif;"><br /><b>Esse texto é antigo, achei enquanto buscava matar um pouco da saudade que senti de tudo isso. </b></span><span style="font-family: "trebuchet ms", sans-serif;"><b>Foram tantos meses, e todos eles lotados de saudade. </b></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms, sans-serif;"><b>Espero, tanto, que seja um retorno.<br />Até o próximo. </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-58917924302864407492015-12-31T11:58:00.000-08:002015-12-31T11:58:54.332-08:00Última estação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/214836644/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://data.whicdn.com/images/214836644/large.jpg" height="424" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Esse pode parecer mais um daqueles textos de fim de ano em que elencamos as vitórias e derrotas, agradecemos a família e amigos e depois nos despedimos com um sorriso e um aceno de miss. Mas não é. Não há como elencar as derrotas e vitórias, pois a balança infelizmente talvez balance para o lado errado e omita certos fatos. Porque houveram vitórias dolorosas, que me derrotaram. E derrotas que me fizeram vencer. Não há como encontrar um equilíbrio, o número ímpar pesou demais e desconfigurou todos os meus erros e acertos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O mais triste é que fugi. Mesmo em outros períodos difíceis em que passei, continuei a me refugiar aqui, mas dessa vez foi diferente. Fugi de mim. E dessa vez é literal. A escrita passou a ser parte do cotidiano, e as reescritas, e os erros, e as revisões já não conseguiam tornar-se apenas frases bobas num bloco de notas. Era preciso escrever melhor. Reescrever. Esperar uma opinião de alguém com um doutorado ou mestrado. E ver que não estava bom também. Não acreditar nos elogios. Odiar cada ponto exagerado que sempre coloquei. Porque não é tão bom, não merece publicação, apague. E foi-se um mês, dois, três, doze. Um ano inteiro adiando as palavras, sufocando-se com não-ditos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O ano roubou de mim muito. Não há mais tantos lugares ocupados em alguns vagões, o silêncio paira na maioria e a pior parte é que não acho ruim. O silêncio é reconfortante. Desculpe a todos que se foram, e aos próximos que irão também, talvez eu devesse partir em modo solo. Mas isso também doeu. Os lugares vazios, agora vistos nesse fim do dia 31, parecem ecoar vozes distantes. Aquelas que ouvi tantas vezes, que ríamos e discutíamos aleatoriedades. Hoje são apenas ecos e sombras de pessoas que se foram, mas que ainda são vistas numa esquina ou outra, mas não há mais som. A conversa ficou muda. O lugar já esfriou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Caminho solitária dentre os meses, observando o que fiz e quem deixei. As pessoas são passageiras. As provas são passageiras. Os desesperos noturnos passaram. A vida, meu bem, passou e eu nem vi. Mas contei os seus minutos. Desde o início de 2015 esperei seu fim, e como um agouro agora chegamos ao seu último dia que lentamente se vai. Eu espero que leve consigo toda a carga negativa que pesa em meus ombros, recolha as lágrimas que escorreram escondidas entre corredores e principalmente, liberte todas palavras sufocadas. Que eu volte a escrever, que eu volte a me permitir deixar essa frase iniciar com todos esses possíveis erros que terceiros acharão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estamos na última estação, os poucos e últimos passageiros estão agora levantando-se para seguir viagem. Gostaria de dizer, numa forma de apelo, que fiquem. A viagem foi longa, cansativa, e talvez nem vejam esperança, mas eu digo sempre a piada infame da luz no fim do túnel. E como eu quero que a enxerguem, e permaneçam mais um momento. Mais um ano. O destino é inexorável, mas a gente sempre pode tentar. Afinal, estamos prestes a iniciar um novo começo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não sei como será 2016, como o blog ficará e como ficarei. Só espero de coração que continue aqui. As memórias pulsam, gritam, todos os dias. E vou tentar deixar que sejam lidas. Obrigada por continuarem, apesar dos pesares. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-11435774241633895922015-12-17T17:16:00.000-08:002015-12-17T17:16:17.735-08:00Juramento<div style="text-align: justify;">
