julho 12, 2015

Ainda domingo


O fim do domingo é sempre amargo e repleto de ansiedades. O silêncio que paira e grita. O vazio que preenche e transborda. A multidão correndo e a solidão. A cama desarrumada, a gaveta mal fechada, a toalha pendurada na porta e os resquícios do fim de semana jogados pelos cantos. A música alta que toca baixinho dentro da gente. Os planos mal organizados empilhados alfabeticamente na cabeça. O caos preenchendo a quietude. É só mais um domingo. Daqueles que não foi nublado mas o sofá permaneceu quente, a porta nem abriu, a TV continua ligada. 
A ansiedade do amanhã percorre minhas veias, inquieta minha cabeça e incomoda meu sono. A saudade das horas chega em minutos após a partida, e logo vem aquele receio da semana que chega. Há o receio da caixa de entrada dos emails, a ida ao trabalho, a faculdade, a semana de provas, o material não lido, o material relido e não entendido, a cabeça cheia, a falta de tempo. A ausência. O medo da ligação que não vem, da mensagem não respondida, do encontro desmarcado. Da falta de tempo. 
No meio do estudo há sempre uma brecha, no caminho para o trabalho toca sempre aquela música, na faculdade há aquele livro que a gente leu. E é engraçado que no caminho eu passo por aquele banco e a correria me impede de sentar ali mais uma vez. O celular toca e não posso socorrer a bolsa. A mensagem permanece não lida porque o parágrafo não acabou e o tempo é curto para a reescrita. O trabalho de quinta atrapalhou o encontro.
O mundo me engoliu.
Mas ainda é domingo. Ainda tem um pouco do seu perfume que ficou em mim mais uma vez. Ainda tem aquela flor de sábado. O ticket do restaurante de sexta. A piada de quinta continua me fazendo rir. A caminhada de quarta ainda faz doer minhas pernas. O casaco continua molhado da chuva de terça. A bicicleta continuou pra fora desde o encontro da segunda. A saudade continuou a mesma, desde aquele domingo até esse. E continuará no próximo, e no seguinte. 
Ainda é domingo, a rotina me grita e eu continuo querendo ouvir apenas a sua voz. Dita pra mim meus compromissos, faz aqueles barulhos engraçados e depois me diz que era tudo brincadeira, que na verdade houve um cancelamento de última hora. Porque mesmo sendo ainda domingo, há o receio da rotina emudecer sua voz, cancelar nossos encontros, apagar o seu contato. E eu não quero nunca desligar-me de você. 

Ainda é domingo, mas a segunda já grita e eu não quero ouvir. 

Um comentário:

Bruna Barrêto disse...

Fazia muito tempo que eu não lia um texto seu, e sua escrita só faz melhorar cada vez mais. Parabéns!