<img height="459" src="https://41.media.tumblr.com/7708a09451eae0ee84d2cbe82ecebbe9/tumblr_nnruxgCdW21ts1n9no3_1280.jpg" width="640" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estamos na fase do nunca mais. Nunca mais deixar que a música toque e não tenha nenhum site aleatório jogando informações inúteis. Nunca mais um bloco de notas, apenas, jogado no canto da tela. Nunca mais uma escrita livre, sem normas e modelos a serem seguidos correu por esse teclado. Nunca mais libertar o que está dentro, sem esconder a lágrima que escorreu no canto direito. Nunca mais definir com pontos bem marcados as dores dos dias. Nunca mais. E por que? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Nunca mais ser livre. Nunca mais ser eu. Nunca mais ser. Porque vivo entre palavras já escritas, livros já publicados, e palavras que nunca foram minhas. Quero essas, que saem sem sentido numa noite qualquer. O sites estão fechados, a música continua alta e repetitiva, o bloco de notas sempre ao canto. E eu, mais uma vez, sentada neste mesmo quarto a escrever algo que esvazie o vazio, preencha o lotado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Vivo em paradoxos. Há tantas palavras, tantos livros, tantas falas, e eu aqui, sempre tão quieta, tão muda. Tão longe de mim. Por que? E novamente, por que? Por que se afastar tanto do que sou? Por que optar por caminhos que não são meus? Sigo trilhas gastas de passos alheios e deixo de criar aquele caminho que sempre sonhara. Leio palavras de terceiros e deixo de escrever as minhas próprias. Mas nada preenche. Nada me esvazia. Nada me completa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Pois, repito, sou completa aqui. Sou completa nesses desconexos que escrevo e reescrevo. Nesses textos que escondo tanta coisa, e fica sempre uma repetição de mim. Mas continuo aqui. Continua faltando sempre que deixo de vir. A visita fica marcada como não feita, e a ausência faz presença. A saudade, tão conhecida, dói ainda mais quando é daqui. Me loto de juramentos, e de novo, juro que volto. E prometo, mais uma vez e sempre, que as palavras estarão sempre comigo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Desculpe a ausência. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Eu sempre volto.</b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-86166938606910792442015-11-25T06:26:00.003-08:002015-11-25T06:26:57.253-08:0025 de novembro<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://thetallgiraffe.org/content/images/2015/09/domestic-vbiolence.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://thetallgiraffe.org/content/images/2015/09/domestic-vbiolence.jpg" height="404" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje não é mais uma daquelas datas em que você pode colocar a culpa no comércio, pois é o dia de comprar bombons, chocolates ou presentes para representar o nascimento de alguém. Não é o dia de ir ao mercado e comprar quilos de chocolates, nem muito menos preparar aquela festa de branco. Não. </div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje você não precisa pensar na roupa que vai usar, no presente que vai dar, ou marcar salão antes de aparecer. Mas talvez você precisa de uma base que esconda. De uma sombra escura para disfarçar. De um blusa de manga longa e calças jeans para esconder. O olho inchado, a cicatriz na bochecha, o roxo nos braços e pernas. Comprar no espelho um sorriso falso, porque ninguém precisa saber das dores que leva. Treinar o discurso de que fora um pequeno escorregão na calçada, uma queda a toa, um tropeço na rua. Tão bobo, não? Não liga, é besteira. Não vai se repetir. Ele vai mudar. Fica tranquila, eu vou me cuidar. </div>
<div style="text-align: justify;">
E se repete.</div>
<div style="text-align: justify;">
E de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não deixe que esse dia passe como apenas uma quarta feira que você tem aquela prova na faculdade ou uma reunião importante no trabalho. Fale. Exponha. Tira essa maquiagem escura dos olhos, erga as mangas da camisa, coloca uma saia. Exiba para o mundo o que é o hoje. Pelo o que você luta. </div>
<div style="text-align: justify;">
E lute por si mesma. Lute por todas as outras. Lute por nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por favor, fale com a sua filha, irmã, tia. Mas fale também, e principalmente, com seu filho, com seu marido, com seu namorado. Porque é preciso que saibam, é preciso que lutem, que respeitem. Hoje é um dia que você sente aquele aperto no peito por todas que sofreram e sofrem diariamente, mas é também o dia que você ensina ao próximo que nada, NADA justifica uma agressão. Que uma mulher não merece apanhar por nenhuma razão. Que nenhum ser humano merece ser agredido, espancado, estuprado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Pois assim, você ensina o respeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
Você ensina aquela mulher, sempre escondida em roupas longas, a lutar por si.</div>
<div style="text-align: justify;">
E luta com ela. Luta por ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
Luta por mim, por você, por nós.</div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>25 de novembro - Dia contra a violência doméstica!<br />DENUNCIE</b></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-63915005198760787642015-11-12T17:13:00.000-08:002015-11-12T17:13:27.503-08:00A singularidade dói <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://36.media.tumblr.com/6609a916cf9d13a7590d384388f82358/tumblr_nsi6rsJ16c1s7yhzpo4_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="https://36.media.tumblr.com/6609a916cf9d13a7590d384388f82358/tumblr_nsi6rsJ16c1s7yhzpo4_1280.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Uma caminhada sozinha. Uma sala vazia. Uma cama de solteiro. A vida sem pares, a vida em <i>uno</i>. Eu. Um monólogo das dificuldades diárias. Uma auto retrato do caos. Um texto escrito com um único par de mãos. A carteira vazia ao lado. A caixa de entrada vazia. A campainha muda. A singularidade toma proporções absurdas, não há um aviso alertando-nos para determinados extremos. Simplesmente um dia, naquela manhã ruim, com uma tarde terrível e a noite catastrófica, a dor fica engolida na garganta. O desabafo é descrito em palavras sem destinatários. O caminho segue silencioso com o barulho de apenas um par de calçados e lágrimas silenciosas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E vem outro acontecimento. A alegria enche o peito com alguma conquista mínima, que deseja ser compartilhada, mas fica. Permanece presa entre os muros. Ninguém entra, eu não saio. A solidão toma proporções absurdas. A felicidade de antes logo se esvai, quem é que vai ouvir? Quem vai rir daquela história que inventei? Quem vai me acompanhar em meus caminhos? Mas a quem eu ouvi? De quem eu ri? Quem acompanhei por esses caminhos tortos de todo dia? O que deveria ser compartilhado torna-se mais um segredo guardado entre muros. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">São apenas trocas. Quando se cansa das pessoas, também cansam-se de você. Os muros aumentam. Os passos pesam. As músicas tornam-se altíssimas. As leituras vem em quilos. Porque é muito melhor desligar-se, mergulhar em universos alheios. Afinal a realidade é tão fria. A singularidade dói e o espelho se recusa a mostrar o resultado final. Há um medo enorme de ver o reflexo único e distorcido. Porque eu não quero ver. Não quero reconhecer os erros, as cicatrizes, os olhos inchados de noites solitárias. Não quero desligar a música, largar o livro, e encarar o maldito abismo de mim. </span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-5982240097542484472015-11-09T06:04:00.000-08:002015-11-09T06:04:45.797-08:00Devaneios<div style="text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS8_JGcP_-MRWgxy51xPbwz9mQYW9dvv_5J5kPVJVI1hzoVz5dIJXWwT2ysnWUCgjO2wS5mSd1Q6PhDRhWe9nQ69fwHeYc8Q6FnYDP5TRzsdg35nzVgA1AJviO6iCERV1v8CgGK0OXO5oF/s1600/passagens.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS8_JGcP_-MRWgxy51xPbwz9mQYW9dvv_5J5kPVJVI1hzoVz5dIJXWwT2ysnWUCgjO2wS5mSd1Q6PhDRhWe9nQ69fwHeYc8Q6FnYDP5TRzsdg35nzVgA1AJviO6iCERV1v8CgGK0OXO5oF/s400/passagens.jpg" width="242" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quero deixar o disco tocando enquanto você vai na cozinha e prepara alguma coisa boba pra gente. Chegar de fininho na soleira da porta, te ver dançando desajeitadamente ao som da música com os olhos fechados. E querer estar ali, nos braços metafóricos que você segura enquanto roda pela mesa e quase esbarra no fogão. Rir baixinho, sem que você perceba. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Para não atrapalhar. Para não acordar. </span></b></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quem está agora de olhos fechados sou eu, e imagino nós. Ali mesmo, no meio dessa cozinha pequena e com poucas coisas, um jogo de panelas de três peças e uma dupla de talheres apenas. O jarro de sempre, a mesa de todas-refeições, a tolha bonitinha daquela promoção. E a gente está ali, enquanto a música vem baixinha da sala encher aquele cômodo. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Preenchendo nossos corpos.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Você me puxa pela mão. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Surpresa abro os olhos.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estamos ambos dançando entre a mesa da cozinha, trombando na tampa do fogão e quase derrubando a panela do balcão. </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A música já acabou faz tempo, mas aqui dentro ainda bate um ritmo único. </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Se o tempo nos impede de postar o de sempre, que eu possa mergulhar nos meus devaneios e gravá-los aqui, vez ou outra. Vez em sempre. E realizá-los nem que seja nessa folha de papel.</span></b></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-64893929888389019792015-10-28T18:18:00.001-07:002015-10-28T18:18:04.142-07:00Três botões<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/52194679/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://data.whicdn.com/images/52194679/large.jpg" height="426" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Empresta teu peito mais uma vez para que eu termine essa noite com teu cheio preso em mim. Me deixa contar e recontar os botões da tua camisa enquanto você me fala daqueles teus problemas da semana. Desculpa se posso não estar ouvindo, se a palavra saiu meio vaga e a cabeça voa longe, mas é que enquanto estou aqui, tô pensando nesses três primeiros botões. Tô pensando na linearidade ridícula que me fez pensar em tanta coisa que foge de linha, de rima, daqui. E faço refúgio em mim. Porque é a falta em mim que grita vez em sempre, mesmo aqui, recontando teus botões e ouvindo tua voz de fundo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Deita mais uma vez aqui no meu colo, enquanto percorro os dedos pelos teus cabelos e a gente ouve aquela música bonitinha que descobrimos naquela viagem. E deixa ela tocar repetidas vezes, porque eu relembro da viagem, da estrada, da vontade grande, gritante, de ir. O verbo de cinco letras gravado na pele, com tanta vontade de ir e me levar. Vamos? Vem comigo. Quero te levar no bolso a cada canto, mesmo que não me encontre em canto algum. Porque me perdi entre os quilômetros, perdi certos pedaços e ganhei novas peças. Você me ajuda a reorganizar o que restou de mim?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Porque eu queria mesmo apenas suas mãos aqui, para que fosse mais fácil levantar desse mundo que me engole vez ou outra. Me tirar desse fosso que cada vez me engana, pois não há fundo algum. Mas é a sua mão aparecer ali na borda que eu consigo, é fácil. Você me liberta dos abismos de mim. E meu deus, menino, é tão difícil sozinha. Já foram tantas escaladas, tantos machucados, e pensar que precisava apenas de uma mão... E um braço, um colo, um cafuné de domingo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ainda tropeço em pedras espalhadas, caio em buracos mal cobertos e despenco em pequenos desfiladeiros. Mas são apenas três botões, lembra? É mais uma história tua que eu não ouvi, mas que me salvou de mim. Obrigada. E sim, entendi, de fato incrível o que dissera. O assunto não lembro, o enredo ficou vago, mas eu só queria te dizer que as palavras em si serviram de consolo pra minha alma que vez ou outra precisa ser ouvida mesmo sem dizer nada. E você, menino, me ouve sem que eu precise dizer uma letra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Queria tanto voltar, mas as palavras andam fugindo de mim... </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-73774011938353724912015-10-03T13:11:00.004-07:002015-10-03T13:11:49.236-07:00Abrir o sinal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/172848636/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://data.whicdn.com/images/172848636/large.jpg" height="426" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É meio de semana, as coisas andam meio monótonas e a ausência das palavras me sufoca. Estou regulando cada letra para que nada escape, não posso deixar que as coisas simplesmente vazem. Consegui mantê-las sobre controle durante estes últimos meses. Vez ou outra, em uma noite difícil, foi impossível impedir que seguissem teu caminho. Mas foram poucas vezes, juro. Deve ter visto meus rastros nas madrugadas, as pegadas na varanda da tua casa, o bilhete no correio, o sussurro na alma. E hoje eu queria gravar cada palavra dessa no caminho que percorro dentro de você, deixar gravado no seu coração aquelas palavras que jamais disse, mas são suas. Somos. As palavras sempre foram e eu também. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O caminho está cada vez mais esburacado, não sei quem anda passeando pelas tuas ruas, mas há problema. As nossas estradas já não são mais facilmente acessíveis e sinto que agora há câmeras e sinaleiros demais. Ninguém precisa saber dos momentos em que busco você e ultrapasso todos os limites. Sejam metafóricos ou literais, a velocidade é alta e confesso que às vezes não estou completamente sóbria de mim. Não é preciso álcool, essa visão embaçada são das lágrimas que caem sem que eu perceba, e a voz um tanto quanto enrolada é a minha falta de jeito com tudo isso. Porque mesmo percorrendo esse caminho por anos ainda é difícil não me deixar levar. E novamente, eu queria que isso fosse literal.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Me leva nessa tua estrada, não me deixe plantada mais uma vez em um acostamento esperando algum sinal. Normalmente tem estado amarelo, e eu nunca entendi muito bem sua função. Essa espera para um vermelho ou verde me dilacera, mesmo sabendo que sou eu que estou ali apertando a troca de cores. Ainda não pude apertar um vermelho e talvez nunca seja capaz. Posso controlar minhas palavras, apagar certos registros, mas jamais desistir do teu caminho. E mesmo que no fundo anseie ardentemente por um verde, percorrendo uma estrada tranquila até o nosso destino, há o tempo interferindo na nossa equação. Ele precisa ainda percorrer um pouco mais nesse gráfico, ou sabe-se lá o nome que tenha. Deixo pra você corrigir um dia, o texto tá no teu correio. Porque essa foi mais uma noite que te procurei, percorri todos os buracos dessa estrada, só para buscar um pouco de você. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Preciso regularmente alimentar-me da esperança de um dia o sinal verde aparecer e finalmente percorrermos tantos outros caminhos. Sem freios, sem multas, sem vigilantes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Que saudade daqui. </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-86604085119710184112015-09-08T19:27:00.000-07:002015-09-08T19:27:35.411-07:00Bilhete<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://data.whicdn.com/images/175497159/large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://data.whicdn.com/images/175497159/large.jpg" height="476" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Esse é mais um bilhete que eu queria deixar na porta da geladeira, colado no teu guarda-roupa ou no espelho do banheiro. Porque você precisa ler. É a minha angústia descrita em poucas linhas, desgovernadas e sem nexo. É o meu medo de tudo que me engole e digere. É a ausência fazendo presença em todo lugar. E talvez isso seja de uma música ou poema, mas isso é apenas um bilhete então, por favor, aceite. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Leia como quem ouve a minha voz chorosa de sempre, falando entre soluços, com palavras engolidas e frases pela metade. Porque eu nunca sei contar o que se passa. Eu não sei deixar explícito o que me dói. A vida me dói tantas vezes. A cada fôlego uma pontada. A expiração é um tormento. A inspiração ainda mais. Porque o mundo pesa. O mundo caiu nos meus ombros e, querido, não consigo sozinha. Preciso da sua força. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Acende a luz, olha pra mim. Mas me veja realmente e não apenas me enxergue. Repara nos danos e cicatrizes que o mundo causou. Os ombros já roxos, a coluna torta, a cabeça confusa. Porque são tantas pessoas, tantos lugares. O mundo é grande demais, e eu sou apenas uma menina que a Janis Joplin uma vez cantou. Sabe, a <i>little girl blue</i>. E eu vou contar meus dedos mais uma vez, contar e recontar as minhas tristezas e dificuldades. Mas eu preciso que você segure minha mão. Eu preciso da sua força em cada número. Em cada fase. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Era para ser apenas um bilhete, mas você sabe como sou. Eu não consigo. Não tem dois pontos que explique o que me dói, atormenta e dilacera. Não tem ponto que finalize minha angústia. Mas eu queria que tivesse você em cada vírgula. Então, por favor, não esquece esse bilhete. Tá na sua casa, tá no seu quarto, tá em você. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu estou. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Sempre. </span></div>
</div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Com excessos,</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>sempre sua.</span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-91371899784352411542015-08-10T13:37:00.000-07:002015-08-10T13:37:54.670-07:00Presa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJi6ntEmhmpJSTBcmVZ-ZSM9o-omKj4xEVGgQorUqLbxkG-vhIyqqvCPItX_qPg_lsNyzUcg4DCar1mHBhyphenhyphenfPCY_-enC1FfM5zRYzIt-akxAW4r3tiOGb0UEuX50MpyuwLtKEiJq3gy2Fc/s1600/postpresa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="444" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJi6ntEmhmpJSTBcmVZ-ZSM9o-omKj4xEVGgQorUqLbxkG-vhIyqqvCPItX_qPg_lsNyzUcg4DCar1mHBhyphenhyphenfPCY_-enC1FfM5zRYzIt-akxAW4r3tiOGb0UEuX50MpyuwLtKEiJq3gy2Fc/s640/postpresa.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu tô com uma saudade danada disso tudo que me corrompe, me descreve e me entorpece. Da falta de correções e das abundâncias de digressões entre linhas e pontos. De ignorar estes comentários corretores das minhas ideias. De pular espaços desnecessários. De encurtar períodos por puro prazer. De alongar aqueles que nem deveriam existir por pura diversão. De rir. De contar aqui repetidamente das noites difíceis que tenho tido, das mesmas falácias aos travesseiros e as mesmas músicas a tocar repetidamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não quero discorrer sobre meus dias. E foi engraçado essa última sentença porque na realidade havia escrito que de fato queria. Mas o fato mesmo é que não quero. Não quero repetir aqui a inércia da semana, a felicidade calculada das sextas, sábados e domingos, o cansaço do mês e a ânsia para o novo ano. Que venha tudo novo, de novo, e logo. Porque o relógio corre enquanto permaneço aqui. Parada. Tic tac. Ainda aqui. Tic tac. Meu deus, se foram quase vinte anos! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quero agora, de fato, desvendar a angústia entalada no meu peito que sufoca diariamente. Dessa vontade de partir, de chegar, de desvendar-se. De descobrir-se. Onde fui parar? Onde me escondi no meio dessa rotina que me engoliu? Já não existo sem regular os horários, sem os despertadores, sem as anotações de trabalhos para fazer. A semana não passa de um check in de tarefas, o mês não deixa de ser um acumulador de pontos para o fim do bimestre que, deus, não chega. O que sou além disso? No que me tornei?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Esse é um texto sem sentido, sem reflexões maduras, sem amor. Porque até o amor escondeu-se naqueles dias pré calculados. E não que eu não goste, não que não queira, na verdade quero muito. Quem dera eu pudesse ter todos os dias como os tais calculados. Mas aí viraria rotina. E o que eu mais gosto disso tudo é que não é. De rotina já basta o trabalho, a faculdade, a tortura diária de viver. Deixa para os finais de semana a falta de horário, o compromissão não marcado, aquele tédio bom dos domingos, o viver dividido em dois.</span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não houve releituras, não há uma correção da paragrafação ou do léxico. Me limito a deixar aqui todo o meu cansaço como desculpa da ausência. E a minha saudade, a eterna companheira dos meus dias, minha saudade interminável de deixar-me descrita aqui. </span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Saudade de escrever. Saudade do blog. Saudade de viver fora de metas e prazos.</b></span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>Eu volto, juro. </b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8357031265039101744.post-19171178158665547212015-07-23T14:18:00.000-07:002015-07-23T14:18:44.491-07:00Nosso filme<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4ydxUOUZgU7SfvGQ-Vf1pHuK0DYgRh9R5h-ZeOXqvaISnw2hfTZMd9E7XiSe5Sl5nS6yGg-1djMj15G8D_LSPjxuL3QYq8SdRE42pjErPfHj33RbG-5QkKpfIRSf2GxSKwbKd0Ui6o2Jc/s1600/DSC02108.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4ydxUOUZgU7SfvGQ-Vf1pHuK0DYgRh9R5h-ZeOXqvaISnw2hfTZMd9E7XiSe5Sl5nS6yGg-1djMj15G8D_LSPjxuL3QYq8SdRE42pjErPfHj33RbG-5QkKpfIRSf2GxSKwbKd0Ui6o2Jc/s640/DSC02108.JPG" width="640" /></a></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu vou te contar aqui um segredo que guardo como quem guarda um pedaço de si. É muito mais que um tesouro e muito menos que ouro. É muito mais de mim do que de você. Mas a culpa continua sendo sua da mesma forma, porque não há mais nada que prenda essas palavras aqui dentro e me impeçam de divulgar essas coisas todas. E eu não devia, meu Deus, como eu não devia estar escrevendo nada disso. Não que não mereças, não que seja proibido, mas é tão particularmente meu que me dói abrir assim as lacunas de dentro.</span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E hoje eu te confesso todo o meu medo do que é isso, do que está sendo essa coisa toda que não teve nome até poucos meses. Mas já se foram anos, e meu bem, eu nunca lidei muito bem com longas durações. É como se tudo que existisse pra mim tivesse seu prazo de validade antes dos 12 meses, sabe? A gente se renova e eu acabo levando em todos os sentidos esse negócio de mudanças. Mas dessa vez passou. Tava calculando aqui nossas contas, e já vão fazer quase dois anos. Talvez nem seja muito, talvez eu esteja apenas assustada e receosa com finais que nem chegaram. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E esse é o meu medo. Eu trago o fim pra tudo antes do "the end". Os créditos nem subiram e eu já tô querendo pular para a tela preta, seguir o próximo roteiro, elencar novos personagens. Só que dessa vez eu queria que a gente filmasse uma saga, que seja de três a sete filmes no mínimo. Com mais ou menos duas vidas de duração cada um. Porque eu não queria ter que ver nenhum crédito no fim dessa história, e muito menos recomeçar uma nova.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Essa segue um roteiro próprio. Nunca precisei escrever de fato uma linha, pois já parecia escrito em alguma linha do destino e a gente só segue. E eu quero seguir ainda muitas milhas nessa tua estrada. Sem pressa, deixa o carro parado aí e a gente continua caminhando para alongar ainda mais o nosso caminho. Porque eu quero detalhar cada rua, cidade e parada com você. Te contar os detalhes de mim, como quem conta uma história em terceira pessoa, pra você não entender de início que isso é sobre eu e você. E meu medo de estar de fato aproveitando demais a nossa jornada. </span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>23.</b></span></div>
Lara Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/15727243301645822102noreply@blogger.com0